sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Considerar a metáfora paterna





Algumas reflexões sobre a mudança no conceito de metáfora paterna e sua implicação na direção da cura, especialmente na posição do analista. Assim, de ação simbólica fundante de uma estrutura, aos Nomes do pai como possibilidades de amarração da estrutura que é agora definida pelo enodamento do real, imaginário e simbólico, e carrega uma perda que exige escrita e não apenas articulação significante.


O conceito de castração; a função do falo como objeto especular que se distingue do falo, objeto imaginário, sem representação especular e operador na castração ou como significante (seja de desejo, seja de gozo); e a função do pai foram trabalhados por Lacan ao longo de toda a sua obra.

A fórmula da metáfora paterna aparece pela primeira vez no texto “D'une question préliminaire à tout traitement possible de la psychose” (1957/58). Os seminários “As Psicoses” e “A Relação de Objeto” antecederam e prepararam sua escrita.

Em 1958, Lacan pronuncia uma conferência em alemão, cujo título “Die Bedeutung des Phallus” foi traduzido “A Significação do Falo”. Tal tradução pode encobrir o paradoxo do termo Bedeutung que carrega dois sentidos: o já citado, “significação”, e também o de “referente”. Lacan se reporta a esta “péssima tradução” (embora diga que não encontrou equivalente melhor) pois Bedeutung... designa a relação com o real”.

Em novembro de 1963, Lacan pronuncia um único seminário “Les Noms du Père” (interrompido pela sua expulsão da IPA), tema anunciado nas últimas lições do seminário sobre a angústia. Já naquela época, questionava sua própria teorização sobre a metáfora paterna e o Nome-do-Pai. Dez anos depois inicia o seminário “Les non-dupes errent” e em seguida “R.S.I.”, heresia.

Por que faço esta escolha entre os diversos seminários e escritos de Lacan?

Para lhes dizer que os conceitos de castração, falo e Nome-do-Pai precisam ser percorridos em sua obra. Para lhes sugerir que a nossa apropriação desses conceitos supõe situá-los nos diferentes momentos de sua elaboração teórica e supõe ser possível ressignificá-los a partir de outros dados. E mais ainda, quando Lacan toca a dimensão do herético estamos diante de um ato de subversão. Produz-se uma comoção tal que a psicanálise surge modificada, instaura-se uma práxis no equívoco, que suporta o real.

Assim, nos anos sessenta, a metáfora paterna pode ser considerada a escrita lacaniana do complexo de Édipo e da castração. Ação simbólica, fundante de uma estrutura pela introdução do elemento de falta no universal, cujo efeito é inscrever o sujeito na lei e na filiação, marcado pela culpa, pela dívida e pelo desejo. Sujeito dividido nesta estrutura significante que sempre produz perda.

Culmina na produção da significação fálica, metafórica ou metonímica. Mas, algo escapa: enigma que incide sobre o desejo materno, sobre o desejo do Outro.

Na fórmula da metáfora paterna, o desejo da mãe comporta relação a um x que, do outro lado, é o falo. O que a mãe deseja falta. Como o mesmo termo está no numerador e denominador, esse pode ser barrado e o Nome-do Pai metaforiza o desejo da mãe:
Porém, esse x, enigmático, sem barrar, permanece, efeito da própria inscrição na linguagem e no discurso. Ao mesmo tempo, abre-se uma passagem possível para a questão do gozo feminino, que Lacan vai desenvolver mais tarde. Isto é, apesar da necessária interdição do Nome-do-Pai e porque há essa interdição demarca-se o falo como significante de desejo e de gozo e, também, a possibilidade de ultrapassar este limite: o gozo não fálico.

O significante Nome-do-Pai foi usado, muitas vezes, numa dimensão religiosa, de garantia. Porém, o Outro não assegura nem a verdade, nem o gozo. É o que Lacan enfatiza em seus últimos seminários. Ao pluralizar o Nome-do-Pai, ao escrever “les non-dupes errent”, mostra que não há o significante regulador do gozo, “desidentifica” o analista deste lugar... e propõe trabalhar o equívoco que a própria linguagem carrega.

Os nomes do pai vêm suprir o erro estrutural humano promovendo uma certa estabilização e não têm a mesma função que na metáfora paterna, inauguradora da estrutura.

O sujeito ao se confrontar com a perda estrutural, a falta de garantias e inconsistência do Outro, apresenta respostas sintomáticas. Para o analista se coloca a questão de responder do lugar que mantenha aberto o espaço do desejo articulado ao gozo, no desassossego que recusa a idealização, a identificação; sem deixar o paciente cair como objeto; sem oferecer “respostas tranqüilizantes” e, também, sem se omitir...

Lacan diz em algum lugar que a práxis psicanalítica não é impossível. É difícil. Na conferência de Bruxelas, afirma que as histéricas desempenharam um papel social preciso: em seus salões acontecimentos intelectuais, artísticos se difundiam e “ao escutá-las Freud inaugurou uma forma inteiramente nova de relação humana”. Porém, hoje a “doideira” psicanalítica substitui os sintomas histéricos. Televisão, jornais, revistas, etc. se ocupam da psicanálise e os analistas são instigados a falar sobre qualquer assunto, fora de seu campo, desamarrados do discurso psicanalítico, desamarrados do real.

Chamado a comparecer, participando do tecido social o analista não pode responder que não há ninguém... Assim não consideramos a omissão uma saída, embora seja possível e, às vezes, tentadora...

Entre a “doideira” e a omissão não haveria alternativas?

Sem se esquivar, reconhecer o limite da psicanálise, posição esta que não é clamor de verdade, nem revolucionária, nem busca convencer. Subversiva, talvez. Algo passa pelo equívoco. Analista errante na estrutura de dogma, faz seu caminho de questionamento, sustentado por um discurso marcado pela finitude, não dá garantias. Diferente do discurso religioso, que se supõe eterno e não, contingente. E sendo datado, tem algo de acontecimento. Este lugar do analista vai ficando mais claro nos últimos textos de Lacan, demarcando uma nova clínica que responde cada vez com mais precisão à dimensão do real. Não se trata portanto de imaginário, de sintomas novos, mas é preciso desvencilhar-se de velhos conceitos psicanalíticos que beiram a ideologia. Os sintomas de fato variam, porque em cada época histórica o sujeito recolhe fios da trama social para tecê-los. No início do século passado, assistimos à decadência do pai. Freud, com o complexo de Édipo e o mito do pai primevo, em parte obturou esta falha, tentando dar consistência a algo que desvanecia. Lacan analisa essa consistência e provoca a ruptura neste ponto já frágil, mas não de qualquer forma. Aponta a ex-sistência. Não fala nem além do pai, nem além do falo. Não se supera o pai, nem se fica livre dele. A questão é outra: a relação com o real. A função não é apenas do falo como significante ou como objeto, mas função escritura e o falo como letra. O real tem que ser escrito e não superado. Ultrapassar o pai é uma demanda neurótica para não escrever nada. Os psicanalistas, como qualquer um, estão inscritos no simbólico, submetidos à sua dimensão de verdadeiro-falso; certo-errado. Desta forma podem se instalar do lado imbecil do saber, alienados a algum significante do ideal ou ao próprio fantasma.

A própria teoria psicanalítica pode imbecilizar – por exemplo, a amarração do complexo de Édipo, percebida como a única possível – embotando a descoberta de outras e o trabalho com o real. Daí a importância da interlocução com um ponto fora do discurso psicanalítico para desalojá-lo de sua própria debilidade mental. Assim, os analistas ficam advertidos do ponto fora: o que ex-siste é fundamental.

Se não há garantia da tomada do sujeito no campo do Outro, este enganche depende do acaso, é acidental, poderia não ter ocorrido e o modo como cada sujeito se inscreve na estrutura não só é precário como muito particular. Em análise não se trata de retificação...

Trata-se de tocar um real que não se move. A escritura que faz a borda do real é uma invenção de cada análise. Em que momento as palavras passam à escritura? Quando se perde o sentido como significado; como significação metafórica e metonímica, defrontando-se com o sentido: não há relação sexual.

Então, deste trabalho no particular também nos implicamos na psicanálise em extensão (em escolas, hospitais, prisões, etc.) e somos convidados a generalizar para a mídia. Acrescente-se o risco de se extraviar no preconceito ou na demanda...

Talvez o que o analista tenha a dizer se relacione, em síntese, com limites (inclusive o da própria psicanálise), com o franquear destes (os sintomas, comportamentos impulsivos) e como abrir passagem para o desejo e o gozo, sem passagem ao ato.

BIBLIOGRAFIA

LACAN, Jacques. Intervenciones y textos – 2. Buenos Aires: Manantial, 1988. . O seminário, livro XXII: R.S.I (s.n.t.), 1974-75.
. Propos sur l'hystérie. Conferência de Bruxelas, 26/fev./1977, reproduzida in Suplemento belga La Lettre Mensuelle de l'École de la Cause Freudienne.


cred.:Maria Lúcia Salvo Coimbra
Círculo Psicanalítico De Minas Gerais - CPMG

SUMÁRIO

A Travessia da Fantasia na Neurose e na Perversão (1)




A descoberta da psicanálise é a descoberta do inconsciente e Freud a apresenta em três grandes livros inaugurais: A Interpretação dos Sonhos (1900), A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901) e Chistes e sua Relação com o Inconsciente (1905). Esses três livros – segundo Lacan, três obras canônicas em matéria de inconsciente – expõem a estrutura do inconsciente tal como ela é: articulada com a linguagem. É o inconsciente que aparece na descoberta da psicanálise.

