SÍNDROME DE JERUSALÉM
Sintomas da síndrome de Jerusalém
Sansão é um personagem
bíblico conhecido por sua força sobre-humana – o Hércules do
Velho Testamento. Um americano de meia-idade achou que ele mesmo
era Sansão. O homem forte da era moderna decidiu que parte do
Muro Ocidental precisava ser movido. Ele passou muito tempo se
preparando fisicamente e veio a Israel para movê-lo. Depois de
uma indisposição com autoridades, ele foi levado para um
hospital psiquiátrico.
Já no hospital, um dos
psicanalistas inadvertidamente o avisou de que ele não era
Sansão. Ele arrombou uma janela e fugiu do hospital. Uma
enfermeira o encontrou no ponto de ônibus, elogiou sua força e
destreza, fazendo com que ele cooperasse.
Também há o caso da
Virgem Maria, ou melhor, a mulher que acha que é a própria
Maria. Todos os dias ela segue para a Igreja do Santo Sepulcro,
e pranteia a morte de seu filho Jesus no altar de Gólgota. Há
uma outra Virgem Maria que convida a todos para a festa de
aniversário de seu filho em Belém. A polícia israelense já
capturou inúmeros indivíduos vestidos com peles de animais,
tentando batizar pessoas, tal como João Batista.
GALI TIBBON/AFP/Getty Images Os peregrinos cristãos da Etiópia dormem do lado de fora da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém |
De acordo com o Dr.Yair
Bar-El, os sintomas da Síndrome de Jerusalém são:
-
ansiedade;
-
a urgência de deixar o grupo e explorar Jerusalém sozinho ou sozinha;
-
uma obsessão por limpeza, por banhos, chuveiros, etc;
-
cobrir-se com uma túnica branca feita com lençóis de cama;
-
cantar louvores ou recitar músicas ou versos bíblicos;
-
ficar andando nos locais sagrados;
-
pregar um sermão neste mesmo local, conclamando as pessoas a uma vida melhor [fonte: Bar-El et al].
Os guias turísticos de
Jerusalém observam estes dois sintomas: agitação, pessoas tensas
ou que começam a se desvincular do grupo querendo seguir viagem
sozinhas devem ser acompanhadas de perto. Uma vez que se
encontram no estágio da túnica branca, não há nada que as faça
parar.
Waco, Texas
Outras
pessoas dizem que outro exemplo real da síndrome
de Jerusalém é o que aconteceu com David Koresh,
fundador da seita Herdeiros de Davi envolvido no
incidente em Waco. Foi somente depois de sua
viagem a Israel que Vernon Wayne Howell
rebatizou a si mesmo como David Koresh, em
homenagem ao Rei David da Bíblia, e começou a
disseminar suas obscuras profecias sobre o
Armagedon. Alguns especialistas afirmam que
grupos como a
seita de Koresh tendem a ser inofensivos, a
menos que se sintam perseguidos. Um psiquiatra
chegou a sugerir que os negociadores dessem
crédito aos devaneios de Koresh, como
normalmente é feito nas clínicas que tratam de
problemas como o da Síndrome de Jerusalém
[fonte:
CrimeLibrary (em inglês)].
|
Perfil da síndrome de Jerusalém
"Sansão" parecia ter as mesmas
características de uma pessoa
esquizofrênica (em inglês). Então, qual
é o histórico padrão de uma pessoa que sofre
da síndrome de Jerusalém?
A
maioria das pessoas (cerca de 80%)
acometidas da síndrome de
Jerusalém apresentaram algum tipo de
transtorno mental e/ou psicótico, fixação ou
problemas de ordem pessoal [fonte: Kezwer].
Elas podem já ter histórico de algum tipo de
distúrbio psicológico - "Sansão" faz parte
desse grupo - ou ter algum tipo de desvio de
personalidade ou fixação.
Grande parte das pessoas que formam esse
grupo são judeus; outros são cristãos e
alguns poucos, muçulmanos. Os habitantes
locais também estão incluídos nesta
estatística. Judeus com a síndrome tendem a
se identificar com os personagens do Velho
Testamento, Cristãos, com os do Novo
Testamento. Homens se identificam com os
personagens masculinos e mulheres, com os
femininos.
