Segundo
a obra “Dicionário de Psicanálise (Roudinesco e Plon) o termo foi
introduzido na nosografia psiquiátrica alemã em 1842 por Johann
Christian Heinroth e a paranóia tornou-se, ao lado da esquizofrenia
e da psicose maníaco-depressiva, um dos três componentes modernos da
psicose em geral.
Caracteriza-se
por “um delírio sistematizado, caracterizado pela predominância da
interpretação e pela inexistência de deterioração intelectual”.
No
“Vocabulário da Psicanálise” de Laplanche e Pontalis encontraremos a
definição desse quadro descrito pela psicopatologia psicanalítica como
uma: “Psicose crônica, caracterizada por um delírio mais ou menos
bem sistematizado, pelo predomínio da interpretação e pela ausência de
enfraquecimento intelectual, e que geralmente não evolui para a
deterioração.”
Freud desde o início de seus estudos sustentou a separação existente o quadro paranóico de tantos outros quadros delirantes e inclui na paranóia, não só o delírio de perseguição, como erotomania e delírio de ciúme e o delírio das grandezas.
A
análise feita por Sigmund Freud a partir do livro de memórias publicado
pelo juiz Daniel Paul Schreber se tornou uma referência histórica no
campo da psicopatologia. Freud evidenciará as questões envolvidas no
delírio de perseguição em sua análise sobre o caso e reconhece em seu
delírio uma tentativa de superar conflitos em relação ao seu complexo
paterno. A paranóia assim, segundo a conclusão de Freud, seria um
mecanismo de defesa que se dá pela negação e projeção da atração que o
objeto de paranóia provoca e pela repulsa diante da atração provocada.
Assim nas manifestações de ciúmes paranóicos e outras decorrentes de distúrbios paranóides existirá a formula: “Eu não amo, odeio-o”, que depois desdobrada se transformaria em “Ele me odeia” e depois ainda “Eu o odeio porque ele me persegue“.
Diz Freud: “A
paranóia crônica, em sua forma clássica, é um modo patológico de
defesa, como a histeria, a neurose obsessiva e os estados de confusão
alucinatória. As pessoas tornam-se paranóicas por não conseguirem
tolerar algumas coisas – desde que, naturalmente, seu psiquismo esteja
predisposto a tanto”.
Freud ainda irá acrescentar a esse quadro o mecanismo da projeção: “representação inconciliável com o eu, projetando seu conteúdo no mundo externo”, o que levaria a supor que os paranóicos “amam seu delírio como amam a si mesmos, esse é o segredo“.
Temos
ainda que observar que para Freud a paranóia poderia tanto se
manifestar ligada a um quadro de esquizofrenia como ainda poderia se
constituir em um quadro separado, evidenciando ainda mais a característica de preservação da capacidade intelectual ligada a outros setores da vida do paciente que não estivessem ligados ao seu delírio.
Descrição dos sintomas
Como
principais manifestações do quadro de paranóia, poderemos falar em:
Delírio Persecutório, Erotomaníaco e de Ciúme. E apresenta como um fator
ainda pouco estudado nesse quadro o que ele nomeará como “impulso querelante” onde se apresentará uma crença sistematizada de que é lesado por toda gente assim como impulsos permanentes de ataque a autoridades.
Segundo Fenichel encontraremos aí “um
ego que regrediu à ‘inocência’ do estado narcísico primitivo tentando
lutar contra os restos de um sentimento de culpa que havia iniciado,
como defesa, a regressão. Os conflitos que giram em redor do sentimento
de culpa podem representar, em última análise, antigos conflitos com o
pai; e combatem-se as autoridades do mesmo modo que se havia(ou não
havia) combatido o pai na infância“.
Na
base das idéias delirantes a psicanálise de Freud apontará então sempre
alguma ordem de tensão existente em torno dos conteúdos homo afetivos
de investimento e uma forte ambivalência que alimenta a economia do
aparelho psíquico.
Todo
mecanismos delirante da paranóia apresentará sempre uma flagrante
ambivalência.O superego projetado é re-introjetado e expelido novamente
em uma nova projeção agora investida com os conteúdos do ego. Podemos
entender isso de forma clara nos delírios onde o paciente vive
permanentemente a certeza de ser observado e criticado ou ainda de que
todos riem dele.
“Resumindo:
Os delírios, tal qual as alucinações, são condensações de elementos
perceptivos, idéias, recordações, distorcidos sistematicamente, de
acordo com tendências definidas, as quais representam desejos
instintivos rejeitados, bem como ameaças que vêm do superego. Os
delírios também se podem interpretar como os sonhos; revelam, à análise,
o ‘cerne histórico’ que se distorceu em delírio“.(Fenichel, 2000)
Para alguns e mesmo em Freud, a origem da defesa paranóica seria ligada a investimentos e bloqueios associados à fase oral.
Fairbain,
por exemplo, considera que esta questão se atualiza em todas as
modalidades de psiconeuroses, até mesmo nos aspectos e mecanismos da
paranóia. Segundo ele: “..os estados paranóides, obsessivos e
histéricos – aos que se pode juntar o fóbico – não representam, em
essência, os produtos de fixações à fases libidinais específicas, e sim
simplesmente uma variedade de técnicas utilizadas para defender o ego dos efeitos provocados por conflitos de origem oral”.(Fairbairn,1952)
Chamamos atenção para a pontuação de Clérambault (1921) pesquisador contemporâneo à Freud, no estudo das paranóias que ele denominou psicoses passionais. O autor classifica e delimita seus tipos como os delírios de reivindicação, na qual o paranóico
delira com seu caráter,e os delírios de ciúme e os delírios
erotomaníacos estes últimos nos quais o passional delira com sua
emoção.Assim o autor estará caracterizando duas qualidades de delírios: delírios passionais e delírios interpretativos. Os primeiros reivindicariam algo e o segundo não.
E o que reivindica o delírio passional ? O amor , é claro.fonte:http://psicoterapiacinthyabretas.blogspot.com.br
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