versão impressa ISSN 0100-3437
Estud. psicanal. n.31 Belo
Horizonte out. 2008
Breve súmula de ateologia prática − Psicanálise e
Religião −
A concise summa of practical atheology -
Psychoanalysis and Religion
Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de
Janeiro
RESUMO
Ateísmo, materialismo e crítica à religião na obra
de Freud. A importância destas idéias para conceitos-chave como: pulsão,
sexualidade infantil, eu ideal e recalque. O método psicanalítico, continuação
da maiêutica socrática, antagônico de dogma e texto sagrado. O método
fundamentado numa ética ateísta: da falta, finitude e diferença. Psicanálise e
simbólico; religião e imaginário. Uso da hipnose e do eu ideal pela religião.
Palavras-chave: Ateísmo de
Freud, Ética psicanalítica, Imaginário, Figura paterna, Eu ideal.
ABSTRACT
Freud’s atheism, materialism and criticism of
religion. The importance of these
ideas to understand key concepts as: instinct, infantile sexuality, ego ideal
and repression. The psychoanalytical method as extension of socratical
maieutics, opposite to dogma and sacred text. The method as based on an atheist
ethic: lack, finitude and difference. Pscyhoanalysis and the symbolical,
religion and the imaginary. Religious uses of hypnosis and ego ideal.
Keywords: Freud’s atheism,
Psycho-analytical ethics, Imaginary, Father-figure, Ego ideal.
[...] e
junto com a crença em um único deus, inevitavelmente nasceu a intolerância
religiosa [...] Este imperialismo se refletiu na religião, como universalismo e
monoteísmo.
Sigmund Freud (Moisés e Monoteísmo)
Sigmund Freud (Moisés e Monoteísmo)
Mas afinal,
por que falha o significante da religião?
Maria Angelina Khalil Aidé
Maria Angelina Khalil Aidé
Começo: Freud versus Pfister
A relação entre psicanálise e religião foi
estabelecida e levada ao paroxismo pelo próprio Freud. Concorrendo com o
pensamento de Marx, o nascimento da psicanálise dotou o século XX de uma
segunda grande corrente de crítica à religião. Freud era declaradamente: ateu,
materialista, tinha toda psyché como resultante de neurônios, rotulou a
religião de grande neurose da humanidade e que o diabo nada mais é que a
personificação da vida pulsional inconsciente recalcada. Suas idéias quanto à
questão eram tão claras e seus textos tão contundentes que todas as tentativas
posteriores de conciliação ficam entre o patético e a traição de suas idéias.
Mas, e quanto à correspondência entre Freud e o
pastor Pfister (FREUD; PFISTER, 1963)? Tal pergunta sempre é feita
quando se esboça alguma tentativa de conciliação. Amizade e respeito às
diferenças lhes eram mais fortes do que a imposição das crenças. A leitura
cuidadosa da correspondência entre ambos, não apenas revela a tolerância das idiossincrasias
pessoais entre dois bons amigos, mas também que Freud não abre mão um milímetro
de sua posição atéia e materialista. A amizade perdurou, apesar da estocada
dada por Freud na carta de 25 de novembro de 1928: “Não sei se você percebeu a
ligação secreta entre a “Análise Leiga” e a “Ilusão”1. Na primeira
desejei proteger a análise dos médicos e na segunda dos sacerdotes”. E, em
seguida, Freud delimita o campo da prática psicanalítica: [...] “uma profissão
que ainda não existe, a profissão de curadores de alma laicos, que não
necessitam serem médicos e não devem ser sacerdotes” (FREUD; PFISTER, 1963,
p.126). A elegância e civilidade do diálogo Freud/Pfister pertenceria à
história da psicanálise européia, não tivesse sido um diálogo freqüentemente
utilizado no Brasil atual para justificar o injustificável.
Dissequemos a questão por partes: desde o cerne da
trama teórica freudiana, passando pela confusão ocorrida no Brasil entre
psicanálise e religião e, desta questão, como parte de outra, mais ampla,
ressurgida na era da globalização. Este percurso conduz a localizar e
conceituar, em diferentes campos, o discurso da psicanálise e o da religião.
Por fim, o mais importante: o que podemos por meio desta grande confusão
aprender para a clínica psicanalítica e a ética que lhe é indissociável?
Uma psicanálise sem Freud?!
As opiniões de Freud sobre a religião poderiam
permanecer neste domínio mesmo, o das opiniões: pessoais, particulares, direito
de todo cidadão. Contudo não o fazem por não serem apenas preferências
individuais, mas parte central do arcabouço freudiano. Os textos críticos sobre
religião, indo desde Totem e Tabu até Moisés e o Monoteísmo, são
mais do que especulações sobre a cultura, mas integrantes de reflexões que
partiram da clínica e retornaram à clínica. Textos cuja contestação nega a
psicanálise como um todo. Foram escritos a partir de idéias que necessariamente
derivam de conceitos como: pulsão, recalque, eu ideal e sexualidade infantil.