Mas o grupo mais interessante é o de uma
minoria – pessoas sem histórico de doenças
mentais, que visitam Jerusalém, manifestam
os sintomas da síndrome e se recuperam
rapidamente. Alguns especialistas afirmam
que esse grupo não existe, que alguém que
não apresente algum tipo de transtorno
mental adquira espontaneamente um problema
desses. Mas outros discordam.
Quem é propício a ter a Síndrome de
Jerusalém?
Homens e
mulheres representam numericamente quase
a mesma quantidade, com uma ligeira elevação
da taxa para as pessoas do sexo masculino. A
maioria delas são:
-
da América do Norte (ocasionalmente da Europa Ocidental);
-
membros de uma religião cristã protestante;
-
enquadrados numa faixa etária de 20 a 30 anos;
-
solteiros.
Estudos indicam que pessoas que contraíram a
síndrome tiveram uma infância muito
religiosa, mas abandonaram a religião em
algum estágio de sua adolescência ou no
início da vida adulta. Portanto, o que
esperam ver quando vêm para Jerusalém é o
retrato gravado em suas mentes quando
crianças, não uma moderna e agitada cidade.
PATRICK BAZ/AFP/Getty Images Pessoas que visitam Jerusalém normalmente esperam encontrar um local parecido como na época bíblica. Eles não esperam encontrar telefones celulares e cartazes de propagandas |
Por qual motivo estariam os cristãos
protestantes mais suscetíveis a todo esse
fervor religioso? O Dr. Bar-El sugere que
esses estariam mais propensos porque,
diferentemente de judeus e católicos, que
têm tradições, rituais e um mediador para
com o Divino (tal como um sacerdote),
protestantes se relacionam diretamente com
Deus [fonte: Lee]. Os rituais, nesse
contexto, podem amarrar a pessoa, conectá-la
a Deus de um modo simbólico pela liturgia.
Por que os Estados Unidos, Canadá e Oeste
Europeu? Talvez porque a religião tem um
lugar incerto no modo de vida ocidental nos
dias de hoje. Imagine as notícias que você
ouve: de um lado, ouve-se falar de
extremistas religiosos suicidas carregando
bombas, prontos a detoná-las em nome de um
poder superior. Por outro lado, você ouve
sobre pessoas denunciando a
evolução ou o que você chama de "Natal"
em uma carta escolar. Parece ser algo em
escala, e o nosso mundo moderno e
ocidentalizado não sabe mais onde depositar
sua fé. Para aqueles que cresceram devotos e
alicerçados na palavra de Deus, o panorama
atual não atende aos padrões bíblicos.
Talvez ele (ou ela) pense que um retorno às
raízes da religião traria de volta a pureza
e simplicidade de outrora.
Para alguns, uma visita a Jerusalém vira o
mundo de cabeça pra baixo. Mas seria essa
síndrome real? Ou estamos falando de gente
que deseja tornar seu passeio pelo
Mediterrâneo um pouco mais extravagante?
A realidade da Síndrome de Jerusalém
É
certo que muitas pessoas acometidas dessa
“enfermidade” têm um histórico de problemas
psiquiátricos. Para elas, a Síndrome de
Jerusalém é uma extensão da sua insanidade.
Se você já está mentalmente doente, a
tendência é que seus pensamentos acabem se
fixando num objeto específico. Poderia ser
uma fixação por
OVNIs, ou então
teorias conspiratórias - poderia ser
também por Jerusalém e o retorno à pureza.
Para essas pessoas, Jerusalém passa a ser um
lugar culturalmente e historicamente cheio
de simbologias que podem dar vazão às suas
idéias.
Podemos concluir que, nesses casos, a
Síndrome de Jerusalém não pode ser
considerada uma anormalidade particular – é
um sintoma com uma abrangência maior. Mas o
que dizer em relação às mudanças de
comportamento que ocorrem com indivíduos
cuja sanidade mental não é questionável?
Pessoas com a síndrome propriamente dita não
agem como loucos. São ansiosos e até
preocupados - e se eu for o Messias? E se eu
estiver grávida do Messias? O que eu deverei
fazer? - são também educados. Eles descrevem
suas experiências como uma sensação de
desorientação ou algo parecido com uma
intoxicação. Eles não ficam
alucinados (em inglês). Eles sabem quem
são (eu sei que sou José Silva, mas e se
José Silva for o Messias?) Eles se lembram
com detalhes do que aconteceu, se
envergonham e relutam em discutir o assunto.
