sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Por que alguns pacientes são chamados de Borderlines?

Ailton Bedani - Psicólogo Clínico de Orientação Reichiana






ailton bedani
Inicialmente, o termo "borderline" foi utilizado para designar indivíduos que não teriam alcançado uma clara e sólida definição estrutural  (vários autores postularam, então, que os borderlines não podiam ser considerados nem como típicas estruturas neuróticas, nem como autênticas estruturas psicóticas). O indivíduo teria ficado no meio do caminho e, por isso, seria um borderline, um fronteiriço, um semi/meio-neurótico ou um semi/meio-psicótico, ou, ainda, um  "perverso" (ou um quase-"perverso"). Felizmente, esse ponto de vista foi redimensionado ao longo do tempo (embora o termo "borderline" tenha se popularizado) e alguns pesquisadores começaram a demonstrar (teórica e clinicamente) a existência de um "espaço" específico, próprio, distinto de outras categorias: o território borderline. Não uma neurose malfeita, nem um disfarce para uma autêntica psicose, nem uma psicopatia. Assim, ao menos para alguns psicopatologistas, o "território borderline" passou a ser reconhecido como uma "pátria", como uma "estrutura", como algo que possui uma "identidade". Pois, até então, era como se uma série de indivíduos, falando uma língua bastante estranha porém não de todo incompreensível, fossem ora confundidos com cidadãos de outros territórios, ora tidos como habitantes das fronteiras, mas nunca dignos de possuírem seu próprio "território".
Ao mesmo tempo, alguns terapeutas perceberam o sério risco de o território borderline transformar-se em um "saco de gatos" que, por comodismo e falta de rigor na ação do diagnóstico, passaria a conter toda uma série de manifestações patológicas que pertencem, claramente, à outras categorias.
Por outro lado, presenciou-se e ainda se presencia, no que é para nós o "território borderline", o freqüente surgimento de novas categorias psicopatológicas, algumas delas sendo "novas" apenas para os que julgam estar descobrindo algo realmente inédito. Aos olhos dos que estudam o funcionamento borderline, tais categorias, muitas vezes, nada mais expressam do que fenômenos há muito conhecidos e diretamente relacionados aos processos de descompensação das "estruturas borderlines".
Atualmente, as últimas versões dos dois grandes sistemas classificatórios que se pretendem ateóricos - o DSM-4 e a CID-10 -, utilizam a expressão “transtorno de personalidade borderline” para designar um  indivíduo que, anteriormente, fazia parte da “grande massa borderline”. Em outras palavras, o termo “borderline” foi, inicialmente, utilizado em um sentido amplo (com conseqüentes imprecisões e até mesmo abusos), e, agora, tem sido reservado a um tipo específico de distúrbio de conduta.
Complicado, não? Pois é. Parece que essas questões terminológicas e conceituais são tão complexas quanto os próprios pacientes fronteiriços. E as dificuldades aumentam ainda mais, quando refletimos sobre os problemas que decorrem de se tentar construir sistemas pretensamente ateóricos (como o DSM-4 e a CID-10) que, embora se mostrem descritivamente mais precisos a cada versão, pouco nos ajudam a entender a pessoa, o ser humano borderline em sua ampla complexidade.

Ailton Bedani é psicólogo clínico de orientação reichiana e membro-diretor da Associação Wilhelm Reich do Brasil Ailton Bedani é psicólogo clínico de orientação reichiana e membro-diretor da Associação Wilhelm Reich do Brasil

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