O conceito de pulsão (ou de seu representante),
como intermediário entre o psíquico e o somático, deriva do materialismo
ateísta de Freud, para quem não há mente sem cérebro e corpo, muito menos há
alma ou espírito desencarnados. A sexualidade infantil, com sua perversão
polimorfa, coloca a agressividade humana como constitutiva e não um desvio,
assim como sendo universal a atopia do desejo, numa visão oposta à normatização
do Velho e do Novo Testamento. Eu ideal, supereu e recalque: Freud sempre
buscou compreender a culpa através da psicologia e da antropologia, não como
meras auxiliares de alguma possível teologia, mas como explicações que
desmontassem todo pensamento mágico e religioso. Tudo isto passando por texto
cujo título dispensa comentários, Rituais Religiosos e Práticas Obsessivas,
sem falar na adesão incondicional de Freud ao darwinismo.
Assim como a correspondência entre Freud e Pfister
foi desvirtuada, tentar uma psicanálise, tanto em extensão quanto em intenção,
negando os conceitos acima constitui mais que uma fraude, uma profunda
ignorância do texto freudiano. Embuste que só pode ser praticado por meio de um
ensino superficial, por apostilas, e sem o mais importante da prática clínica:
a análise pessoal. E não apenas o texto de Freud tem de ser escondido, mas os
de todos seus seguidores importantes: Abraham, Klein, Lacan, Winnicott, Bion e
quantos mais sejam nomeados2, pois todos lhe
seguiram em ateísmo e crítica à religião. Este engodo, um ensino de Freud sem
seus textos, teria apenas feito parte da história das vigarices. História que
sempre acompanhou a história da psicanálise e das várias correntes da
psicologia, e que ficaria no baú das curiosidades, se em nosso país não tivesse
se travestido da arrogância de tentar monopolizar a prática psicanalítica.
Um problema bem brasileiro
Nos últimos vinte anos vimos no Brasil o surgimento
de instituições supostamente psicanalíticas fundadas por religiosos. Durante
muito tempo, o fato não chamou muito a atenção da comunidade psicanalítica
tradicional, cuja tradição é congregar um ruidoso saco de gatos. Foi quando, no
início do atual século, surgiram no Congresso Nacional, para eventual apoio de
parlamentares do lobby evangélico, tentativas de regulamentação da
psicanálise beneficiando as instituições de origem religiosa. Mais além,
aproveitando a não regulamentação da psicanálise no Brasil, e em antagonismo ao
que fora escrito na carta de Freud a Pfister, os projetos de lei procuravam
monopolizar a prática psicanalítica. Esta tentativa de monopolização, em
detrimento de todo o saco de gatos que há décadas tradicionalmente compõe a
psicanálise no Brasil, fez com que os gatos - por mais que rosnem entre si,
pertencem a uma genealogia de comum de felinos3 - se unirem
diante de um mesmo inimigo.
A apresentação dos projetos de lei mencionados foi
uma curiosa imagem espelhada dos projetos anteriores de regulamentação,
apresentados em décadas anteriores, nos quais também sempre advinha uma
tentativa de exclusão: ou monopolizar a prática psicanalítica pelos médicos, ou
um grupo de instituições igualmente tentava desqualificar aquelas julgadas
menos ortodoxas ou heréticas. Mas em todos os casos, aplica-se o escrito de
Lacan sobre o que chamou de três pontos de fuga da psicanálise, sendo
aqui o terceiro ponto de fuga, no real, e que nos aparece através do fantasma
de se fazer segregar (LACAN, 2003). Por ora fica o registro de que a reação dos
psicanalistas tradicionais, sua luta para o arquivamento destes projetos, até o
momento bem-sucedida, já pertence à história da psicanálise no Brasil.
Atenhamo-nos, portanto, ao que a tentativa concreta
de usurpação da psicanálise implica para a prática psicanalítica. Mesmo porque,
se os projetos de lei, por ora, foram arquivados, e se as supostas instituições
psicanalíticas de orientação religiosa sofreram um efeito bumerangue, outro
movimento surgiu. No caso de sociedades psicanalíticas que aceitam como
candidatos à formação não médicos e não psicólogos, é crescente a procura de
ensino por religiosos de diferentes denominações4. Pessoas bem
intencionadas, muitas vezes críticas da precariedade do ensino nas instituições
religiosas, que pretendiam o monopólio da psicanálise, mas não menos
equivocadas.
Resgatando tal equívoco, chega-se aos dois outros
pontos de fuga mencionados por Lacan: no imaginário e no simbólico. Refletir
sobre a crise surgida pela tentativa de usurpação da psicanálise torna-se muito
útil, obrigando a refletir sobre a especificidade do discurso e da prática
psicanalíticas. Discurso e prática também sob a constante ameaça do festival de
práticas: esotéricas, de auto-ajuda e pseudo científicas. Práticas exercidas
muitas vezes por psicanalistas que são médicos ou psicólogos, constituindo
práticas ilegítimas e ilegais diante dos olhos de seus próprios conselhos
profissionais.