Em 1905, ano da escrita do livro dos chistes, Freud escreve um outro livro fundamental: Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Octave Mannoni chama a atenção para o fato de que Freud tinha duas mesas de trabalho diferentes, uma para cada obra, e descansava de uma escrevendo a outra. Essa é uma observação interessante, porque os Três Ensaios é a obra na qual Freud introduz, pela primeira vez, o conceito de pulsão, ou seja, é um livro que trata da questão da sexualidade e do gozo. É como se Freud descansasse desse livro, escrevendo outro, mais prazeroso, que é o livro dos chistes, livro que apresenta especialmente a estrutura do simbólico, ou seja, da linguagem. Inconsciente e pulsão, então, são os dois conceitos fundamentais da psicanálise que são trazidos nos primeiros anos da descoberta freudiana.

O Ciclo da Fantasia
Logo em seguida, de 1907 a 1911, podemos isolar um período, na obra de Freud, que parece ser dedicado à fantasia. Chamemo-lo de ciclo da fantasia. Delírios e Sonhos na Gradiva, de Jensen (1907) inicia uma série de artigos dedicados à questão da fantasia sob inúmeros aspectos e prismas diferentes: a fantasia na sua relação com o sintoma, a fantasia na sua relação com a criação literária, a fantasia na sua relação com o romance familiar, as teorias sexuais infantis etc. São vários artigos que constituem uma espécie de núcleo do desenvolvimento da fantasia em Freud, que, durante esses anos, parece ter se debruçado, exclusivamente, sobre o tema.

Esse ciclo se encerra em 1911, com a escrita de Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental, que, embora não se encontre no grupo de artigos metapsicológicos, é um artigo que traz a metapsicologia da fantasia.

É importante notar que Freud caminha do inconsciente, chega até a pulsão e, muito rapidamente, trabalhará a fantasia. Essa percepção traz algo bastante novo que desenvolvo a seguir: a concepção da fantasia como sendo a articulação entre o inconsciente e a pulsão. Essa parece ser uma nova forma de definir a fantasia, que nos faz ver fatos novos. A fantasia é a articulação entre inconsciente e pulsão, ou, nos termos de Lacan, a fantasia é a articulação entre o simbólico e o real.

É preciso chamar a atenção para o fato de que, em 1911, Freud não escreve somente o artigo das Formulações, a metapsicologia da fantasia, mas, também, outro ensaio magistral, o Caso Schreber, ambos publicados no mesmo número da revista Imago. É nesse caso que Freud, pela primeira vez, consegue trazer à luz a lógica do delírio paranóico. Depois de um longo período de elaboração sobre a questão a fantasia na neurose é que ele pôde, então, se debruçar sobre aquela do delírio na psicose e extrair a sua lógica inerente.

Essa diferença entre fantasia e delírio parece denunciar, em Freud, uma nítida distinção estrutural-clínica entre neurose e psicose. Essa distinção, que nesse momento aparece de forma conceitual, ligada aos conceitos fundamentais, após o advento da segunda tópica, na década de 20, será trabalhada diretamente ligada à clínica, nos dois importantíssimos artigos Neurose e Psicose e A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose, ambos de 1924.

No primeiro artigo, Neurose e Psicose, Freud conclui que a diferença entre neurose e psicose é que na segunda haveria uma perda da realidade. Dois ou três meses depois, porém, ele escreve o segundo artigo e o inicia corrigindo sua afirmação:

Recentemente indiquei como uma das características que diferenciam uma neurose de uma psicose o fato de em uma neurose o eu, em sua dependência da realidade, suprimir um fragmento do isso (da vida pulsional), ao passo que, em uma psicose, esse mesmo eu, a serviço do isso, se afasta de um fragmento da realidade. Assim, para uma neurose o fator decisivo seria a predominância da influência da realidade, enquanto para uma psicose, esse fator seria a predominância do isso. Na psicose a perda de realidade estaria necessariamente presente, ao passo que na neurose, segundo pareceria, essa perda seria evitada.

Isso, porém, não concorda em absoluto com a observação que todos nós podemos fazer, de que toda neurose perturba de algum modo a relação do paciente com a realidade servindo-lhe de um meio de se afastar da realidade, e que, em suas formas graves, significa concretamente uma fuga da vida real (2).


O desenvolvimento desses dois artigos, que parecem ser um único, apresenta embutido nele um raciocínio que implica a distinção entre fantasia e delírio. Não é à toa que o segundo artigo desemboca exatamente nessa distinção. Nos últimos parágrafos, Freud marca explicitamente que a perda da realidade na neurose é diferente daquela na psicose. Na primeira há ainda certa manutenção de um vínculo com a realidade, ao passo que na segunda há uma perda radical dele.

Trabalhando esses artigos, ocorreu-me uma coisa engraçada: a idéia de que, ao escrevê-los, foi Freud quem perdeu a realidade. Isso aparece nitidamente nesses escritos. Quando digo que Freud a perdeu, é porque ele acaba concluindo que a realidade é sempre perdida. A noção de realidade é problematizável, a partir da noção de real de Lacan, e Freud, nesses textos, antecipa avant la lettre essa categoria.

É interessante notar também que, três anos depois dessa distinção estrutural entre neurose e psicose, a partir da fantasia e do delírio, Freud, pela primeira vez, escreverá um artigo que traz uma teoria consistente do fetichismo, talvez, para ele, o paradigma da perversão.

Ele havia, em 1909, elaborado a questão do fetichismo num texto apresentado na Sociedade das Quartas-Feiras, conferência publicada na Revista Internacional da História da Psicanálise(3), mas, naquele momento, ele não tinha alguns elementos que só desenvolverá depois.

Há certo fio inconsciente no trabalho de Freud. Ele, como todos nós, também estava mergulhado no inconsciente. Quando escrevia sobre algo, não poderia saber da articulação do seu próprio inconsciente e aonde ela o levaria. Isso ocorre conosco e não seria diferente com ele. Acredito que, hoje, diante da obra de Freud e com a leitura de Lacan, podemos detectar, ou pelo menos tentar detectar esses diferentes fios invisíveis que sustentaram as articulações maiores ao longo da obra freudiana.

Quando, em 1911, Freud extrai a lógica do delírio psicótico, ele afirma algo espantoso, que foi polêmica na época e é polêmica psiquiátrica até hoje: o delírio não é a psicose, o delírio é a tentativa de cura dela. Lacan refere-se a esse problema em várias passagens, por exemplo, no Seminário 3 (1956-1957), quando afirma que, em todo delírio, vemos a mesma força estruturante, ou seja, a tentativa que o psicótico faz de se estruturar pela linguagem, pelo simbólico.

Fantasia e delírio, então, correspondem a dois elementos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Freud, no ensaio sobre a Gradiva, utiliza a expressão fantasia delirante para se referir ao delírio. Expressão que associa neurose com psicose. A conseqüência direta disso é a dificuldade em distinguir com precisão os dois termos. Há, portanto, uma necessidade de dar à fantasia o lugar que ela tem no psiquismo.

Não é sem motivo que Lacan conceberá o fim da análise como ligado à questão da fantasia, mencionando a sua travessia. A fantasia é uma espécie de matriz psíquica que funciona mediatizando o encontro do sujeito com o real. Ela é uma matriz simbólico-imaginária que permite ao sujeito fazer face ao real do gozo.

Se tomarmos a noção de pulsão de morte na obra de Freud – que foi, na verdade, valorizada por Lacan -, veremos que o que ele chama de morte é o que Lacan chama de o gozo.

Há um vetor que rege nosso psiquismo. Para Freud, esse vetor único, fundamental, se chama pulsão de morte. Na leitura que faz de Mais Além do Príncipio do Prazer (1920), Lacan afirma que toda pulsão é pulsão de morte. Freud disse exatamente a mesma coisa com outras palavras.

Felizmente, muitos de nós não vivemos submetidos a esse vetor, que, por definição, é mortífero. Alguma coisa acontece que nos permite lidar de uma forma diferente com esse alvo da pulsão de morte: o gozo. Essa alguma coisa se chama fantasia.

Ela surge a partir de uma operação chamada recalque originário, operação agenciada por um significante, o significante Nome do Pai. O recalque originário resulta sobre o psiquismo da criança a imediata instauração dessa matriz psíquica: a fantasia. Esta, por sua vez, fará com que aquilo que era empuxo-ao-gozo, como diz Lacan – pulsão de morte, empuxo na direção da morte –, seja freado e passe a ser uma região na qual a pulsão de morte é sexualizada. Nessa região, a fantasia passa a dominar pelo menos um trajeto dessa pulsão de morte. É o que Freud chama de pulsão de vida e que, para nós, é a pulsão sexual.

