Desvendando a bipolaridade
É interessante a invenção de novos nomes ou diagnósticos para descrever velhas patologias conhecidas. Assim como a síndrome de pânico foi uma mera derivativa das chamadas fobias, a bipolaridade é o nome moderno para o chamado transtorno maníaco-depressivo. A renomeação de moléstias segue o princípio da maquiagem moderna farmacológica, dando certa ilusão de um instrumento mais efetivo e poderoso no combate à doença. Como todos sabem, a bipolaridade é definida principalmente pela constante e repetitiva oscilação do humor e comportamento do sujeito; ora um estado depressivo, melancólico, ou a euforia, alegria e uma energização que deixa perplexo todos que convivem com a pessoa. A primeira coisa interessante para se notar é que ao contrário do que muitos pensam, o fenômeno da agressividade não se encontra no pólo maníaco, mas justamente na fase depressiva. A explicação é simples, a agressividade permeia dito pólo como uma reação à frustração da pouca durabilidade da fase maníaca e também como uma forma de contaminar completamente o ambiente ao seu redor, “como nunca irei superar tal situação, desejo que sintam a mesma angústia”. Claro que neste ponto entram elementos poderosos de inveja e vingança contra o meio. Infelizmente o bipolar sempre irá comemorar o insucesso ou infortúnio do outro, a projeção é seu mais puro e doce alimento. (claro que não estou emitindo um juízo de valor sobre o caráter de ninguém, apenas relatando uma manifestação comportamental frente ao transtorno)
O que mais chama atenção em tal enfermidade é quando da passagem depressiva para a maníaca, como disse anteriormente, há um vigor ou paz de espírito quase que sobrenaturais, causando uma total frustração no acompanhante ou familiar da pessoa, que não se conforma que o indivíduo não consiga se estabilizar em tal estágio, pois teria amplos recursos para tal empreitada. Mas neste ponto, o leitor irá indagar que é justamente a bipolaridade que não permite tal fato. O que desejo concluir é que a lamúria, tendência ao auto-sofrimento, autocomiseração é incrivelmente mais potente do que qualquer princípio da realidade que traga satisfação ou estabilidade. A mensagem máxima de todo esse processo mórbido, é a insistência numa ingenuidade ou infantilidade, achando que o meio ao seu redor deve ter eterna paciência e compreensão perante todos os mecanismos confusos e difusos apresentados. O bipolar reclama um amor incondicional, ao mesmo tempo em que tenta condicionar os outros para a aceitação de sua estrutura neurótica de personalidade. A bipolaridade não deixa de ser um fenômeno psicológico que denuncia com exatidão o espírito sociológico de nosso tempo: “tenho pleno potencial para o amor, afeto e harmonia, mas, repentinamente me lembro de meu contrato quase que vitalício assinado com o caos ou perturbação nos relacionamentos, tudo isso oriundo de um mimo não resolvido perante uma suposta rejeição das figuras parentais. O bipolar apela o tempo todo, forçando seu direito ao amor que não obteve, sendo que não resgata em hipótese alguma suas falhas pessoais nesse histórico de convívio.
A instabilidade histórica do bipolar se origina em sua angústia pessoal de identificar quem é o modelo afetivo que irá lhe proporcionar segurança; ora é o pai, a mãe, ou o ódio contra ambos, nunca havendo uma linha linear. Parece não existir uma vontade interna para a superação do problema. A medicação é vista como uma espécie de império absoluto, sendo que na maioria dos casos a psicoterapia é encarada com total desconfiança. O fato é que a manifestação mórbida possui um caráter muito forte de sedução, seja pela pena ou compaixão, exigindo uma resposta constante de pleno cuidado por parte do meio ao redor da pessoa. A insistência da psicoterapia passa a ser fundamental, pois acima de tudo, o bipolar deve a si mesmo uma explicação para todo o seu excesso. Gostaria neste ponto de colocar uma tese talvez estranha, mas que na minha concepção é bastante inovadora. E se determinado transtorno mental for um derivado de um protesto familiar ou social reprimido? Antes que alguém ache tal tese absurda, pensem que o maior medo em nossos dias é em relação à opinião alheia, coisa que o bipolar dribla com a máxima maestria, se utilizando da descompensação como escusa de suas atitudes. Este é exatamente o ponto chave, sendo que a doença é o que sobrou de certa forma de uma mitigação política e ideológica; a rebeldia ou protesto social é totalmente convertido para o pólo psicológico. Obviamente não estou querendo inferir que determinada pessoa avessa à política irá desenvolver a bipolaridade, mas, apenas ressalto o transporte de um fenômeno social para uma área privada da personalidade. A mente parece que capta qualquer aspecto importante de algum derivativo social, sendo que o mesmo jamais se apaga, apenas adquire novo molde ou formato. O bipolar encena num microcosmo toda uma esfera política e histórica da humanidade, de luta pela atenção, poder, compaixão, sedução e diversos outros fenômenos sociais. Nunca podemos pensar num modelo individualizado de tratamento sem a compreensão paralela que a doença é criativa ao adquirir determinados formatos dos moldes econômicos e sociais de nossa era.