Um problema não tão brasileiro
O recrudescimento do fenômeno religioso, a nova
capa dos nazi-fascismos, hoje rotulada de fundamentalismos, e o retorno da
reação neo-iluminista, nada disso é exclusivo ao Brasil. Nos últimos dois anos,
surgiram vários livros contendo ferozes críticas à religião, tendo por autores:
pensadores anglo-americanos, biólogos darwinistas adeptos ou não da psicologia
evolutiva, filósofos franceses da nova geração. Grande parte dos títulos foi
publicada no Brasil, principalmente nos últimos meses de 2007 e, de modo
surpreendente, à semelhança de outros países, alguns títulos permaneceram
semanas ou meses na lista dos mais vendidos: Carta a uma nação cristã
(HARRIS, 2007) e The end of faith (HARRIS, 2005), Deus, um delírio
(DAWKINS, 2007), Deus não é grande (HITCHENS, 2007), Quebrando o
encanto (DENNETT, 2006), Tratado de ateologia (ONFRAY, 2007), O
Espírito do ateísmo (COMTE-SPONVILLE, 2007)5.
Os títulos mencionados, de autores estrangeiros,
são predominantemente jornalísticos, elencando e relembrando os usos e abusos
da religião através dos séculos. Constituem exceções os títulos de: Dennett,
Onfray e Comte-Sponville. Estes se aventuraram, mais que os outros autores
citados, a formular teses – psicológicas, darwinistas, antropológicas,
filosóficas – sobre as origens humanas e o recrudescimento contemporâneo da
religião. Não nos cabe competência ou tempo para traçar aqui semelhanças e
diferenças entre as idéias de todos esses autores e as de Freud, ou com as dos
grandes críticos e estudiosos do fenômeno religioso, o poder e o totalitarismo:
Bertrand Russel, Michel Foucault, Hannah Arendt. Apenas pinçamos algumas
observações sobre o livro de Dennett que julgamos úteis para nossa breve
súmula.
Embora Dennett (2006) cite Freud em uma de suas
epígrafes, a psicanálise parece causar-lhe horror, o que torna mais
interessante seu texto. Através de explicações da psicologia evolucionista e de
experimentos estatisticamente controlados, Dennett chega a várias hipóteses sobre
a origem e o poder da religião: surgimento a partir do animismo e do xamanismo,
hipertrofia de características do pensamento e linguagem primitivos, uma
forma de hipnose coletiva utilizando o carisma da figura de um pai. Essas são
algumas das hipóteses de Dennett que, apesar de defendidas de modo
completamente diverso, cheiram muito - até em excesso - familiares às de Freud.
O filósofo darwinista também se pergunta: qual a relação entre imperialismo e
religião?
Mais do que as outras hipóteses abordadas, a questão
do pai faz com que coce a orelha de um psicanalista. Deixemos de lado os usos e
abusos sociopolíticos do fenômeno religioso, para permanecer no experimento
mais próximo, e não muito bem controlado, o do divâ. Os psicanalistas estão
familiarizados com esta história, que parte da hipnose e a metamorfoseia em
técnica psicanalítica, tanto quanto dos motivos pelos quais, ao trilhar este
percurso, tivesse Freud escrito tanto sobre sua descoberta da busca universal
por um hiperpai ultra-idealizado. Ele também nos transmitiu o alerta sobre como
este anseio humano comum deixa a todos vulneráveis aos abusos possíveis da
transferência, e como é fácil desvirtuar-se o rumo da prática psicanalítica.
Reflexões sobre a ética da Psicanálise
A psicanálise fundamenta-se no princípio socrático
de que somente cada qual pode saber o que é melhor para si mesmo. Trabalha a
partir do desvelamento da verdade que, cada um, sem saber, possui dentro de si.
Trata-se do renascimento da maiêutica socrática: a arte do parto das idéias.
Sócrates passou à história por ter formulado o princípio de que a verdade, que
cada um traz dentro de si, à semelhança do bebê, seria naturalmente parida.
Mas, para a maioria, há tantas idéias vindas de fora, assimiladas como se
fossem próprias e esquecidas de sua origem externa, que o parto natural fica
impedido. Para Sócrates, o trabalho do filósofo não era o de pontificar suas
próprias idéias, mas apenas o de remover os empecilhos para que se dê o
nascimento espontâneo da verdade de cada um. À semelhança de sua mãe, que era
parteira de bebês, Sócrates era parteiro de idéias. Se o parto natural corre
bem, o parteiro apenas contempla, é um inútil.
Mas Sócrates, através de sua dialética, ativamente
questionava o interlocutor, ao passo que o analista deve ser um parteiro mais
discreto: “o senhor cujo oráculo está em Delfos, não fala nem esconde: ele
indica” (fragmento 93 de Heráclito de Éfeso, apud BORNHEIM, 1999, p.41). Como
dizia Freud, enquanto o paciente está associando livremente, o melhor que o
psicanalista pode fazer é ficar calado. Foi uma paciente – Emmy von N. – quem
por sua vez indicou a Freud que se calasse, que não interrompesse a fala que
emergia. Em seu primeiro relato de caso clínico, revela Freud: “Então ela disse
de um modo decididamente irritado, que eu não ficasse lhe perguntando de onde
isto ou aquilo tinha vindo, mas a deixasse contar o que ela precisava falar”
(Studies on hysteria, FREUD, 1978, p.63, tradução do autor).
A mesma denúncia feita contra Sócrates é produzida
contra vários discursos contemporâneos, incluso o da psicanálise: a negação de
A Verdade conduz ao relativismo ético. Acusação típica de quem parte da
existência de normas ditadas pelo divino, do qual o acusador é guardião.