Do lado desta temos o princípio de prazer, dominado pela fantasia, e do lado da pulsão de morte, o mais além do princípio de prazer.

Tudo isso ocorre nas neuroses e nas perversões. Em ambas, há ação do Nome do Pai, há recalque originário e, por conseguinte, a instauração da matriz psíquica chamada fantasia inconsciente fundamental.

No caso da psicose, essa constelação não ocorre, porque a foraclusão do significante Nome do Pai produz uma falha no recalque originário de tal modo que essa fantasia não se instaura e, por que ela não se instaura, o psicótico tenderá a, no melhor dos casos, a produzir um delírio que preencherá essa lacuna, esse vazio. Esse vazio é a própria psicose.

Neurose e Perversão
Tomemos, agora, a fórmula da fantasia para tentar ler nela a diferença que há entre neurose e perversão: $ ^ a.

Podemos ver nela dois pólos: se a fantasia é a articulação entre o inconsciente e a pulsão, podemos situar, no lado do $, o pólo inconsciente, e no lado do objeto a, o pólo pulsional. No primeiro pólo temos o sujeito, que é barrado pela linguagem, pelo significante, entre S1 e S2, e no segundo, o elemento que é aquilo que se inscreve na fantasia como mais-gozar, como a inscrição do gozo que era absoluto, mortífero e que, na fantasia, se transforma num gozo limitado: o gozo fálico. Este é o gozo submetido à linguagem, ao falo. Podemos, também, dizer que o pólo inconsciente é o pólo simbólico, e o pólo pulsional é o pólo real da fantasia. Do lado do primeiro – do $, do inconsciente, do simbólico – podemos situar o amor e do outro lado – do objeto a, da pulsão, do real – podemos situar o gozo.

Uma história de observação cotidiana, que me foi contada, muitos anos atrás, por um analista, é clarificadora em relação à questão do gozo, um conceito difícil em Lacan. Um menino de 5 anos observava o seu irmãozinho de leite mamando. Ao observar essa cena, ele virou pra mãe e disse: “Mamãe, eu também quero mamar”. E a mãe respondeu: “Mas você já mamou”. E ele disse: “Mas eu não sabia!”.

Assim, um menino de 5 anos nos ensinou, com quatro palavras, o que é o gozo para Lacan. O gozo é a perda que se inscreve na medida em que houve a entrada no mundo simbólico. O menino, olhando o irmãozinho, mamando, quis ter acesso àquele gozo que já foi perdido. Mas, ele não tem mais como achá-lo. Como sujeito falante, ele não tem mais acesso a esse gozo. Este está perdido. O que o menino queria era gozar sabendo e o que Lacan assegura é que há um corte radical entre saber e gozo. Quando há gozo, não há saber, quando há saber, não há gozo. Por isso que a análise, que dá acesso ao saber inconsciente, implica numa perda de gozo.

Se a fantasia é um elemento que se instaura para a criança como uma verdadeira contrapartida ao gozo que ela perdeu, a fantasia se dá, essencialmente, como uma fantasia de completude. A fantasia é fantasia de completude. Ela é a elisão da falta inerente à estrutura do falante. Houve perda de gozo. A fantasia, instaurada, é uma tentativa de recuperação daquilo que foi perdido.

Minha hipótese é a de que, se, na neurose, temos fantasia de completude, ela é uma fantasia de completude amorosa. O neurótico quer resgatar a completude perdida pelo viés do amor. Ele se fixa no amor. Ele se fixa no pólo inconsciente da fantasia e elide o pólo do gozo da fantasia.

Um jovem analisando, com uma tendência predominantemente obsessiva, certa vez, chegou numa sessão dizendo que concluíra que terminaria o seu namoro, porque sacou uma coisa muito importante. Se ele continuava sentindo atração física por outras meninas, era porque sua namorada não era a mulher da vida dele. A expressão “mulher da vida dele”, como outras tão comuns na cultura, mostra que, na neurose, existe a tentativa de, através do amor, preencher completamente o vazio e resgatar a completude perdida, elidindo totalmente esse aspecto do gozo.

Se a clínica analítica é uma clínica sob transferência, então, ela é na essência uma clínica da neurose.

Na perversão, houve a mesma entrada da fantasia, mas, por motivos históricos absolutamente singulares, a entrada do sujeito perverso no mundo do simbólico se deu através da fixação no outro pólo da fantasia, no pólo pulsional, no pólo de gozo. O perverso tem uma fantasia de completude de gozo. Ele almeja resgatar a completude perdida pelo viés do gozo.

Poderíamos, então, pensar que para o neurótico o fim da análise, enquanto uma travessia da fantasia, é uma travessia da fantasia amorosa; e de fantasia de gozo, para o perverso. O fim da análise implicaria em dar acesso ao neurótico ao pólo do gozo do qual ele tanto se defende, e, no caso do perverso, implicaria no acesso à dimensão do amor, da qual ele também se defende.

Mas, o que mais importa nessa travessia não é ter acesso ao outro pólo da fantasia, mas que, ao fazê-lo, o sujeito tenha acesso à dimensão que está escrita, no matema da fantasia, entre o $ e o a, que é a dimensão do desejo, inscrita no signo da punção: ^. O desejo, aqui, está escrito enquanto falta e é a presentificação daquela perda de gozo que esteve na origem da entrada do sujeito no mundo humano, no mundo do simbólico.

Ao ter acesso ao pulsional e ao gozo, e deixando de se fixar no pólo do amor, o neurótico terá acesso ao desejo. No perverso é o contrário. Porque, quando se tem acesso ao amor e ao gozo, tem-se perda de amor e perda de gozo.

Essa é a definição que eu proporia de desejo: desejo é duplamente uma perda de amor e de gozo, ou seja, a dimensão da falta de amor e da falta de gozo.

A frase de Lacan “só o amor pode fazer o gozo ceder ao desejo” resume essa elaboração, na medida em que há uma espécie de báscula entre amor e gozo.

Percebe-se, porém, que essa báscula ocorre não só nas estruturas clínicas como tais, mas também em um mesmo sujeito. É possível ver na clínica muito mais perversão do que comumente se presume.

Se tomarmos o fetichismo como o paradigma da perversão, teremos algo muito definido, mas não podemos nos contentar com isso. A perversão é um campo amplo demais e é necessário estender a percepção que temos dele. Diz-se que o perverso não busca análise, mas Freud não assegura isso e descreve casos de análise de perversão. O que ele afirma é que o perverso não procura análise pela perversão. Os casos de fetichismo de Freud são casos nos quais o paciente procurou tratamento por motivo diverso do fetichismo, que só foi descoberto durante o tratamento. Mas que questões levariam um perverso à análise? Provavelmente algum tipo de sofrimento, que suponho estar ligado ao que chamo de pólo amoroso da fantasia. Na perversão, escutamos o sujeito queixar-se da solidão na qual é jogado por certas posições perversas que adota. Ele chega a questionar isso. Ele chega a se sentir só.

Cito um exemplo dessa ordem. Um sujeito diz: “Eu não me ligo a ninguém, não tenho nenhuma relação com ninguém, porque sei que não vou conseguir. Depois de algum tempo começo a transar com outras pessoas”. Ao contrário do obsessivo a que me referi anteriormente, neste caso, o gozo fica como uma defesa em relação ao vínculo amoroso. O vínculo amoroso implica a alteridade, implica a diferença, implica certa castração do gozo. A definição que gosto da perversão é: ela é a abolição da diferença, a abolição do desejo do Outro. Ou seja, a perversão é a abolição daquilo que entra com toda força na intersubjetividade amorosa.

Mas vejam que, apesar de toda problemática em jogo nessa posição perversa, assim como na neurótica, ela é uma saída daquele vazio que chamamos de psicose. O que a inscrição do significante Nome do Pai provoca é a instauração de uma fantasia que recobrirá o vazio da psicose. E esta é uma assertiva importante porque coloca a psicose como a base do humano e, clinicamente, como uma falha na saída dessa base.

Lacan, numa daquelas passagens que só se comentam entre analistas, chegou a dizer que uma psicanálise levada muito longe conduziria à psicose. Isso se explica pela capacidade que a análise tem de desconstituir essa matriz psíquica simbólico-imaginária que é a fantasia e lançar o sujeito no vetor da pulsão de morte, a base da nossa estrutura psíquica. Tanto a neurose como a perversão são defesas, cada uma a sua maneira, contra a psicose. Acredito que a perversão é a primeira saída de fato, o primeiro corte, mas ainda com a manutenção de um traço que é forte na psicose: o gozo. Isso se inscreve na perversão, mas não como na psicose. Inscreve-se de outra maneira, pela presentificação do objeto a, do objeto mais-gozar.

