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Resumo: A esquizofrenia causa muito
sofrimento ao paciente e as pessoas ao seu redor, onde acabam todos se tornando
vitimas da doença e causa de preconceito. A reinserção social, inclusão da
família e da comunidade no tratamento são recursos utilizados para a promoção
da saúde mental, para que os portadores de transtornos mentais tenham uma
melhor qualidade de vida, uma vez que este transtorno psicótico possa ocasionar
dificuldades à sua vida social. Ao abordarmos os aspectos que levam a vida
social de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, enfatizamos a participação
e o comportamento em atividades comunitárias e de lazer e a interação
interpessoal com familiares e amigos.
Palavras - chaves: inclusão
social, esquizofrenia, relações sociais.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo apresentar a situação dos
esquizofrênicos em meio à sociedade, tomando como base aspectos culturais e
familiares, classificando a psicopatologia esquizofrenia segundo o CID - 10,
onde "os transtornos esquizofrênicos são caracterizados em geral por
distorções fundamentais e características de pensamentos e percepções e por
afeto inadequado ou embotado, a perturbação envolve as funções mais básicas que
dão a pessoa normal um senso de individualismo único e direção de si
mesmo". É classificada em:
- Esquizofrenia Paranóide
- Esquizofrenia Hebefrênica
- Esquizofrenia Simples
Considerando que a esquizofrenia não tem cura e afeta tanto
homens quanto mulheres, costuma dar seus primeiros sinais a partir dos 18 anos.
É justamente nessa fase que a pessoa está entrando no mercado de trabalho ou
começando uma faculdade, onde, no caso dos esquizofrênicos, passam a sofrer
dificuldades. Para o entendimento deste assunto é necessária a definição de
fatores históricos, sociais e culturais.
No Brasil, entre as décadas de 1970-80, ao lado das lutas
sindicais surgiram novos movimentos que lutavam pelos direitos dos negros, das
mulheres, dos homossexuais e de outros grupos vulneráveis, entre estes grupos,
surgiu o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, iniciado na década de 1970.
Objetivado pela discussão acerca das características da assistência
psiquiátrica oferecida nos manicômios às pessoas com transtornos mentais no
Brasil. O Manicômio como uma instituição total, revelou-se desde a criação como
um espaço de violência e arbitrariedade sobre as pessoas que acolhia. Sua
estrutura se apresenta como desumana e ineficiente por seus resultados
desastrosos, constituindo-se um lugar de sofrimento e dor, onde os pacientes,
sem direito à defesa, são submetidos a maus tratos, privação de sua liberdade,
de seu direito à cidadania e à participação social. Esta luta foi aderida não
somente pelos profissionais da área, como também pelos usuários do serviço,
tendo como principal conquista a circulação do sujeito no campo social. Foi um
movimento que procurou estabelecer a socialização.
"Existe
a idéia de que o louco precisa adaptar-se à vida fora dos hospitais, mas esse
movimento é necessário também por parte da sociedade que vai receber. Não se
pode esperar que o louco se enquadre ao ordenamento neurótico, mas a
convivência é possível." (Ferreira E. D., 2007, p. 23).
A luta pela Reforma Psiquiátrica se liga a estratégias de
difusão e ampliação das inovações institucionais construídas no campo da saúde
mental. No interior desse movimento visualizam-se as associações, usuários e
familiares, bem como os movimentos sociais que tem como bandeira a luta
antimanicomial. Esses espaços constituem-se uma identidade coletiva orientada
para uma ação política dirigida a conquista de uma maior visibilidade social,
dos princípios da Reforma Psiquiátrica.
Com o avanço da tecnologia e sua influência sobre todas as
áreas, inclusive no avanço da saúde mental, o paciente com algum tipo de
transtorno psicológico recebe tratamentos que o incentivam a procurar sua
inserção na sociedade. Marcada por preconceitos e desigualdades sociais, ao
passo que, os esquizofrênicos são classificados como inferiores em relação aos
que não apresentam distúrbios mentais.
O principal fator de inclusão social dos esquizofrênicos são
os aspectos familiares (relação familia - paciente), pois a esquizofrenia é
entendida como causada por eventos externos em relação ao individuo doente,
onde a doença é percebida como um problema de toda a família e não apenas do
enfermo. O paciente esquizofrênico sofre com sua condição e sua família também,
não há como isto ser evitado. Esta é vista como desestruturada, fria,
indiferente ou mesmo hostil ao paciente. Da mesma forma que o paciente
esquizofrênico sofre duas vezes, pela doença e pelo preconceito, a família
também sofre duas vezes, com a doença do filho e com a discriminação e
incompreensão social. A família é o principal elemento no cuidado dos pacientes
esquizofrênicos, pois estes ficam cada vez mais com seus familiares.
"Independente
de seus desejos, os familiares tem que traduzir o mundo para o seu familiar
esquizofrênico, e às vezes funcionam como psicoterapeutas, consolando,
ajudando, aconselhando e guiando o seu parente doente." (Seeman, 1988).
Outro fator que influencia na inclusão dos esquizofrênicos na
sociedade, são os aspectos culturais. Pesquisas feitas por Murphy (Shirakawa,
I.; Chaves, A. C.; Mari, J. J; 2001; p. 223), hipotetizam as diferenças em
relação ao risco (incidência) que está relacionado com o vinculo entre a
cultura da sociedade e a visão particular do esquizofrênico, enquanto a
evolução está relacionada aos aspectos de organização social e os obstáculos
que uma cultura coloca nos modos como o individuo com esquizofrenia retornam
aos seus papeis normais.