Podemos refutar esta acusação subscrevendo que:
No centro da discussão ética situa-se a questão da
verdade, e a psicanálise não se furta a ela, entendendo-a, entretanto como
verdade do desejo, imperioso e irredutível. Como tal é sempre parcial,
não-toda, vinculada que está à metonímia do desejo, e, principalmente,
particular, apresentando-se para cada um em sua especificidade íntima. [...] O
que é universal é a diferença (RINALDI, 1996, p.68).
Afirmar a verdade como sempre parcial difere de uma
defesa do relativismo ético. Freud e Lacan partem do princípio de que o ser
humano é mortal e limitado, e o desejo impossível de ser satisfeito plena e
permanentemente. A filosofia que embasa a ambos é a da finitude, do limite e da
falta. Ambos compartilham de uma concepção trágica do homem, e da inalienável
responsabilidade de todos os nossos atos, concepção em oposta à noção de que se
não há deus, então tudo é permitido. Como somos portadores deste furo
interno – dê-se-lhe vários nomes: falta, ferida narcísica, castração, não-ser,
objeto a, a coisa, por exemplo -, também somos circunscritos externamente por
uma linha em que o desejo alheio é o limite para o meu desejo. Não apenas Freud
e Lacan, mas todos os nomes mais conhecidos da psicanálise – Abraham, Ferenczi,
Klein, Winnicott, dentre muitos - partilharam desta compreensão trágica, pois
sem ela não seriam psicanalistas. Freud, ele mesmo, defendeu a idéia de que sem
a falta não haveria palavra. Tanto em Lacan quanto em Freud, o desejo está
indissoluvelmente vinculado à lei que institui o simbólico, “ainda que para o
primeiro esta lei indique, mais que uma proibição, a presença de
impossibilidade” (RINALDI, 1996, p.69).
A maiêutica socrática buscava, por meio de um único
diálogo, que o interlocutor reconhecesse a incoerência de seu discurso, e isto
lhe permitiria construir um discurso próprio. À diferença de Sócrates, Freud
procurava, por meio de pequenas intervenções, desobstruir a livre associação do
paciente. Então, espontaneamente, é retomada a construção do discurso. Uma
produção por meio de várias narrativas, que não são ouvidas como se fossem
dotadas de um sentido unívoco, mas com vários sentidos. Isto pressupõe não
apenas a existência de um sujeito desejante, mas sua multiplicidade. Mesmo que
se tente reduzir toda fala à univocidade, a malha de significantes, mesmo sob
uma aparência de totalidade, revela: suas falhas, seus duplos sentidos, suas
antíteses, outros caminhos além daquele que aparenta. Se a psicanálise fosse
perfeita, estaríamos quase inteiramente no registro do simbólico. Mas não
apenas por fugir de um sentido unívoco, por fugir da idéia de que a psyché
saudável seria um bloco compacto e, mais ainda, por não ser perfeita e por não
ter um ideal por meta, a psicanálise foge de um simbólico puro e do discurso
totalitário.
Se a psicanálise busca o registro do simbólico e de
sua própria impossibilidade de absolutização, pergunta-se qual o objetivo da
religião. Segundo Freud, a religião sempre busca o pai idealizado da infância:
todo poderoso, onipresente e onipotente, infalível, garantia de completa
segurança. Pai de um registro herdeiro de uma época do predomínio do narcisismo
infantil e suas imagens, época de intensa ambivalência. A religião, ao menos
suas vertentes monoteístas e ocidentais, está no registro do imaginário e na
possibilidade do absoluto6.
Ilusões da transferência e delírios religiosos
Portanto a psicanálise, em qualquer de suas
vertentes, encontra-se no pólo oposto ao da aplicação do discurso religioso do
monoteísmo. Não há verdade externa, dogmática e atemporal. Não há livro sagrado
ou revelação divina. No máximo um ou outro presidente Schreber mais
popularizado. Encaixar alguém numa verdade que lhe é exterior constitui uma
violência tão grande quanto a violência da psicologia do ego, ou de outras
psicologias adaptativas. Carismaticamente persuadir alguém de que esta verdade
revelada também poderia ser sua, configura uma forma de submissão, consiste em
utilizar a transferência como arma em uma relação sadomasoquista; a mesma
sujeição, o mesmo dispor aético do outro, que afastou Freud da hipnose. Além
disso, a hipnose fora desmascarada por Freud quanto à instabilidade de seus efeitos
terapêuticos, assim como da crônica dependência do submisso ao seu algoz a fim
de renovar tais efeitos, uma vez que, de tempos em tempos, eles cessam. Muito
útil se o propósito for extrair uma renda permanente da vítima. E não foram
poucos os que na história da própria psicanálise rebaixaram-na a isto.
Com os Escritos sobre técnica (Papers on
technique, FREUD, 1978), Freud resguardou que a transferência fosse reconhecida
como um instrumento permanentemente sob o controle da ética. Um poder sobre o outro
a ser utilizado com o máximo de cuidado, porque, a qualquer momento, pode
converter-se em uma arma perigosa. O uso da transferência é quase sempre para
denunciá-la, para desobstruir que ela mesma seja um dos principais obstáculos
da livre associação e do parto. E não para tornar o outro um meio, um
instrumento, para obter fins de satisfação pessoal do terapeuta. Uso que é
legal e legitimamente vedado, até pelos códigos de ética profissionais.