Na neurose, há também essa saída, há um corte em relação à psicose. A dimensão que dominará, porém, é a do simbólico e, portanto, a dimensão do amor ao Pai, que vem, como radical alteridade, frear o empuxo ao gozo. E a criança neurótica se atém a esse elemento que a salvou. A fantasia amorosa é uma salvação. Freud desenvolve essa idéia principalmente num artigo do ciclo da fantasia, chamado Fantasias Histéricas e sua Relação com a Bissexualidade (1908). Trata-se de um texto sobre a relação entre pulsão e fantasia. É muito curioso que ele seja do primeiro dualismo pulsional e ainda não tenha a articulação entre pulsão de vida e aquela de morte. É possível, porém, encontrar todos os elementos sustentando que a fantasia freia o empuxo ao gozo da pulsão de morte.

O problema é que, como tudo no nosso psiquismo, a fantasia tem dois lados: ela é uma salvação, mas também é uma patogenia. Pelo próprio fato de que ela nos salvou da derrelição absoluta na qual estamos fadados pela pulsão de morte, vamos nos agarrar a ela com unhas e dentes. Isso é o que Freud chama de “fixação”. Agarramo-nos à fantasia com tanta intensidade, que ela passa a ser um núcleo da nossa vida, e passamos a produzir uma série de coisas chamadas “sintomas”, que são a perpetuação constante da nossa relação com a fantasia. Ela tem, então, uma dupla face: uma face de salvação e uma face de produção patológica.

E assim como há uma báscula entre amor e gozo nas estruturas clínicas e num mesmo sujeito, ela também aparece na cultura. A cultura traduz essas fixações. A história da música popular recente é um bom exemplo disso.

Em 1966, em Liverpool, nasceram dois grandes grupos de rock: os Beatles e os Rolling Stones. Os Beatles tiveram uma existência efêmera, foram um cometa que atravessou a existência da música e deixou rastros em todos nós. Os Rolling Stones existem até hoje, dando shows no mundo inteiro, gravando discos etc. O que me chama a atenção é que os Beatles foram um grupo que cantou essencialmente o amor. Por exemplo, “All you need is love”, para tomar uma canção deles que é paradigmática dessa posição. Já a canção paradigmática dos Rolling Stones é “Satisfaction”: “I can´t get no satisfaction, But I'll try, but I'll try, but I'll try”. É a própria pulsão falando...

Talvez esses grupos – e a presença deles em nossa vida e em nossa cultura – signifiquem que o amor é mais frágil que o gozo, que o gozo é a busca da satisfação absoluta que se repete com uma intensidade impressionante, na medida em que há esse vetor insistente em nós. Tudo indica que Mick Jagger cantará e dançará até os 80 anos. E nós com ele, o que é interessante.

Mas vamos também cantar com os Beatles. Poucos de nós sabem de cor a letra de uma música dos Rolling Stones, mas muitos aprenderam inglês com os versos de John Lennon e a música dos Beatles.

Mas a música não é o único exemplo cultural que temos das fixações nos pólos da fantasia. O pólo do amor se traduz também pela religião no qual há uma fixação nele por meio dela. E o pólo do gozo se traduz pela pujança do capitalismo.

É possível perceber certa rivalidade entre religião e capitalismo, que se expressa até pela arquitetura das cidades. Em Salvador, Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, é possível ver templos religiosos de novas seitas evangélicas construídos em frente aos grandes shopping centers. Um espelha o outro, brigando por primazia. Passamos, ali, no meio desses desfiladeiros de fixações de amor, na religião – porque a religião é uma fixação no amor: “Amai-vos uns aos outros” –, e de gozo, no capitalismo, com aqueles objetos todos que nos são oferecidos e vendidos de uma maneira tão excessiva.

Mas não é só a neurose e a perversão que se traduzem na nossa cultura, a psicose também o faz. E parece que ela o faz pela ciência. É preciso que nós, analistas, possamos dizer, com todas as letras, que a ciência está louca. A ciência enlouqueceu, perdeu os limites. Hoje, ela mistura espécies, clona os animais a bel-prazer e quer fazer isso com o ser humano. O ápice dessa loucura, desconfio, é seu intento de transformar a reprodução sexuada em reprodução assexuada. Isso é loucura. Não é à toa que, na cultura, existe a figura do cientista maluco. O cientista maluco é um traço da linguagem no inconsciente que denuncia que a ciência tem uma forte tendência à loucura, patente hoje em dia.

Evidentemente que fomos advertidos quanto a isso desde a época em que o homem foi a Lua. Ali, começava uma grande loucura, porque ir à Lua, é claro, é coisa de lunático.

A psicanálise propõe um quarto lugar da fantasia, diferente daqueles traduzidos pela religião, pelo capitalismo e pela ciência. Nem a fixação no amor, nem a fixação no gozo fálico, nem a fixação no gozo absoluto. Ela propõe um lugar do desejo, que é aquele lugar, no matema da fantasia, entre $ e a pequeno. Porque aquilo ali é um lugar, é um lugar da fantasia. E acredito que, na cultura, há, hoje, dois discursos que sustentam esse lugar: a psicanálise e a arte. A arte é também um discurso poderoso que tenta sustentar esse lugar do vazio e da falta.

NOTAS
1- Trabalho apresentado no XIII Fórum Internacional de Psicanálise - As Múltiplas Faces da Perversão, realizado em Belo Horizonte, de 24 a 28 de Agosto de 2004. Texto estabelecido, a partir da exposição oral, por Alexandre Louzada.
2- FREUD, "A perda da realidade na neurose e na psicose", in Obras completas, v.XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p. 229.
3- FREUD, S., "Sobre a gênese do fetichismo", in Revista Internacional da História da Psicanálise, n.2, Rio de Janeiro, Imago, 1992, p.371-387.


BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. “O delírio e os sonhos na 'Gradiva' de W. Jensen”, in Obras completas, v. IX. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S. “As fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade”, in Obras completas, v.IX. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S. “Pontuações psicanalíticas sobre um caso de paranóia (Dementia paranoides) descrito autobiograficamente”, in Obras completas, v.XII. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S. “Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico”, in Obras completas, v.XII. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S. “Neurose e psicose”, in Obras completas, v.XIX. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S. “A perda da realidade na neurose e na psicose”, in Obras completas, v.XIX. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S., “Mais-além do princípio de prazer”, in Obras completas, v.XVIII. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
FREUD, S. “Sobre a gênese do fetichismo”, in Revista Internacional da História da Psicanálise, Rio de Janeiro: Imago, 1992.
LACAN, J. O seminário, livro 3: as psicoses. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.



Creditos: Marco Antonio Coutinho Jorge
Psiquiatra. Psicanalista. Diretor do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise Seção Rio de Janeiro. Doutor em Comunicação pela UFRJ. Professor-adjunto do Instituto de Psicologia da UERJ. Membro correspondente da Association Insistance (Paris/Bruxelles)
 

Diferença entre neurose e psicose

Diferença entre neurose e psicose



Na neurose o indivíduo além de saber que é um neurótico, ele tem plena consciência dos seus atos, mas não consegue controlá-los, já os psicóticos não têm essa consciência, eles perdem a noção da realidade.


Os sintomas mais frequentes de um neurótico são:

  • Insatisfação geral, excesso de mentiras, manias, problemas com o sexo, dentre outros. Exemplos deles são o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
  • Depressão e a Síndrome do Pânico.
Já a psicose é marcada por fases de delírios e alucinações. Podemos dar como exemplo de psicose a Esquizofrenia, o Transtorno Bipolar e o Autismo.Há cura para a neurose, já para a psicose não há cura definitiva.

Neuroses são distúrbios leves com poucas distorções da realidade tratada principalmente pelo psicólogo.É a desordem na personalidade que gera angustia e inibe suas condutas, é um conflito intra-psíquico.


Sintomas:
  • Insatisfações gerais
  • Manias
  • Problemas relacionados a área sexual
  • Excesso de mentiras ( mitomania)
Classificação:

Angustia:
  • Crises de choro imotivado
  • Depressão
  • Pensamentos suicidas
  • Doenças psicossomáticas
Fóbica:
  • Um objeto é a razão da angustia
  • Mania de perseguição
  • Fixação pelo objeto
Obssessiva - Compulsiva:
  • Pessoa sistemática e metódica
  • Manias de limpeza
  • Não aceita ser o que é
Histérica:
  • Pessoas emotivas ao extremo


    Já as psicoses é uma doença mental grave que afeta a personalidade na zona central do eu.
  • Delírios: falsa realidade percebida (acredita em conspiração contra ele se vê duas pessoas simplesmente conversando ou se julga Deus).
  • Alucinações: escuta vozes ou tem visões. Acredita que fontes externas controlam seus pensamentos. O escutar vozes é o mais comum.

* Nove pontos a serem considerados:

1. Autonomia psíquica: neurose apresentaria perda parcial, pouco implicando a personalidade, psicose com maior perda de autonomia, interferindo mais na personalidade;
2. Gravidade do quadro: neurose seria menos grave que a psicose, o que faria o leigo pensar que ela devesse ser tratada por filósofos ou psicólogos clínicos, e psicose, mais grave, tratada por psiquiatras;
3. Causa presumida: neurose seria preferentemente psicógena ou funcional, e psicose preferentemente somatógena ou orgânica;
4. Setores da psique: neurose comprometeria a emoção, e psicose, a razão e a vontade + ação.
5. Consciência da realidade: o neurótico não a perderia, o psicótico, sim;
6. Consciência da doença, estreitamente relacionado ao conceito anterior: o neurótico a teria, o psicótico não;
7. Comportamento social: o neurótico permaneceria socialmente organizado, o psicótico não;
8. Sensibilidade à psicoterapia: os psicóticos seriam refratários a ela;
9. Sinais e sintomas: seriam distintos e característicos para a neurose, e, para a psicose.