A grande questão que se coloca é quando realmente estaremos plenamente motivados a atacar de frente determinado problema, pois parece que sempre o estamos mascarando ou rodeando. O desequilíbrio psicológico nunca é por acaso, é principalmente uma seqüência histórica de frustração e desilusão. Uma reflexão vital que todos devem fazer é sobre o tipo de poder que tentam adquirir durante a vida: criatividade, poder econômico, político, sedução e beleza ou através da doença. A necessidade de ser notado é praticamente um correlato das necessidades fisiológicas do ser humano, seja de uma forma saudável ou em tons bizarros. Nomeando de bipolaridade ou psicose maníaco-depressiva, como devemos interpretar a fundo tal fenômeno? Tanto a ascensão ou o famoso pico, quanto à queda ou depressão, remetem ao famoso conceito do psicólogo ALFRED ADLER acerca do complexo de superioridade e inferioridade. A bipolaridade nada mais é do que este intercâmbio psicológico. Na mania, a euforia, certeza da vitória, autoestima em elevação e sensação de auto-suficiência, e ainda tentativa de destaque tendo ou não os recursos para tal empreitada; na fase depressiva o choro, culpa, lamúria, necessidade de projeção do caos pessoal para outras pessoas, e insistência no mecanismo da sedução, através da pena ou solidariedade do meio enquanto a pessoa permanecer recaída.
Será que vale a pena, digamos assim, chamar a atenção ou atuar algo psicossomático constantemente? A resposta novamente nos remete ao complexo de poder. Se não temos uma vaga cativa na cena política, social ou econômica, resta o uso do corpo ou enfermidade da alma para sermos lembrados. É interessante como sempre notei o aspecto mais do que ambicioso do bipolar. Assim como no começo do estudo, faço um alerta quanto a qualquer concepção reducionista; sem sombra de dúvida, pessoas abastadas e com poder também podem descarregar suas frustrações nas enfermidades mentais, apenas estou salientando a existência do fenômeno em determinadas pessoas onde impera um vazio de poder pessoal. Quando determinado sujeito começa a notar que seu espírito talvez seja estéril, começa a manipular ou até brincar com os conteúdos psicossomáticos citados, visando uma diversificação deformada ou amplificação corrupta de seu self ou sentido de existência. Ao contrário do obsessivo, o bipolar rejeita qualquer tipo de ordem ou organização de sua conduta diária de vida. Tudo é sempre através do improviso ou impulsividade, sendo que o resultado é bastante óbvio; uma perda em todas as esferas: econômica, pessoal e afetiva. Pensemos neste ponto na questão do dinheiro; igualmente ao maníaco-depressivo de antigamente que perdia sua casa em jogo de azar, o bipolar traça o mesmo caminho de forma talvez resumida ou dissimulada; dívidas bancárias, protestos contra seu nome, perda de objetos comuns, esquecimento ou falta de cuidado com seus bens, enfim, jamais consegue cuidar efetivamente de seu patrimônio, pois se sente eternamente miserável ou dependente, atuando como uma criança que não tardará a estragar algo valioso que lhe foi fornecido ou conquistado, o consumismo é apenas uma fachada contra a terrível ansiedade que se abate sobre a pessoa.