E ao final de uma análise, deve ocorrer a
dissolução possível desta névoa, desta turvação da realidade, que consiste na
própria transferência. A aceitação de um pai que afinal foi o pai possível,
mesmo que não tenha sido o rei dos contos de fada, o maior dos super-heróis ou
deus. Já foi antes mencionada, a reiterada defesa de Freud da idéia de que a
crença em deus é a procura eterna por uma figura de um pai. Uma figura que nos
defendesse de todos os perigos e do acaso, das doenças e da morte, personagem
que existe apenas como fruto da permanente quimera do desamparo. Mas se, por um
lado, este pai superamado é apenas ilusão e idealização, por outro, a queda na
realidade também nos livra de um pai onipotente, tirânico, distante. Se o amor
ao pai que resulta do final de uma análise é apenas humano, demasiadamente humano,
também fura o balão de um ódio de proporções divinas, de cóleras celestes e
punições dantescas.
Mesmo a gratidão possível ao psicanalista, ao final
de uma análise, tem de reconhecê-lo como um profissional (como em outra
profissão bem mais antiga, e que também cobra afeto por hora) cujo trabalho
deixou muito a desejar. Desidealização da análise e do analista, necessária
para mitigar o mais possível identificações imaginárias. E para deixar uma
sobra, este resto de desejo de análise que faz permanecer no inconsciente um
movimento, após a alta, de manutenção do desvelamento, de continuidade do
processo analítico, para que seja sempre mais poroso o filtro e mais fluido o
desejar.
Aqui entra o abuso da aplicação da técnica
psicanalítica, quando desprovida da ética que a transforma em psicanálise.
Embora muitos religiosos, e muitos adeptos de terapias esotéricas, ao
procurarem o conhecimento da técnica, estejam bem intencionados (apesar de,
como diz o ditado popular, deles o inferno está cheio), o uso contrário
à ética psicanalítica torna a técnica um instrumento totalitário. Os ideais
totalitários não toleram exceção, diferença, falta. Os livros de filosofia de
orientação católica, por exemplo, desdobram-se em sofismas ao tentar conciliar
a maiêutica com a revelação divina, ou diretamente condenam o ideal socrático.
O triunfo da vontade vem do texto absoluto, seja originário da revelação
divina, seja daquele que sabe o que é melhor para todos, e dirige-se ao todo
coletivo, configura o oposto a uma modesta e pessoal verdade socrática.
Como tudo no pensamento psicanalítico, entre os
ideais totalitários e os culturais, a questão é muito mais de quantidade que
qualidade. E os ideais culturais são embebidos de narcisismo, o que Freud já
assinalava em 1927, ao iniciar o texto dedicado à crítica da religião: O
Futuro de uma ilusão. Texto no qual Freud tenta salvar as aparências
diagnosticando a religião como ilusão, até perpetrar uma escrita falha
em que confessa: “ [...] minhas ilusões não são, como as ilusões religiosas,
incapazes de serem corrigidas [...] não tem o caráter de delírios” (The future
of an illusion, FREUD, 1978; p.53, tradução do autor). Mas em O mal estar na
civilização, Freud abre o jogo: “As religiões da humanidade devem de ser
classificadas entre os delírios de massa [...] desnecessário dizer que quem
compartilha de um delírio, nunca o reconhece como tal” (Civilization and it’s
discontents, FREUD, 1978; p.82, tradução do autor). Falando em narcisismo e
delírio, falamos de psicose e imaginário: Deus, um delírio, título velho
de gasto7.
Já descrevia a velha psicopatologia psiquiátrica
que o delírio se constitui de juízos patologicamente falsificados: tais juízos
trazem a marca da certeza subjetiva absoluta, da convicção interior inamovível
e da incorrigibilidade, tanto por meio da persuasão lógica mais irresistível,
como da evidência esmagadora dos fatos em contrário (NOBRE DE MELO, 1979). Desta
definição depreendemos que fé e delírio fundam-se no mesmo tipo de juízo
interior, totalizante e inquestionável: credo qui absurdum. Além do
caráter megalomaníaco de todo candidato a presidente Schreber. Já a verdade
socrática é sempre discreta e limitada, aberta pelas fendas entre os
significantes e no seio dos próprios significantes, deslizando sempre para uma
nova e provisória possível verdade, um simbólico sempre com furo e furado.
Identificação imaginária e Eu Ideal: Hipnose e
Religião
Freud, no nascimento do método psicanalítico,
abandonou a hipnose, tanto pelo vislumbre de uma percepção mais de vinte anos
depois teorizada e escrita, de como ela era a sujeição sadomasoquista do
hipnotizado ao hipnotizador, quanto pela percepção de que a própria hipnose era
um obstáculo ao autoconhecimento, a que a verdade se desvelasse. Caso admitamos
o desconhecimento de Dennett, sobre o papel da hipnose na história da origem da
psicanalise, mais interessante são as conseqüências. Ao imputar em seu livro Quebrando
o encanto (DENNETT, 2003) a importância da hipnose e da figura de
autoridade do pai na infância, para a compreensão do fenômeno religioso, o
filósofo do darwinismo contemporâneo não apenas subscreveu Freud por meio de
outra teoria e experimento, mas também obrigou os analistas a repensarem, pela
enésima vez, a função da transferência. Substituindo a hipnose pela livre
associação e atenção flutuante, o predomínio do simbólico sobre o imaginário, a
transformação do eu ideal em ideal de eu, Freud e Lacan deixaram a advertência
de que, por ser o analista herdeiro do xamã, é necessária uma autocrítica
permanente da prática psicanalítica.