Porém, esses critérios aparentemente tão claros, são falhos, porque não resistem a uma crítica mais acurada.



A psicose não tem cura definitiva, a ingestão de remédios provocam a estabilização da doença que, entretanto, pode voltar a se manifestar, em surtos de cada vez maior intensidade, é marcada por fases de delírios e alucinações,(estágios lúcidos/críticos) durante os quais a pessoa pode desenvolver estados de dupla personalidade inconscientemente, ou seja, a própria pessoa não sabe que tem esta dupla personalidade.
Na neurose o indivíduo sabe que é neurótico e consegue distinguir seus desvios, ou seja, tem consciência deles, mas não consegue evitá-los.



Já o psicótico não é capaz de tal discernimento, confundindo-se quanto à ele mesmo.


Um caso típico de neurose é o kleptomaníaco, ou seja, a pessoa que não consegue controlar sua compulsão por realizar furtos.


Considera-se uma pessoa psicótica quando seu funcionamento mental interfere consideravelmente em sua maneira de enfrentar a vida.


Os problemas manifestam-se na forma de incapacidade de reconhecer a realidade, nas alterações de humor e ou déficit intelectual.
Os neuróticos podem agir de modo "normal", os psicóticos são incapazes de cuidar de si.




As neuroses também são classificadas da seguinte forma:

1) Distúrbios de ansiedade (fobia, pânico e distúrbios obsessivos compulsivos) :

- Fobia : medo excessivo ou absurdo. O fóbico se sente impotente para controlar seus sentimentos.
- Pânico : surgem de repente sem prévio aviso, sendo comum se manifestar com um terror incontrolável. Durante o ataque a respiração fica difícil, surgem tremores e tensão muscular. A ansiedade e irritabilidade podem levar a uma depressão.
- Distúrbios Obsessivos Compulsivos : São considerados como neurose quando não servem a nenhum propósito construtivo, são desgastantes e atrapalham a vida(relacionamentos).

2) Distúrbios Psicossomáticos:


Essa desordem caracteriza-se por problema físico, mas seus sintomas não apresentam bases orgânicas. No entanto como o conhecimento médico está longe de ser completo os sintomas de uma verdadeira doença podem ser erroneamente diagnosticados como conversão somática.

3) Distúrbios Dissociativos:

São caracterizados por alterações de consciência. Amnésia, fuga e personalidade múltipla.
Esses distúrbios são raros.


4) Distúrbios Afetivos:

-Depressão: Estado mais intenso e prolongado que a tristeza. É típico sentir-se sem remédio e rejeitado, ocorre em alguns o sentimento de morte e pensamentos de suicídio.
-Distúrbio Bipolar: Crises decorrentes de profunda depressão e mania ( euforia e excitação), neste aspecto os indivíduos ficam em êxtase e com incrível autoconfiança, ao mesmo tempo podem se irritar facilmente. O falar é rápido, manifestam idéias de grandeza,ao serem irritados ou zangados podem ficar extremamente violentos.



Os que tem o distúrbio afetivo quase sempre pensam ilogicamente, transformam problemas sem importância em verdadeiras catástrofes.


PSICOSES (Esquizofrenias) :


São estados que ocorrem no mundo todo. Não se tem um consenso sobre o que seja essa doença. Define pela perturbação do pensamento.
Alguns sintomas dos distúrbios esquizofrênicos :
* Alteração na percepção
* Desordem do pensamento
* Desordem emocional
* Delírios e alucinações
* Afastamento da realidade
* Comportamento estranha e distúrbios da fala

Esquizofrenia Paranóide:
Apresenta um certo grau de visão da realidade. A principal característica e a mania de perseguição.

Distúrbios de Personalidade:
Demonstração de ser anti-social ou psicopatia: os psicopatas não manifestam a noção do que é certo ou errado. Não tem medo e podem cometer o mesmo erro muitas vezes, mesmo sofrendo severas punições.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O que são Neurose

O que são Neuroses

Atualmente o termo Neurose é substituído por outros nomes


A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa parte da medicina podem usar a palavra "neurose" como sinônimo de "loucura". Mas isso não é verdade, de forma alguma. A Neurose é uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida.
Quando se diz que a pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica, está se tentando dizer que a neurose é uma maneira da pessoa ser, associada à traços de sua personalidade. Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo sem que exista uma causa vivencial aparente.
Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de comportamentos compatíveis com o que está sentindo. Cada tipo de transtorno neurótico tem seus sintomas, suas atitudes e sentimentos e como o quadro das neuroses é muito variável, não há uma seção neste site específico para Neuroses, como tem para Psicoses. Na realidade os quadros neuróticos estão descritos em várias seções, tais como Ansiedades e Fobias, Depressão, Estresse, Histeria e Afins, Obsessões e Compulsões e outros.

O neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo.
Exemplos:
1 - Diante de um compromisso social a pessoa neurótica reage com muita ansiedade, mais ansiosa que a maioria das pessoas submetidas à mesma situação (desproporcional). Diante desse mesmo compromisso social a pessoa começa a ficar muito ansiosa uma senana antes (muito duradoura) ou, finalmente, a pessoa fica ansiosa só de imaginar que poderá ter um compromisso social (sem causa aparente).
2 - Num determinado ambiente (ônibus, elevador, avião, em meio a multidão, etc) a pessoa neurótica começa a passar mal, achando que vai acontecer alguma coisa (desproporcional). Ou começa a passar mal só de saber que terá de enfrentar a tal situação (sem causa aparente).
O que não é Neurose?Como vimos, a Neurose é uma doença, uma doença emocional, afetiva e da personalidade. Esclarecendo alguns mitos culturais, primeiramente é importante deixar claro o que a Neurose não é:
Neurose não é:
- Falta de Homem (ou de Mulher)
- Falta de pensamento positivo
- Cabeça ou mente fraca
- Falta de força de vontade
- Falta de ter o que fazer
- Ruindade, maldade ou capricho
- Senvergonhice
- Influência espiritual
- Mal-olhado ou encosto
- Coisa "de sua cabeça" (coisa da cabeça é caspa)
- Falta de ter passado por dificuldades de verdade (isso é sorte)
Neurose (embora possa ser agravada) não acontece por:
- Nunca ter passado dificuldades na vida
- Falta de uma boa surra
- Ter tido de tudo na vida
- Não ter tido tudo na vida
- Causa do pai que brigava com a mãe
- Causa dos pais que se separaram
- Causa do pai ter sido muito enérgico
- Causa do pai ter sido omisso
- Não ter tido pai
- Ter tido uma mãe super-protetora
- Ter tido uma mãe omissa
- Não ter tido uma mãe
- Ter sabido que a mãe não era essa
- Ter "forçado demais a cabeça"
- Nunca ter "forçado demais a cabeça"
- Causa de uma menstruação que subiu para a cabeça
- Finalmente, por ter misturado manga com leite...
A Neurose é uma Doença Mental? Não. A Neurose não é sonônimo de loucura, assim como também, não compromete a inteligência, nem o contato com a realidade. Seus sentimentos dos neuróticos também são normais; eles amam, sentem alegria, tristeza, raiva, etc., como qualquer pessoa. O que pode estar alterado na Neurose é a quantidade desses sentimentos.
Assim, as principais diferenças entre uma pessoa neurótica e outra normal são em relação à capacidade de adaptação às situações vividas e em relação à quantidade de emoções e sentimentos. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, eles têm as mesmas emoções que qualquer pessoa, porém, em quantidade que compromete a adaptação. Para entender melhor, estude: Teorias da Personalidade e Transtornos da Personalidade.
Tipos de Neuroses De modo geral, e didaticamente, as neuroses costumam ser classificadas através de seus sintomas mais proeminentes. Isso não significa que todas elas não possam ter uma série de sintomas comuns (todas têm ansiedade, por exemplo).

Um dos tipos mais comuns de Neurose, hoje em dia, é aquele cujo sintoma proeminente é a ansiedade (e depressão). O Transtorno Fóbico-Ansioso, por exemplo, é uma neurose que se caracteriza, exatamente, pela prevalência da Fobia entre outros sintomas de ansiedade, ou seja, um medo anormal, desproporcional e persistente diante de um objeto ou situação específica. Mas isso não quer dizer que no Transtorno Fóbuco-Ansioso não tenha também depressão, ataques de pânico, ansiedade generalizada...

O Transtorno Ansioso é outro tipo de Neurose (veja Ansiedade). Os padrões individuais de ansiedade variam amplamente. Algumas pessoas com ansiedade neurótica podem ter sintomas cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, outros manifestam sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros ainda apresentam mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, do tipo espasmo, torcicolo e lombalgia.
Enfim, os sintomas físicos da ansiedade variam de pessoa para pessoa. Psicologicamente a ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e comprometer, desde a atenção e memória, até a interpretação fiel da realidade.