Outra característica notável no bipolar é que o mesmo se dá plena autorização para vivenciar o egoísmo sem nenhum remorso ou culpa; faz uma matemática singular; todo o sofrimento de seu passado terá de ser pago e aceito sem reclamações acerca de sua conduta narcisista, egóica e individualista. Seus disparates são vistos pelo próprio indivíduo como uma excentricidade criativa e louvável; dando a entender que o sinal de estar vivo é sempre o comportamento de risco ou tensão. O bipolar manipula um palco para a apresentação quase eterna de uma personalidade neurótica que não dá quase nenhum sinal ou vontade de mudança. O que temos de perceber é que o desafio extremo contra a civilização ou moralidade saudável não é apenas a conduta agressiva ou marginal, mas, como FREUD pontuou com maestria, a neurose se incumbe de dita tarefa de uma forma onde não será achada ou combatida. Recalque não é apenas energia sexual ou afetiva parada, é antes de tudo um combate violento e quase que invisível às regras e normas instituídas, principalmente às que dizem da normalidade e saúde psicológica. Como estou dizendo neste estudo, a tarefa básica é colocar seu mundo de caos e lamúria pessoal acima de qualquer conceito racional de prazer ou satisfação. Novamente falando do passado o maníaco-depressivo usava sua doença ou regressão como uma fuga de sua realidade insuportável; o bipolar insiste em obter mais alguma dose de mimo ou proteção, mesmo que há muito já tenha passado de tal fase, o saudosismo será sua marca no transcorrer da vida. Sobre a questão comportamental é interessante notar alguns sintomas adjacentes em tal moléstia, um deles é a neurose obsessivo-compulsiva ou o moderno “toc” (transtorno-obsessivo compulsivo), mais uma vez um novo nome para um velho problema conhecido. Mas o curioso é que sua obsessividade é totalmente restrita a certa área, ou círculo de atuação bem reduzido: mania de limpeza apenas em um cômodo da casa, em seu corpo também, citando dois exemplos. A análise deste círculo diminuto de poder ou preocupação é simples; é uma denúncia ou reprodução de sua carência ou sensação de ter obtido pouca atenção afetiva de seu meio, ou seja, reproduz sua miserabilidade emocional em determinadas manias.
Fato é que determinadas pessoas famosas ou célebres, como observei também desenvolvem os sintomas citados, o que refutaria todas as colocações anteriores, porém, em defesa de meio argumento deixo claro que o bipolar utiliza determinado estratagema em virtude de sua imensa carência ou baixa estima, já determinadas pessoas notórias desenvolvem todo o comportamental descrito pela culpa ou a famosa neurose de êxito, tão bem descrita por ALFRED ADLER, como sendo uma solidariedade neurótica para os não afortunados, destruindo seu próprio potencial pessoal para tal finalidade. Mas tal fenômeno não entraria em choque com o egoísmo de nosso modelo social? A resposta é não, porque o destaque também irá cobrar um preço, e o mesmo pode vir a ser a vulnerabilidade para todo o tipo de crítica do meio. A diferença entre a descrição dessas pessoas notórias e o bipolar, é que este último lida, desvia ou contém muito bem o sentimento de culpa, pela obrigação da dívida do meio para seu afeto reduzido. Três coisas o ser humano jamais conseguirá, pelo menos até o presente; imortalidade, sentimento de segurança, e blindagem contra a vergonha ou crítica da sociedade, mesmo que tenha obtido sucesso ou poderio econômico. O bipolar segue o mesmo traçado da problemática das drogas, ou melhor dizendo, uma total insensibilidade perante as pessoas que o acompanham, principalmente na esfera econômica, obrigando gastos excessivos para o tratamento sem nenhum remorso ou senso do sacrifício para cobrir tal necessidade. É valioso dizer que esta questão que estou discutindo se assemelha novamente à questão da medicação psiquiátrica em nossos dias, num primeiro momento há uma melhora, para depois, o remédio se tornar um ícone por si só, independentemente se produz ainda ou não resultados. É como se uma determinada substância química cobrasse o preço de seu efeito muito além do que o indivíduo está habilitado a pagar, não é esse o problema central do drogadicto? Se pensarmos em termos estruturais a coisa se torna até um pouco mística ou paranormal, como se algumas pessoas tivessem um convite especial para usufruírem de todo sofrimento sem nenhum limite ou prazo de validade. Um passe livre permanente ao caos desenfreado ou até sem propósito se fizermos uma análise profunda pelo lado racional.