Mas e o edifício teórico da psicanálise? Bastante
claro é o fato de, desde o início, Freud ter escandalizado a moral e os bons
costumes com suas idéias sobre a sexualidade humana. O que o tornou anátema de
todas as religiões e totalitarismos ocidentais e orientais, e seus livros
combustível para alimentar as fogueiras nazistas. Os vários autores críticos do
fenômeno religioso, publicados no último ano, assinalam como as religiões têm
em seu fulcro cercear a sexualidade. Mas, que resta à teoria psicanalítica sem
os conceitos de: libido, pulsão, sexualidade infantil, neurose como negativo da
perversão, etc.? Quanto à teoria, já dizia Lacan, no Seminário 22: R.S.I.,
que a consistência de todos os esquemas teóricos deriva do imaginário (LACAN,
1974/1975). Retirando-se da teoria seu apoio na clínica, e desta na questão da
sexualidade, tendo Freud desde o início ancorado a sexualidade no Édipo, também
recorremos a Lacan, no que denominou pontos de fuga da psicanálise, este
aqui no simbólico, quando fala de que “[...] retire-se o Édipo, e a psicanálise
em extensão, diria eu, torna-se inteiramente da alçada do delírio do presidente
Schereber” (LACAN, 2003, p. 262).
Já o uso mais freqüente da hipnose e da
transferência, pelo sacerdote carismático, possui a função de reforçar cada vez
mais a figura de um pai imaginário hiperidealizado. Figura que, em primeiro
movimento, brande como não sendo a sua pessoalmente, propondo-se um exemplo de
humildade e devoção ao próximo, mas a de, por exemplo, um Jesus supertudo de
pensamento positivo. Em tudo a semelhança com a caricatura, parcialmente
verdadeira, do hipnotizador que distrai a atenção do paciente com um relógio,
enquanto pelas bordas da consciência penetra em sua mente. Tal como um
ventríloquo distrai a platéia de a voz não pertencer a si próprio, mas a seu
boneco.
Freud demonstrou em Psicologia das massas e
análise do eu (Group psychology and analysis of the ego, FREUD, 1978), como
se formam os grupos, por meio de um líder erigido em pai ideal e colocado na
posição eu ideal. Para Lacan, no imaginário está constituído o pai ideal, da
unidade expressa no modelo identificatório narcísico da Sociedade
Internacional, a da Igreja e do exército, ou seja, a estrutura de grupo,
configurando outro dos três pontos de fuga da psicanálise (LACAN, 2003).
Este eu ideal é a origem de uma identificação imaginária, produtor de supereu e
recalque contra a sexualidade infantil. Como esta é indissociável do
inconsciente, o movimento iniciado pela identificação imaginária, resultante em
seu recalque, só permite que se extravase na forma de sintoma. Logo, o sexual
em todo sintoma. Já afirmara Freud: “[...] e o diabo seguramente nada mais é
que a personificação da vida instintual inconsciente recalcada” ( Character and
anal erotism, FREUD, 1978, tradução do autor). E haja festivais de histeria
coletiva para exorcizar sintomas.
Mas Freud vai além, recalcando em excesso, o
supereu será acusado de mais: “Pensem no contraste deprimente entre a brilhante
inteligência de uma criança saudável e os fracos poderes intelectuais de um
adulto médio. Podemos ter certeza absoluta de que não é exatamente a educação
religiosa que arca com uma grande parcela desta relativa atrofia?” (The future of an illusion,
FREUD, 1978, p.47, tradução do autor). Alem do dano
ao intelecto, dentre os autores contemporâneos citados, Dawkins (2007) é um dos
que mais enfatiza a educação religiosa, antes que a criança tenha capacidade de
discernimento, como um molde de preconceitos que serão carregados pela vida a
fora. A ojeriza de Dawkins à psicanálise talvez não tenha lhe deixado
acrescentar que os motivos dos piores preconceitos são inconscientes.
Conclui o pensador darwinista: “Crianças pequenas são jovens demais para tomar
decisões sobre suas opiniões a respeito da origem do cosmos, da vida ou da
moral. O simples termo ‘uma criança cristã’ ou ‘criança mulçumana’ deveria soar
como unhas arranhando uma louça” (DAWKINS, 2007).
