sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Neurose Conceitos e causas


Os problemas psíquicos podem ser classificados em dois grandes grupos: as psicoses e as neuroses. Em caso de psicose, um problema mental muito grave provavelmente provocado por alterações orgânicas cerebrais ainda não identificadas, o paciente perde o sentido da realidade e a sua personalidade encontra-se desorganizada, como acontece, por exemplo, em caso de esquizofrenia. No caso da neurose, um problema psíquico de menor gravidade, o paciente não perde o sentido da realidade e a sua personalidade não se encontra desorganizada. Para além disso, os sinais e sintomas psíquicos e físicos manifestados durante as neuroses não costumam ser provocados por alterações orgânicas, mas pela lesão interna provocada pelos conflitos que o indivíduo irá encontrar até se adaptar ao meio que o rodeia.
A neurose costuma afectar indivíduos com uma personalidade predisponente, o que favorece uma tendência para negar a realidade e para resistir a ela. Por outro lado, a educação e as características culturais do meio também desempenham um pa- pel muito importante no desenvolvimento de uma neurose, pois contribuem de forma decisiva para moldar a personalidade, podendo acentuar, consequentemente, os traços neuróticos do indivíduo. Para além disso, a neurose pode ser desencadeada ou agravada pelo aparecimento de circunstâncias que, por serem stressantes ou conflituosas, podem acentuar ainda mais os traços neuróticos do indivíduo. Existem vários tipos de neurose consoante os traços da personalidade e as manifestações características. Os mais significativos são provocados pelas perturbações de ansiedade ou pelas neuroses de angústia, anteriormente referidas - a neurose histérica e a neurose obsessiva.
Neurose histérica
A neurose histérica, ou simplesmente histeria, caracteriza-se pela existência de alterações transitórias da consciência, tais como períodos de amnésia ou perda de memória, e por diversas manifestações sensitivas ou motoras, igualmente passageiras e perturbadoras, tais como tiques, perda da sensibilidade cutânea, paralisia dos membros, cegueira ou convulsões.
O problema, muito mais frequente nas mulheres do que nos homens, costuma afectar pessoas com personalidade histérica, ou seja, uma personalidade caracterizada por uma forte tendência para ser o centro das atenções, para seduzir e sensualizar as reacções afectivas e sociais, teatralizar os conflitos e manipular ou confundir a realidade. Um outro traço importante deste tipo de personalidade é um evidente poder de auto-sugestão, o que torna estes indivíduos vulneráveis e dependentes nas relações pessoais, podendo perturbar-lhes as suas percepções sensoriais.
Por outro lado, do ponto de vista psicológico, considera-se que a histeria possa ser provocada por conflitos vividos ao longo da infância, os quais tenham sido reprimidos e posteriormente esquecidos, mas que são, alguns anos mais tarde, inconscientemente activados perante determinadas situações. De acordo com esta perspectiva, estas manifestações também poderiam provocar um efeito secundário benéfico ao paciente, pois desta forma poderiam conseguir iludir certas responsabilidades ou receber mais atenção das pessoas que o rodeiam.
Manifestações. A histeria permite vários tipos de manifestações psíquicas e físicas que se costumam evidenciar sob a forma de episódios passageiros. As manifestações mentais mais comuns são os episódios denominados acidentes psíquicos, de perdas da memória de uma determinada época da vida, de situações de multiplicação da personalidade, de estados de sonambulismo, de crises de perda da consciência e de alucinações. As manifestações físicas, sob a forma de episódios designados acidentes somáticos, podem afectar o funcionamento de todos os órgãos ou sistemas e correspondem a fenómenos tão diferentes como perdas da mobilidade ou contraturas musculares de um membro, crises de dor abdominal, estados de cegueira passageira ou perdas da sensibilidade cutânea.
Evolução. Embora a personalidade histérica seja crónica, por definição, a neurose histérica não se costuma prolongar por muitos anos, excepto nalguns casos em que predominam as manifestações físicas.
Neurose obsessiva
A neurose obsessiva caracteriza-se pela presença e persistência de uma série de ideias fixas e obsessivas, receios injustificados e actos compulsivos que, em conjunto, se tornam irracionais, constantes e muito difíceis de controlar. Este tipo de neurose, mais frequente nos homens, costuma afectar indivíduos com uma personalidade obsessiva, caracterizada por uma grande propensão para questionar as coisas, por grande insegurança pessoal e pelo recurso a várias superstições. Para além disso, constatou-se que uma educação em que se valoriza em excesso a moral, a ordem e a higiene também pode constituir uma predisposição ao provocar o desenvolvimento de um forte sentimento de culpa. Por outro lado, a doença é frequentemente desencadeada por conflitos afectivos, sociais ou profissionais que acentuem o carácter obsessivo do indivíduo.
Manifestações. É possível distinguir três tipos de manifestações.
As ideias obsessivas caracterizam-se por serem injustificadas, constantes e atormentadoras. O conteúdo é muito variável: temas religiosos, de natureza física ou espiritual, metafísicos, a preocupação pela proporção e ordem das coisas, o decorrer do tempo... Em qualquer caso, o que mais sobressai nestas ideias é a predominância da dúvida em detrimento das respostas e soluções práticas.
Os receios obsessivos, igualmente injustificados e persistentes, podem manifestar-se após qualquer situação interpretada como sinal de mau augúrio, como é o caso de uma pequena ferida que pode infectar, agravar, provocar uma doença grave, pôr em perigo a vida...
Os actos compulsivos consistem em rituais complexos, elaborados e supersticiosos, realizados com o intuito de prevenir situações de perigo, e consistem em excessivas verificações, em lavar as mãos com uma frequência exagerada ou realizar sistematicamente vários gestos ao passar por um determinado sítio.
Evolução. Caso as manifestações sejam ligeiras e desencadeadas por circunstâncias pontuais, o prognóstico costuma ser favorável. Por outro lado, quando as ideias, receios e actos obsessivos são intensos, podem captar toda a energia do paciente, perturbando progressivamente a realidade pessoal.


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