Os Transtornos Histriônicos (Histéricos), por sua vez, são neuroses onde o sintoma principal é a teatralidade, sugestionabilidade, necessidade de atenção constante e manipulação emocional das pessoas ao seu redor. O neurótico histérico pode desmaiar, ficar paralítico, sem fala, trêmulo, e desempenhar todo tipo de papel de doente. Há grande variedade nesse tipo de neurose.

Os Transtornos do Espectro Obsessivos-Compulsivos reúnem neuroses cujo sintoma principal é a incapacidade de controlar impulsos, manias e rituais, assim como determinados pensamentos desagradáveis e absurdos.

Incluimos a Distimia como representante de um tipo de neurose, cujo sintoma mais proeminente é a tendência a reagir depressivamente à vida, ou seja, é a pessoa com tendência à longos períodos de depressão.
A Neurose tem cura?Antigamente se pensava que a neurose era sempre incurável e que se convertia, com o tempo, numa doença crônica e invalidante. Hoje em dia, felizmente, as pessoas que sofrem deste transtorno podem recuperar-se por completo e lavar uma vida normal como qualquer outra pessoa.

A questão da cura das neuroses, que é uma doença da personalidade, deve ser comparada à cura da diabete, da pressão alta, reumatismo, alergia, asma e uma grande série de outras doenças crônicas. As pessoas portadoras dessas doenças, assim como os neuróticos, teriam uma péssima qualidade (e quantidade) de vida se não fossem os recursos da medicina. Pois bem. Com recursos da medicina essas pessoas têm uma qualidade de vida normal, tal como acontece com os pacientes neuróticos tratados.

A rigor, para as neuroses, recomenda-se um tratamento de responsabilidade tripla; um acompanhamento psicológico adequado, um tratamento médico (com medicamentos) quando necessário, e a maior cooperação possível do próprio paciente e da sua família. Portanto, vai aqui um alerta para aquelas pessoas do tipo "- não consigo isso, não consigo aquilo". Com essa participação tríplice, felizmente, a grande maioria das neuroses podem ser perfeitamente controlada, proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida e inegável bem estar.

A família pode causar a neurose?Sim e não! A resposta correta é: depende da família e do neurótico. Para entender melhor essa questão, vamos comparar a neurose com a alergia. Vamos considerar uma pessoa com rinite alérgica e que, ao entrar em contacto com um ambiente embolorado, manifesta sua rinite.
Esse exemplo acima é muito didático e favorece outras reflexões esclarecedoras. Seria o caso de perguntarmos: o fungo do bolor (a família), é a causa da rinite alérgica (neurose)???
Para haver a rinite alérgica é preciso 2 coisas; que a pessoa seja alérgica previamente, e do fungo, ao qual ela é sensível. Assim sendo, para a crise de rinite o fungo foi tão indispensável quanto a sensibilidade alérgica da pessoa. O mais correto, agora, é dizer que o fungo (família) pode desencadear, agravar ou proporcionar condições para uma crise alérgica aguda (uma reação neurótica), mas não é a causa exclusiva.

Da mesma forma, podemos dizer que para desenvolver uma neurose é preciso uma certa vulnerabilidade emocional e, para que esta se manifeste em sua plenitude, é preciso uma vivência desencadeadora.
A Neurose é herdada?Em primeiro lugar convém fazer uma distinção entre o que é genético, o que é constitucional e o que é hereditário:

1) Se uma doença é Genética, isso quer dizer que antes de nascer a pessoa pode ter um gene ou uma programação genética que a conduza em direção à doença. Isso se dá sob a forma de probabilidade e não de certeza.
Cada um de nós carrega genes de diferentes doenças mas não as desenvolvemos obrigatoriamente. Um exemplo claro disso é o câncer de pulmão, identificado em genes de pessoas sadias não fumantes. Uma pessoa que tenha este gene teria uma predisposição genética a desenvolver a doença, mas isso não quer dizer que esta pessoa vá desenvolvê-la obrigatoriamente. De fato, se não fumar, levar uma vida não estressante, enfim, se não facilitar os requisitos necessários ao desenvolvimento da doença, muito provavelmente não terá câncer de pulmão.
2) É Constitucional a doença que faz parte da pessoa, sem necessariamente ter sido genética ou hereditária. Constitucional significa ter nascido assim ou ter adquirido para sempre. Se a pessoa nasceu surda, essa surdez é constitucional, sem necessidade de ser genética. As marcas de vacina que alguns têm nos braços desde criança, são constitucionais (fazem parte da pessoa) mas não foram herdadas. Antes disso, foram adquiridas em tenra idade e não desapareceram mais.
3) Doença Hereditária é uma doença genética que se transmitirá, com certeza, de uma geração a outra e, além disso, terá uma porcentagem fixa e calculada de novos casos da doença na geração seguinte.
Um exemplo de doença hereditária é a Coréia de Huntington. Esta doença crônica supõe um degeneração corporal e mental que se passa de uma geração a outra, desenvolvendo-se em 50% dos filhos. Quer dizer que um paciente de Coréia de Huntington que decide ter um filho sabe, de antemão, que a cada dois filhos que nascerem, no mínimo um desenvolverá a enfermidade.
Até o momento, podemos considerar as Neuroses de natureza Constitucional e, algumas vezes, Genética.
Qual a importância social das neuroses?As neuroses são, indubitavelmente, o contingente mais importante de pacientes que procuram ajuda de psicólogos e psiquiatras. Seu quadro é extremamente variado, indo dos problemas psicossomáticos, sexuais, depressões, angústia, insôniao, etc, etc.

As neuroses interferem e estão presentes também nos problemas de aprendizagem, no desenvolvimento da personalidade, no fracasso escolar, nos conflitos failiares e nas crisis conjugais.

A psiquiatria considera as neuroses transtornos menores, em relação às psicoses. Isso se deve ao fato do neurótico conservar, de alguma maneira, critérios de avaliação da realidad semelhantes às pessoas consideradas normais. Entretanto, ao falarmos em “transtorno menor”, não estamos nos referindo a algum criterio de prognóstico. O mais comum é que a neurose tenha um curso crônico e, não tratada, pode levar a algum grau de incapacidade social e/ou profissional.