O bom é que o imaginário também tem seu furo, mesmo
na maior parte das psicoses, ou não funciona a contento sobre tudo, ou não
funciona o tempo todo. Aqui o significante da religião tenta pedir reforço ao da
psicanálise. Ao inverso do psicanalista, que tem por meta final a dissolução
possível da transferência, o religioso tem por meta o contínuo reforço e
manutenção da transferência. Não por acaso, a experiência pessoal nos brindou
com o conhecimento de entidades supostamente psicanalíticas, que reduziam a
psicanálise a um conjunto de apostilas, mas liam diretamente um antigo e
extenso compêndio de técnica de autoria de um psicanalista de gerações passadas
da IPA. Assim como a sorte nos agraciou ter várias vezes escutado, de
religiosos de diferentes denominações, a afirmação que desejavam fazer formação
psicanalítica “para entender melhor da transferência”. Escutamos aí o pedido de
reforço das identificações imaginárias e de fortalecimento do eu ideal.
Finalmente: Psicanálise – a Irreligião?
Ao início de alguns tratamentos, em pacientes com
sintomas muito graves, ou em situações em que uma crise é muito intensa,
costuma ser válido ao psicanalista apelar para técnicas como: aconselhamento,
apoio, reforço de ego e, mesmo, em situações emergenciais, funcionar como
figura carismática propondo-se a identificações. Principalmente hoje em dia,
quando a antiga psicanálise de cinco vezes por semana tornou-se impraticável
financeiramente.
Mas deve-se ter por meta que todas essas técnicas
colocam o terapeuta na função de eu ideal, e há vasta literatura contrária ao
incentivo de identificações imaginárias. Constituem técnicas válidas, se
permanece o desejo de análise e para colocar o paciente em condições de
realizar uma verdadeira análise. Não para criar uma dependência crônica ou
converter a vítima às crenças do terapeuta. Claro que sabemos de muitos casos,
principalmente quando o narcisismo do terapeuta é que precisa de mais análise,
nos quais o psicanalista não está em sua função, mesmo em longo prazo, mas no
papel do sacerdote exatamente como foi descrito acima. E da vaidade, já foi
dito ser o mais grave de todos os pecados, aquele que conduz a todos os outros.
Em Psicologia das massas e análise do eu (FREUD,
1978), fica muito claro como a identificação do líder com o eu ideal, pelos
seguidores, também cria um vínculo entre eles. Vínculo proporcionalmente mais
forte quanto maior a identificação, levando a crescente exclusão daqueles que
não pertencem ao grupo. Sendo este liame intragrupal fortemente narcísico, e
teorizando-se sobre o eu como fonte de narcisismo de vida, mas também de morte,
explica-se por que, cada vez mais, os não pertencentes ao grupo são
considerados inferiores, e como a pulsão de morte tem de ser defletida, para
fora do eu e do grupo, por meio da agressividade. O fantasma do se fazer
segregar torna-se mais perigoso quando se pensa sobre o narcisismo das
pequenas diferenças, descrito por Freud, e sobre os mecanismos
esquizo-paranóides, descritos por Melanie Klein.
Um grupo que se julga portador de algo
excessivamente bom, possuidor de um seio idealizado, necessariamente projeta
toda sua agressividade, coloca para fora toda hostilidade latente entre os
membros do próprio grupo, e sente-se perseguido. Este grupo constrói um
mecanismo crescente de: identificações imaginárias, fetichização de seu líder e
de seus ideais, e de intolerância à diferença. Até que, finalmente, como o
mecanismo esquizo-paranóide acaba, cedo ou tarde, falhando, o grupo se cindirá
em dois, ou mais, grupos rivais. Grupos que, por sua origem comum na figura de
um pai ultra-idealizado, não o aceitam partilhar com ninguém mais. Esquizo
(cisão) e paranóia, aí se tem: Deus, um Delírio. Demais detalhes
teológicos e schreberianos apenas enfeitam. O outro grupo precisa ser
destruído.
Estamos falando da exacerbação contemporânea do
conflito entre os monoteísmos, ou das sociedades psicanalíticas?
Referências
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of Schreber. In:___. The standard edition of the complete psychological
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1978. v. IX.
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it’s discontents. In:___. The standard edition of the complete psychological
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1978. v. XXI.
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illusion. In:___. The standard edition of the complete psychological works.
London: The Hogarth Press and the Institute of Psycho-Analysis, 1978. v. XXI.
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and analysis of the ego. In:____. The standard edition of the complete
psychological works. London: The Hogarth Press and the Institute of
Psycho-Analysis, 1978. v. XVIII.
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technique. In:___. The standard edition of the complete psychological works.
London: The Hogarth Press and the Institute of Psycho-Analysis, 1978. v. XII.
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hysteria. In: ___. The standard edition of the complete psychological works.
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Hogarth Press and the Institute of Psycho-Analysis, 1963.
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faith: religion, terror and the future of reason. New York: London: W. W. Norton, 2005.
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o psicanalista da escola. In:___. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge
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Cópia datilografada, [1974/1975].
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Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
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metafísica. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
RINALDI, D. A ética da diferença. Rio de
Janeiro: EdUERJ: Jorge Zahar, 1996.
SILVA,V.G. (Org.) Intolerância religiosa:
impacto do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São
Paulo: EDUSP, 2007.