Retomando o aspecto da infantilização do bipolar, tal fenômeno é uma reação pretérita, presente e futura contra a terrível angústia da morte, pois a partir do momento que jamais aceito o crescimento ou evolução, simbolicamente estarei adiando o triste fim de todo ser humano. O problema é que tal conduta tem sérios efeitos colaterais, pois mescla fases de desenvolvimento que geram conflitos internos poderosos, e o resultado é a insatisfação crônica acerca de si própria, nada o satisfaz, sendo que até o lado positivo ou determinado ganho é encarado com queixas ou desconfiança. Mas se o bipolar lida muito bem com a culpa, já não o consegue com a questão do arrependimento. E qual seria a diferença entre os dois? A culpa é um processo rígido, crônico, estabelecido ou extremamente embasado na personalidade do sujeito, é uma espécie de estilo de vida ou traço marcante de seu self. O arrependimento se assemelha mais a um estratagema infantil para a comoção ou evitar a agressividade ou vingança do outro por alguma falta cometida. A prova disso tudo é que se pensarmos na culpa, a mesma tem raízes históricas, pois na maioria das vezes imputa no semelhante uma fragilidade inexistente, sendo que a pessoa acha que o outro será destruído por determinado comentário ou ação, a culpa reduz plenamente a capacidade de absorção do outro, sendo que o arrependimento quer motivar a compaixão. Um fenômeno curioso que noto há algum tempo é que parece que determinadas pessoas vivenciam ou atuam problemáticas que não são verdadeiramente de seu íntimo, mas que são emprestadas de seu meio circundante, como se fosse uma terceirização do sofrimento como brincou um de meus colaboradores dos meus textos. Tal situação novamente se remete à culpa ou solidariedade com o caos alheio, um acordo mais do que mórbido para a pessoa adiar a resolução de seu problema íntimo, sentindo que o mesmo é quase que insuperável; obviamente fica mais fácil depositar as energias na consecução da resolução do problema do outro.
Voltando a questão da medicação, novamente faço um alerta para o extremo cuidado ao ser ministrada, pois a química tem o simbolismo da emergência, sendo tudo que o espírito do bipolar está acostumado e não consegue afastar. Acho que está claro até o presente ponto que fica quase que impossível o estabelecimento de limites comportamentais em tal enfermidade, o que seria a cura se tal ato fosse possível. O problema é que qualquer tentativa externa é sempre inócua e só produz mais rebelião e protesto, dado que o bipolar ama com paixão a extravagância, rebeldia infundada ou o protesto inútil. A essência do desvio comportamental é exatamente se alimentar da preocupação ou esforço para sua extinção ou cura, esta é sem dúvida alguma a contradição máxima jamais resolvida pela psicologia ou psiquiatria. A coisa é tão clara que na experiência clínica noto que o bipolar apenas faz uma reflexão de suas atitudes na extrema perda ou rompimento, quando não consegue mais ser o centro do palco através de sua neurose, sentindo que a pessoa ao lado desistiu literalmente de todo o esforço para uma melhoria da condição em que o sujeito se encontra. Nesse momento respinga no mesmo um ar adulto ou consciência de sua responsabilidade seja afetiva, profissional ou social, porém, não tardará a se utilizar novamente de sua arma preferida para que as coisas permaneçam do mesmo jeito que outrora, apelando incessantemente para a compaixão ou piedade de seu infortúnio. Notem que todos detestam o termo piedade, pois se refere a uma pessoa totalmente despotencializada ou desprovida de capacidade de gerir sua existência. Porém, o bipolar sempre arruma uma forma genuína de transformar aquela piedade vergonhosa num triunfo de suas expectativas ou atos desajustados a fim de perpetuar os mesmos.
Tal tese coloca na encruzilhada talvez quase que toda a história da psicologia, acerca do fenômeno da escuta. Este muitas vezes passa a ser uma espécie de sonífero contra a percepção da dificuldade de mudança ou transformação verdadeira. Não estou tampouco defendendo nenhuma abordagem comportamental ou imposição de regras, o que seria totalmente infrutífero, ressalto apenas o lado pouco prático da psicoterapia, pois a resistência se acha na própria queixa do paciente ou na escuta passiva do terapeuta, sendo a missão máxima do mesmo desvendar todo o rol de mentiras que o sujeito interpreta acerca de seu problema. Nunca uma queixa é isolada, nem mesmo os chamados fenômenos psicossomáticos, ou orgânicos, tudo forma um palco nebuloso de continuar na mesma, mesmo com todas as perdas de tal escolha. Mas então se trataria de uma espécie de masoquismo e a psicoterapia apenas seria uma desculpa para dizer que se tentou algo novo? FREUD, ADLER, JUNG, todos tocaram no chamado mecanismo da compensação que a doença produz, desde a atenção até evitar a humilhação de um teste real caso a pessoa não se escondesse atrás de determinado infortúnio. Retomando minha velha idéia, o distúrbio neurótico se torna uma espécie de vírus ou entidade com inteligência própria e sentido de sobrevivência, não é a toa que os antigos confundiam doença mental com possessão, e ao invés da psicanálise ir a fundo nisso, se escondeu atrás de preconceito ou um falso senso científico dos fatos. Uma prova dessa tese toda é a característica do neurótico se cercar de pessoas tão ou mais problemáticas, mascarando por completo todo o seu dever de evolução psíquica ou melhor dizendo, zerando sua dívida para com a saúde. Tudo o que estou falando serviria para diversas moléstias; depressão, compulsão, paranóia dentre outras e obviamente bipolaridade. A neurose nunca foi criativa por natureza ao contrário do que podemos pensar, mas tal fato nunca serviu de atenuante para seu alto poder destrutivo na pessoalidade do ser humano. O bipolar é apenas uma variação um pouco mais moderna, tomando todas as características de chantagem emocional num patamar extremamente potencializado, onde a diferença de outrora é o perigo real, pois nunca mede conseqüências. Não chega a ser um suicida, mas sabe como ninguém matar todo um equilíbrio emocional, familiar e afetivo.