 
Cred.:http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=288

Neurose Conceitos e causas


Os problemas psíquicos podem ser classificados em dois grandes grupos: as psicoses e as neuroses. Em caso de psicose, um problema mental muito grave provavelmente provocado por alterações orgânicas cerebrais ainda não identificadas, o paciente perde o sentido da realidade e a sua personalidade encontra-se desorganizada, como acontece, por exemplo, em caso de esquizofrenia. No caso da neurose, um problema psíquico de menor gravidade, o paciente não perde o sentido da realidade e a sua personalidade não se encontra desorganizada. Para além disso, os sinais e sintomas psíquicos e físicos manifestados durante as neuroses não costumam ser provocados por alterações orgânicas, mas pela lesão interna provocada pelos conflitos que o indivíduo irá encontrar até se adaptar ao meio que o rodeia.
A neurose costuma afectar indivíduos com uma personalidade predisponente, o que favorece uma tendência para negar a realidade e para resistir a ela. Por outro lado, a educação e as características culturais do meio também desempenham um pa- pel muito importante no desenvolvimento de uma neurose, pois contribuem de forma decisiva para moldar a personalidade, podendo acentuar, consequentemente, os traços neuróticos do indivíduo. Para além disso, a neurose pode ser desencadeada ou agravada pelo aparecimento de circunstâncias que, por serem stressantes ou conflituosas, podem acentuar ainda mais os traços neuróticos do indivíduo. Existem vários tipos de neurose consoante os traços da personalidade e as manifestações características. Os mais significativos são provocados pelas perturbações de ansiedade ou pelas neuroses de angústia, anteriormente referidas - a neurose histérica e a neurose obsessiva.
Neurose histérica
A neurose histérica, ou simplesmente histeria, caracteriza-se pela existência de alterações transitórias da consciência, tais como períodos de amnésia ou perda de memória, e por diversas manifestações sensitivas ou motoras, igualmente passageiras e perturbadoras, tais como tiques, perda da sensibilidade cutânea, paralisia dos membros, cegueira ou convulsões.
O problema, muito mais frequente nas mulheres do que nos homens, costuma afectar pessoas com personalidade histérica, ou seja, uma personalidade caracterizada por uma forte tendência para ser o centro das atenções, para seduzir e sensualizar as reacções afectivas e sociais, teatralizar os conflitos e manipular ou confundir a realidade. Um outro traço importante deste tipo de personalidade é um evidente poder de auto-sugestão, o que torna estes indivíduos vulneráveis e dependentes nas relações pessoais, podendo perturbar-lhes as suas percepções sensoriais.
Por outro lado, do ponto de vista psicológico, considera-se que a histeria possa ser provocada por conflitos vividos ao longo da infância, os quais tenham sido reprimidos e posteriormente esquecidos, mas que são, alguns anos mais tarde, inconscientemente activados perante determinadas situações. De acordo com esta perspectiva, estas manifestações também poderiam provocar um efeito secundário benéfico ao paciente, pois desta forma poderiam conseguir iludir certas responsabilidades ou receber mais atenção das pessoas que o rodeiam.
Manifestações. A histeria permite vários tipos de manifestações psíquicas e físicas que se costumam evidenciar sob a forma de episódios passageiros. As manifestações mentais mais comuns são os episódios denominados acidentes psíquicos, de perdas da memória de uma determinada época da vida, de situações de multiplicação da personalidade, de estados de sonambulismo, de crises de perda da consciência e de alucinações. As manifestações físicas, sob a forma de episódios designados acidentes somáticos, podem afectar o funcionamento de todos os órgãos ou sistemas e correspondem a fenómenos tão diferentes como perdas da mobilidade ou contraturas musculares de um membro, crises de dor abdominal, estados de cegueira passageira ou perdas da sensibilidade cutânea.
Evolução. Embora a personalidade histérica seja crónica, por definição, a neurose histérica não se costuma prolongar por muitos anos, excepto nalguns casos em que predominam as manifestações físicas.
Neurose obsessiva
A neurose obsessiva caracteriza-se pela presença e persistência de uma série de ideias fixas e obsessivas, receios injustificados e actos compulsivos que, em conjunto, se tornam irracionais, constantes e muito difíceis de controlar. Este tipo de neurose, mais frequente nos homens, costuma afectar indivíduos com uma personalidade obsessiva, caracterizada por uma grande propensão para questionar as coisas, por grande insegurança pessoal e pelo recurso a várias superstições. Para além disso, constatou-se que uma educação em que se valoriza em excesso a moral, a ordem e a higiene também pode constituir uma predisposição ao provocar o desenvolvimento de um forte sentimento de culpa. Por outro lado, a doença é frequentemente desencadeada por conflitos afectivos, sociais ou profissionais que acentuem o carácter obsessivo do indivíduo.
Manifestações. É possível distinguir três tipos de manifestações.
As ideias obsessivas caracterizam-se por serem injustificadas, constantes e atormentadoras. O conteúdo é muito variável: temas religiosos, de natureza física ou espiritual, metafísicos, a preocupação pela proporção e ordem das coisas, o decorrer do tempo... Em qualquer caso, o que mais sobressai nestas ideias é a predominância da dúvida em detrimento das respostas e soluções práticas.
Os receios obsessivos, igualmente injustificados e persistentes, podem manifestar-se após qualquer situação interpretada como sinal de mau augúrio, como é o caso de uma pequena ferida que pode infectar, agravar, provocar uma doença grave, pôr em perigo a vida...
Os actos compulsivos consistem em rituais complexos, elaborados e supersticiosos, realizados com o intuito de prevenir situações de perigo, e consistem em excessivas verificações, em lavar as mãos com uma frequência exagerada ou realizar sistematicamente vários gestos ao passar por um determinado sítio.
Evolução. Caso as manifestações sejam ligeiras e desencadeadas por circunstâncias pontuais, o prognóstico costuma ser favorável. Por outro lado, quando as ideias, receios e actos obsessivos são intensos, podem captar toda a energia do paciente, perturbando progressivamente a realidade pessoal.


cred.:http://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=345

F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes


Exclui:
quando associado aos transtornos de conduta classificados em F91.- (F92.8)
F40 Transtornos fóbico-ansiosos
Grupo de transtornos nos quais uma ansiedade é desencadeada exclusiva ou essencialmente por situações nitidamente determinadas que não apresentam atualmente nenhum perigo real. Estas situações são, por esse motivo, evitadas ou suportadas com temor. As preocupações do sujeito podem estar centradas sobre sintomas individuais tais como palpitações ou uma impressão de desmaio, e freqüentemente se associam com medo de morrer, perda do autocontrole ou de ficar louco. A simples evocação de uma situação fóbica desencadeia em geral ansiedade antecipatória. A ansiedade fóbica freqüentemente se associa a uma depressão. Para determinar se convém fazer dois diagnósticos (ansiedade fóbica e episódio depressivo) ou um só (ansiedade fóbica ou episódio depressivo), é preciso levar em conta a ordem de ocorrência dos transtornos e as medidas terapêuticas que são consideradas no momento do exame.
F40.0 Agorafobia
Grupo relativamente bem definido de fobias relativas ao medo de deixar seu domicílio, medo de lojas, de multidões e de locais públicos, ou medo de viajar sozinho em trem, ônibus ou avião. A presença de um transtorno de pânico é freqüente no curso dos episódios atuais ou anteriores de agorafobia. Entre as características associadas, acham-se freqüentemente sintomas depressivos ou obsessivos, assim como fobias sociais. As condutas de evitação comumente são proeminentes na sintomatologia e certos agorafóbicos manifestam pouca ansiedade dado que chegam a evitar as situações geradoras de fobia.
Agorafobia sem antecedentes de transtorno de pânico
Transtorno de pânico com agorafobia
F40.1 Fobias sociais
Medo de ser exposto à observação atenta de outrem e que leva a evitar situações sociais. As fobias sociais graves se acompanham habitualmente de uma perda da auto-estima e de um medo de ser criticado. As fobias sociais podem se manifestar por rubor, tremor das mãos, náuseas ou desejo urgente de urinar, sendo que o paciente por vezes está convencido que uma ou outra destas manifestações secundárias constitui seu problema primário. Os sintomas podem evoluir para um ataque de pânico.
Antropofobia
Neurose social
F40.2 Fobias específicas (isoladas)
Fobias limitadas a situação altamente específicas tais como a proximidade de determinados animais, locais elevados, trovões, escuridão, viagens de avião, espaços fechados, utilização de banheiros públicos, ingestão de determinados alimentos, cuidados odontológicos, ver sangue ou ferimentos. Ainda que a situação desencadeante seja inofensiva, o contato com ela pode desencadear um estado de pânico como na agorafobia ou fobia social.
Acrofobia
Claustrofobia
Fobia(s) (de):
·    animais
·    simples
Exclui:
dismorfofobia (não-delirante) (F45.2)
nosofobia (F45.2)
F40.8 Outros transtornos fóbico-ansiosos
F40.9 Transtorno fóbico-ansioso não especificado
Estado fóbico SOE
Fobia SOE
F41 Outros transtornos ansiosos
Transtornos caracterizados essencialmente pela presença da manifestações ansiosas que não são desencadeadas exclusivamente pela exposição a uma situação determinada. Podem se acompanhar de sintomas depressivos ou obsessivos, assim como de certas manifestações que traduzem uma ansiedade fóbica, desde que estas manifestações sejam, contudo, claramente secundárias ou pouco graves.
F41.0 Transtorno de pânico [ansiedade paroxística episódica]
A característica essencial deste transtorno são os ataques recorrentes de uma ansiedade grave (ataques de pânico), que não ocorrem exclusivamente numa situação ou em circunstâncias determinadas mas de fato são imprevisíveis. Como em outros transtornos ansiosos, os sintomas essenciais comportam a ocorrência brutal de palpitação e dores torácicas, sensações de asfixia, tonturas e sentimentos de irrealidade (despersonalização ou desrrealização). Existe, além disso, freqüentemente um medo secundário de morrer, de perder o autocontrole ou de ficar louco. Não se deve fazer um diagnóstico principal de transtorno de pânico quando o sujeito apresenta um transtorno depressivo no momento da ocorrência de um ataque de pânico, uma vez que os ataques de pânico são provavelmente secundários à depressão neste caso.
Ataque
ü

Estado
ý
de pânico
Síndrome
þ

Exclui:
transtorno de pânico com agorafobia (F40.0)
F41.1 Ansiedade generalizada
Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre exclusivamente nem mesmo de modo preferencial numa situação determinada (a ansiedade é “flutuante”). Os sintomas essenciais são variáveis, mas compreendem nervosismo persistente, tremores, tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico. Medos de que o paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar doente ou sofrer um acidente são freqüentemente expressos.
Estado
î
ansiosa(o)
Neurose
ì