"Como
a cultura não é algo estático, nem uma mera variável, o que precisa ser
caracterizado é o tipo de experiência que a cultura fornece para aqueles
indivíduos mais propensos em adquirir esquizofrenia” (Shirakawa, I.; Chaves, A.
C.; Mari, J. J.; 2001, p. 222).
A hipótese de que os sintomas da esquizofrenia podem ser
expressos diferentemente em cada cultura, vem sendo estudada por psiquiatras
transculturais. Esta hipótese levanta a questão do relativismo cultural, que é
representado através das seguintes idéias: mesmo que o quadro clínico aparente
ser ligeiramente diverso a forma da esquizofrenia é universal, desde que se
leve em consideração linguagem e cultura; aceitam a possibilidade de que a
cultura apresenta uma influência importante na programação do cérebro; a
esquizofrenia é exclusivamente concebida enquanto produto de atributos sociais,
já que a cultura é caracterizada pela forma de sentir, pensar e agir. Assim
através da cultura tentam explicar a razão dos sintomas dos esquizofrênicos.
Os pacientes psiquiátricos, hospitalizados por longos
períodos, têm estratégias de sobrevivência na comunidade, mas algumas destas
demonstram uma "auto - exclusão", como exemplo, a tendência ao
isolamento social, indiferença ao trabalho, rede social limitada, etc. Apesar
de a idéia parecer uma auto - exclusão, ela na verdade pode ser vista como uma
estratégia bastante sensata a partir do instante em que tais pessoas permanecem
vinculadas ao grupo de ex psiquiátricos na busca de identificar-se com os
demais em relação aos valores, recursos e experiências em comum. Através destas
tentativas de inclusão, quando o enfermo demonstra algum sintoma de recaída, em
relação a suas estratégias, um dos fatores que podem vir a ser apresentados
pelo paciente é alguma deficiência no trabalho, onde as pessoas de seu convívio
logo o afastam. Como os primeiros sintomas aparecem entre a adolescência e o
inicio da fase adulta, cada vez mais cedo, essas pessoas estão fora do mercado
de trabalho. A inserção do paciente esquizofrênico no mercado de trabalho é um
dever de toda a sociedade, pois eles podem ser produtivos.
A psicologia e a medicina há muitos anos tentam explicar e
entender a esquizofrenia, na tentativa de responder à sociedade suas dúvidas.
Segundo alguns pensadores da área da psicologia, o problema da doença mental
parece estar no olhar, na maneira de encarar a realidade: visão de si mesmo, do
outro, da sociedade e das coisas ao seu redor. Este olhar do esquizofrênico
possui como principal aspecto a percepção da realidade alterada. Em outras
palavras, a realidade seria diferente para o esquizofrênico. Isto envolve
enxergar em sua vida coisas ora assustadoras, ora prazerosas, mas que aos olhos
dos demais não existem. E também envolve não conseguir perceber o que todas as
demais pessoas enxergam, do mesmo modo que elas compreendem os fatos como certo
ou errado, justo ou injusto, bom ou ruim e assim por diante.
Desta maneira a pessoa que sofre de esquizofrenia sente-se
excluída também por não conseguir compartilhar da mesma visão da sociedade, e,
por outro lado ao sentir-se mal compreendida em sua visão particular. Viver em
um mundo exclusivo onde ninguém mais enxerga o que se pode "ver" em
seus delírios é em si propiciador de sofrimento. Pois o ser humano precisa se
sentir parte de um grupo, compreendido, amado e aceito. Também precisa se
sentir semelhante aos outros em algum aspecto para adquirir uma identidade
social, considerando que o ambiente social deve ser bem estruturado.
Apesar de todas as características da doença, o tratamento
traz bons resultados. Por isso, o esquizofrênico pode seguir uma vida
semelhante a qualquer outro individuo, como: estudar, trabalhar, namorar,
casar, ter uma vida em sociedade. A adesão ao tratamento não é uma tarefa
fácil, pois inclui, além de medicações de alto custo, comparecimento às sessões
de psicoterapia e cumprimento de uma agenda de tarefas propostas, que deverão
ser mantidas ao longo de sua vida. Pacientes que não aderem ao tratamento são
mais vulneráveis aos riscos que a doença oferece, onde esta vulnerabilidade
poderá ocasionar a morte, e a sua principal causa é o suicídio, sendo
mais frequentes em homens, por se sentirem mais sozinhos e sem esperanças.
O atual grande desafio dos profissionais da saúde é a
conscientização da sociedade de que diferentes olhares podem também ser somados
de modo muito rico. E cada profissional possui um papel importante nesta
proposta de inclusão social da doença mental. Aos demais cidadãos, fica a
tarefa de entender que o sofrimento psicológico é algo que existe em todos nós
e se manifesta de diferentes maneiras e intensidades. Isto nos permite
compreender que a pessoa com esquizofrenia precisará de ajuda e cuidado, apoio
e tratamento adequado. Excluí-la da sociedade é destruir seus últimos recursos
de sobrevivência emocional. Aceitá-la, respeitá-la e compreendê-la como um ser
em sofrimento constante, que deverá ser tratado pelo profissional da saúde,
talvez seja o primeiro dos muitos passos para um caminho mais acolhedor e
terapêutico. O olhar esquizofrênico da vida é diferente, mas pode sim
enriquecer olhares já cansados da nossa civilização, ao se depararem com uma
realidade carente de compreensão, afeto e de solidariedade, como se este fosse
um caminho para não ser louco e sim civilizado.
Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/a-esquizofrenia-e-seus-aspectos-de-inclusao-social#ixzz2DyJSSafG
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