Se todos os filósofos e grandes pensadores destacaram a necessidade da descoberta do sentido da vida, cabe a psicologia descobrir a causa do real e verdadeiro sofrimento que abala a estrutura psíquica. Antigamente a doença mental levava certamente ao óbito; hoje em dia, seguindo a tendência da medicina no tocante ao prolongamento da expectativa de vida, notamos que o abalo psicológico tenta se eternizar sem destruir a vida biológica da pessoa. Retomando as diferenças ou semelhanças entre bipolaridade e transtorno obsessivo-compulsivo, é interessante a falha na recomendação da conduta sobre o tratamento. Muitos avaliam que a terapia comportamental é a melhor solução para ambos os casos, se esquecendo que o esforço para eliminar tais moléstias, já é sem sombra de dúvida o combustível para a perpetuação das mesmas, pois ambas se alimentam de uma atenção consciente e inconsciente sem precedentes no âmbito psicológico. Na verdade o transtorno obsessivo compulsivo não deixa de ser a loucura da segurança ilimitada transportada para todo o tipo de mania (“não admito em hipótese alguma perder as coisas conquistadas em meu suposto reino pessoal”), já a bipolaridade tocando novamente na diferença é justamente o inverso, uma espécie de esporte radical da mente, levando a mesma a todo tipo de excesso ou desajuste pessoal e social. Se pensarmos no próprio complexo de Édipo ou a clássica noção do trauma em termos da psicologia, veremos que ambos remetem sempre à canonização do passado, seja revivendo o sofrimento ou o saudosismo de um prazer que foi real ou imaginado pelo sujeito, o fato é que no distúrbio da bipolaridade as coisas são semelhantes, regredir, necessidade constante de ser cuidado e amparado.
O bipolar assim como a maioria dos drogadictos não vislumbra nem de longe a hipótese de uma tomada de decisão para a resolução de seu caos pessoal; as conseqüências são mais do que conhecidas, perda de oportunidades em todas as esferas: profissional, social e afetiva. No decorrer deste estudo, venho salientando um paralelo pouco notado pela medicina e psicologia entre bipolaridade e infantilismo. Todas as armas serão usadas para a manutenção deste último, e é neste ponto que a bipolaridade irá se confundir quase que totalmente com o fenômeno da loucura ou esquizofrenia, pois não medirá nenhum esforço em qualquer manifestação mórbida para a consecução de tal objetivo, seja através da histeria, compulsão ou toxicomania. Todo profissional experiente já notou há muito tempo que tal transtorno talvez seja o maior desafio da saúde mental das últimas décadas, pois assim como a drogadicção, parece que qualquer esforço sempre acaba em desilusão ou fracasso. Por acaso alguém tinha a ilusão de que numa sociedade que potencializa toda esfera negativa o tempo todo, o distúrbio mental não iria mimetizar da mesma forma? O fato é que estamos nos deparando com desafios mentais extremamente amplificados, e parece que só estamos narcotizando ou mascarando os nefastos efeitos de nossa vida cotidiana permeada pela competição, disputa de poder e inveja. Infelizmente em tais pecados capitais ninguém ousa adentrar, conseqüência de um puritanismo maléfico para qualquer espírito que deseje alguma evolução na alma humana.
Fonte pesquisa:http://antonioaraujo_1.tripod.com