Endereço para correspondência:
Rua Marechal Mascarenhas de Morais 132/308, Copacabana
Rio de Janeiro, RJ, 22030-040
E-mail: anchyses@terra.com.br
Rua Marechal Mascarenhas de Morais 132/308, Copacabana
Rio de Janeiro, RJ, 22030-040
E-mail: anchyses@terra.com.br
Recebido em 05/05/2008
* Médico e Bacharel em Filosofia, ambos pela UFRJ; Mestre em Medicina
(Psiquiatria) e Mestre em Filosofia, ambos pela UFRJ; Doutor em Filosofia pela
UFRJ; Psicanalista e Membro Efetivo do Círculo Brasileiro de Psicanálise –
Seção Rio de Janeiro; desde 1984 leciona em cursos de Graduação em: Psicologia,
Pedagogia e Letras; também leciona em cursos de Especialização em Psicoterapia
Psicanalítica e de Formação Psicanalítica.
1 Referência de Freud aos textos A Questão da Análise Leiga e O Futuro de uma Ilusão.
2 Mesmo tendo aumentado ao longo dos anos, das críticas e processos, o número de disciplinas com títulos referentes à psicanálise e seus principais autores, é interessante notar a ênfase no currículo de vários destes cursos em disciplinas não psicanalíticas, indo desde o discurso organicista da moda, até o pólo aparentemente oposto, com a presença de disciplinas místicas, tais como: primeiros socorros, parapsicologia, neurofisiologia, neurociência, anatomia, bioquímica, hipnose, sexologia, mitologia.
3 As numerosíssimas instituições psicanalíticas brasileiras, aqui rotuladas de tradicionais, originaram-se ou da International Psychoanalytical Association, ou de dissidências desta ocorridas no exterior ou no Brasil (notadamente a constelação lacaniana) ou de dissidências destas dissidências, coletivas ou individuais.
4 Há muitos anos, quando do início da procura crescente de formação por religiosos, nossa colega psicanalista do CBP-RJ, Maria Angelina Khalil Aidé, havia invertido a direção da pergunta: ao invés de Por que a religião quer invadir a psicanálise; devemos indagar: Mas afinal, por que falha o significante da religião?
5 Em relação ao Brasil indicamos a excelente coletânea, da área de antropologia: Intolerância religiosa – impacto do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro (SILVA, 2007), e O fim da religião – dilemas da liberdade religiosa no Brasil e na França (GIUMBELLI, 2002).
6 Agradecemos a idéia sobre a diferença entre psicanálise e religião, nos registros do simbólico e imaginário, proposta e discutida nos seminários do Corpo Freudiano do Rio de Janeiro, ao Prof. Dr. Marco Antonio Coutinho Jorge.
7 O Caso Schreber (The Case History of Schreber, FREUD, 1978) apresenta-se como o texto de conexão entre a primeira parte da obra de Freud, voltada mais para a clínica, e conceitos como a pulsão e o inconsciente, e a segunda parte de sua obra, onde surgem os textos sobre religião e sociedade. É possível ler o Caso Schreber como fruto de Freud, o escritor, e perceber a discreta ironia na qual os delírios místico-religiosos e soteriológicos de Schreber servem de voz à crítica freudiana da religião.
1 Referência de Freud aos textos A Questão da Análise Leiga e O Futuro de uma Ilusão.
2 Mesmo tendo aumentado ao longo dos anos, das críticas e processos, o número de disciplinas com títulos referentes à psicanálise e seus principais autores, é interessante notar a ênfase no currículo de vários destes cursos em disciplinas não psicanalíticas, indo desde o discurso organicista da moda, até o pólo aparentemente oposto, com a presença de disciplinas místicas, tais como: primeiros socorros, parapsicologia, neurofisiologia, neurociência, anatomia, bioquímica, hipnose, sexologia, mitologia.
3 As numerosíssimas instituições psicanalíticas brasileiras, aqui rotuladas de tradicionais, originaram-se ou da International Psychoanalytical Association, ou de dissidências desta ocorridas no exterior ou no Brasil (notadamente a constelação lacaniana) ou de dissidências destas dissidências, coletivas ou individuais.
4 Há muitos anos, quando do início da procura crescente de formação por religiosos, nossa colega psicanalista do CBP-RJ, Maria Angelina Khalil Aidé, havia invertido a direção da pergunta: ao invés de Por que a religião quer invadir a psicanálise; devemos indagar: Mas afinal, por que falha o significante da religião?
5 Em relação ao Brasil indicamos a excelente coletânea, da área de antropologia: Intolerância religiosa – impacto do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro (SILVA, 2007), e O fim da religião – dilemas da liberdade religiosa no Brasil e na França (GIUMBELLI, 2002).
6 Agradecemos a idéia sobre a diferença entre psicanálise e religião, nos registros do simbólico e imaginário, proposta e discutida nos seminários do Corpo Freudiano do Rio de Janeiro, ao Prof. Dr. Marco Antonio Coutinho Jorge.
7 O Caso Schreber (The Case History of Schreber, FREUD, 1978) apresenta-se como o texto de conexão entre a primeira parte da obra de Freud, voltada mais para a clínica, e conceitos como a pulsão e o inconsciente, e a segunda parte de sua obra, onde surgem os textos sobre religião e sociedade. É possível ler o Caso Schreber como fruto de Freud, o escritor, e perceber a discreta ironia na qual os delírios místico-religiosos e soteriológicos de Schreber servem de voz à crítica freudiana da religião.
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