Dizem ainda que sentiram algo se abrindo
dentro delas. [fonte: Bar-El].
Especialistas na Síndrome de Jerusalém
acreditam que isso não passa de uma
psicose (em inglês). Dizem ser uma
reação ao local ou algo mais enraizado
dentro de si mesmo.
Eliezer Witztum, professor de psiquiatria,
descreveu esse grupo de pessoas como
peregrinos ao invés de turistas. Pessoas em
férias deixam tudo para trás, movendo-se do
centro de suas próprias vidas para um local
distante, tanto fisicamente como
emocionalmente. Quando estamos viajando,
queremos esquecer de tudo o que nos amarra.
Peregrinos viajam para o centro de seu
mundo, mergulham de cabeça, ao invés de
deixá-lo de lado. É esta proximidade com o
objetivo central de suas vidas, essa busca
profunda de significado, que leva essas
pessoas a uma experiência difícil de ser
suportada. É simplesmente demais para elas
[fonte: Lee].
GALI TIBBON/AFP/Getty Images Os peregrinos carregam folhas de palmeiras durante a procissão de Domingo de Palmas que vai desde o Monte das Oliveiras até a antiga cidade de Jerusalém |
É
Jerusalém a causa dessas ilusões? Na verdade
não. Pode-se dizer que a cidade é um
catalisador para reações intensas em pessoas
predispostas a elas devido a sua formação
religiosa.
É
claro que alguns médicos acham que a idéia
de classificar clinicamente a Síndrome de
Jerusalém como uma doença clínica não faz o
menor sentido. Realmente, não há bons
estudos que a comprovem com uma síndrome.
Pessoas supostamente acometidas pelo
problema relutam em fornecer detalhes sobre
o assunto e preferem seguir com suas vidas
como se nada tivesse acontecido. Em outras
palavras, você provavelmente não verá algo
sobre a Síndrome de Jerusalém publicado no
DSM-IV (Classificação da Associação
Americana de Psiquiatria) tão breve.
Tratamentos para a Síndrome de Jerusalém
Quando indivíduos começam a demonstrar
sinais da síndrome, autoridades sabem que
precisam levá-las para Kfar Shaul,
um hospital psiquiátrico.
Os médicos não podem dizer ao "rei Davi"
que ele não é o rei Davi - pois isso não
anula de forma alguma a visão que o paciente
tem de si mesmo e de sua missão. Os médicos,
às vezes, fazem uso de medicamentos leves e
tranqüilizantes para tentar amenizar o
problema.
A
melhor forma de ajuda, segundo os médicos de
Kfar Shaul, é remover os pacientes da cidade
e levá-los até suas famílias. Uma vez que
estiverem com a sua família e fora daquele
ambiente, voltam ao normal. Retomam ao seu
ritmo de vida normalmente, e nenhum traço de
debilidade mental permanece. Todo o processo
dura em torno de cinco a sete dias. Depois
disso, é como se nada tivesse acontecido.
Muitas pessoas que adquirem a Síndrome de
Jerusalém não são tratadas. Em um ano, entre
100 turistas que dão entrada no Kfar Shaul,
apenas 40 são submetidos a uma avaliação
médica mais criteriosa.
KHALED DESOUKI/AFP/Getty Images Palestinos recebem doces na mesquita de al-Aqsa em Jerusalém durante as celebrações do final do período do mês do jejum sagrado. Um turista que já teve Síndrome de Jerusalém tentou incendiar a mesquita. |
Por causa de pessoas como David Koresh e
Michael Rohan – um turista cristão que dizia
ter sido acometido pela Síndrome de
Jerusalém e que tentou incendiar a mesquita
de al-Aksa – as autoridades israelenses
começaram a levar o assunto mais a sério.
Antes do ano 2000, médicos e autoridades
israelenses e até mesmo o
FBI demonstravam preocupação com o nível
de violência que poderia atingir a cidade
santa. Eles temiam que
seitas apocalipticas e líderes
carismáticos cometessem atos terroristas a
fim de iniciar o Armagedom - além de
impressionar os turistas. Felizmente, não
houve nada parecido em pacientes admitidos
no hospital psiquiátrico de Kfar Shaul com
sintomas da Síndrome de Jerusalém.
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