Reação de angústia
Exclui:
neurastenia (F48.0)
F41.2 Transtorno misto ansioso e depressivo
Esta categoria deve ser utilizada quando o sujeito apresenta ao mesmo tempo sintomas ansiosos e sintomas depressivos, sem predominância nítida de uns ou de outros, e sem que a intensidade de uns ou de outros seja suficiente para justificar um diagnóstico isolado. Quando os sintomas ansiosos e depressivos estão presentes simultaneamente com uma intensidade suficiente para justificar diagnósticos isolados, os dois diagnósticos devem ser anotados e não se faz um diagnóstico de transtorno misto ansioso e depressivo.
Depressão ansiosa (leve ou não-persistente)
F41.3 Outros transtornos ansiosos mistos
Sintomas ansiosos mistos se acompanham de características de outros transtornos citados em F42-F48. Nenhum tipo de sintoma é suficientemente grave para justificar diagnósticos isolados.
F41.8 Outros transtornos ansiosos especificados
Histeria de angústia
F41.9 Transtorno ansioso não especificado
Ansiedade SOE
F42 Transtorno obsessivo-compulsivo
Transtorno caracterizado essencialmente por idéias obsessivas ou por comportamentos compulsivos recorrentes. As idéias obsessivas são pensamentos, representações ou impulsos, que se intrometem na consciência do sujeito de modo repetitivo e estereotipado. Em regra geral, elas perturbam muito o sujeito, o qual tenta, freqüentemente resistir-lhes, mas sem sucesso. O sujeito reconhece, entretanto, que se trata de seus próprios pensamentos, mas estranhos à sua vontade e em geral desprazeirosos. Os comportamentos e os rituais compulsivos são atividades estereotipadas repetitivas. O sujeito não tira prazer direto algum da realização destes atos os quais, por outro lado, não levam à realização de tarefas úteis por si mesmas. O comportamento compulsivo tem por finalidade prevenir algum evento objetivamente improvável, freqüentemente implicando dano ao sujeito ou causado por ele, que ele(a) teme que possa ocorrer. O sujeito reconhece habitualmente o absurdo e a inutilidade de seu comportamento e faz esforços repetidos para resistir-lhes. O transtorno se acompanha quase sempre de ansiedade. Esta ansiedade se agrava quando o sujeito tenta resistir à sua atividade compulsiva.
Inclui:
neurose:
·    anancástica
·    obsessivo-compulsiva
Exclui:
personalidade (transtorno da) obsessivo-compulsiva (F60.5)
F42.0 Transtorno obsessivo-compulsivo com predominância de idéias ou de ruminações obsessivas
Pode-se tratar de pensamentos, imagens mentais ou impulsos para agir, quase sempre angustiantes para o sujeito. Às vezes trata-se de hesitações intermináveis entre várias opções, que se acompanham freqüentemente de uma incapacidade de tomar decisões banais mas necessárias à vida cotidiana. Existe uma relação particularmente estreita entre as ruminações obsessivas e a depressão, e deve-se somente preferir um diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo quando as ruminações surgem ou persistem na ausência de uma síndrome depressiva.
F42.1 Transtorno obsessivo-compulsivo com predominância de comportamentos compulsivos [rituais obsessivos]
A maioria dos atos compulsivos está ligada à limpeza (particularmente lavar as mãos), verificações repetidas para evitar a ocorrência de uma situação que poderia se tornar perigosa, ou um desejo excessivo de ordem. Sob este comportamento manifesto, existe o medo, usualmente de perigo ao ou causado pelo sujeito e a atividade ritual constitui um meio ineficaz ou simbólico de evitar este perigo.
F42.2 Transtorno obsessivo-compulsivo, forma mista, com idéias obsessivas e comportamentos compulsivos
F42.8 Outros transtornos obsessivo-compulsivos
F42.9 Transtorno obsessivo-compulsivo não especificado
F43 Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação
Esta categoria difere das outras na medida que sua definição não repousa exclusivamente sobre a sintomatologia e a evolução, mas igualmente sobre a existência de um ou outro dos dois fatores causais seguintes: um acontecimento particularmente estressante desencadeia uma reação de “stress” aguda, ou uma alteração particularmente marcante na vida do sujeito, que comporta conseqüências desagradáveis e duradouras e levam a um transtorno de adaptação. Embora fatores de “stress” psicossociais (“life events”) relativamente pouco graves possam precipitar a ocorrência de um grande número de transtornos classificados em outra parte neste capítulo ou influenciar-lhes o quadro clínico, nem sempre é possível atribuir-lhes um papel etiológico, quanto mais que é necessário levar em consideração fatores de vulnerabilidade, freqüentemente idiossincráticos, próprios de cada indivíduo; em outros termos, estes fatores não são nem necessários nem suficientes para explicar a ocorrência e a natureza do transtorno observado. Em contraste, para os transtornos reunidos aqui sob F43, admite-se que sua ocorrência é sempre a conseqüência direta de um “stress” agudo importante ou de um traumatismo persistente. O acontecimento estressante ou as circunstâncias penosas persistentes constituem o fator causal primário e essencial, na ausência do qual o transtorno não teria ocorrido. Os transtornos reunidos neste capítulo podem assim ser considerados como respostas inadaptadas a um “stress” grave ou persistente, na medida em que eles interferem com mecanismos adaptativos eficazes e entravam assim o funcionamento social.
F43.0 Reação aguda ao “stress”
Transtorno transitório que ocorre em indivíduo que não apresenta nenhum outro transtorno mental manifesto, em seguida a um “stress” físico e/ou psíquico excepcional, e que desaparece habitualmente em algumas horas ou em alguns dias. A ocorrência e a gravidade de uma reação aguda ao “stress” são influenciadas por fatores de vulnerabilidade individuais e pela capacidade do sujeito de fazer face ao traumatismo. A sintomatologia é tipicamente mista e variável e comporta de início um estado de aturdimento caracterizado por um certo estreitamento do campo da consciência e dificuldades de manter a atenção ou de integrar estímulos, e uma desorientação. Este estado pode ser seguido quer por um distanciamento do ambiente (podendo tomar a forma de um estupor dissociativo – ver F44.2) ou de uma agitação com hiperatividade (reação de fuga). O transtorno se acompanha freqüentemente de sintomas neurovegetativos de uma ansiedade de pânico (taquicardia, transpiração, ondas de calor). Os sintomas se manifestam habitualmente nos minutos que seguem a ocorrência do estímulo ou do acontecimento estressante e desaparecem no espaço de dois a três dias (freqüentemente em algumas horas). Pode haver uma amnésia parcial ou completa (F44.0) do episódio. Quando os sintomas persistem, convém considerar uma alteração do diagnóstico (e do tratamento).
Choque psíquico
Estado de crise
Fadiga de combate
Reação aguda (à) (ao):
·    crise
·    “stress”
F43.1 Estado de “stress” pós-traumático
Este transtorno constitui uma resposta retardada ou protraída a uma situação ou evento estressante (de curta ou longa duração), de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, e que provocaria sintomas evidentes de perturbação na maioria dos indivíduos. Fatores predisponentes, tais como certos traços de personalidade (por exemplo compulsiva, astênica) ou antecedentes do tipo neurótico, podem diminuir o limiar para a ocorrência da síndrome ou agravar sua evolução; tais fatores, contudo, não são necessários ou suficientes para explicar a ocorrência da síndrome. Os sintomas típicos incluem a revivescência repetida do evento traumático sob a forma de lembranças invasivas (“flashbacks”), de sonhos ou de pesadelos; ocorrem num contexto durável de “anestesia psíquica” e de embotamento emocional, de retraimento com relação aos outros, insensibilidade ao ambiente, anedonia, e de evitação de atividades ou de situações que possam despertar a lembrança do traumatismo. Os sintomas precedentes se acompanham habitualmente de uma hiperatividade neurovegetativa, com hipervigilância, estado de alerta e insônia, associadas freqüentemente a uma ansiedade, depressão ou ideação suicida. O período que separa a ocorrência do traumatismo do transtorno pode variar de algumas semanas a alguns meses. A evolução é flutuante, mas se faz para a cura na maioria dos casos. Em uma pequena proporção de casos, o transtorno pode apresentar uma evolução crônica durante numerosos anos e levar a uma alteração duradoura da personalidade (F62.0).
Neurose traumática
F43.2 Transtornos de adaptação
Estado de sofrimento e de perturbação emocional subjetivos, que entravam usualmente o funcionamento e o desempenho sociais. ocorrendo no curso de um período de adaptação a uma mudança existencial importante ou a um acontecimento estressante. O fator de “stress” pode afetar a integridade do ambiente social do sujeito (luto, experiências de separação) ou seu sistema global de suporte social e de valor social (imigração, estado de refugiado); ou ainda representado por uma etapa da vida ou por uma crise do desenvolvimento (escolarização, nascimento de um filho, derrota em atingir um objetivo pessoal importante, aposentadoria). A predisposição e a vulnerabilidade individuais desempenham um papel importante na ocorrência e na sintomatologia de um transtorno de adaptação; admite-se, contudo, que o transtorno não teria ocorrido na ausência do fator de “stress” considerado. As manifestações, variáveis, compreendem: humor depressivo, ansiedade, inquietude (ou uma combinação dos precedentes), sentimento de incapacidade de enfrentar, fazer projetos ou a continuar na situação atual, assim como certa alteração do funcionamento cotidiano. Transtornos de conduta podem estar associados, em particular nos adolescentes. A característica essencial deste transtorno pode consistir de uma reação depressiva, ou de uma outra perturbação das emoções e das condutas, de curta ou longa duração.
Choque cultural
Hospitalismo da criança
Reação de luto
Exclui:
transtorno ligado à angústia de separação na infância (F93.0)
F43.8 Outras reações ao “stress” grave
F43.9 Reação não especificada a um “stress” grave
F44 Transtornos dissociativos [de conversão]
Os transtornos dissociativos ou de conversão se caracterizam por uma perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais. Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses, em particular quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está ligada a problemas ou dificuldades interpessoais insolúveis. No passado, estes transtornos eram classificados entre diversos tipos de “histeria de conversão”. Admite-se que sejam psicogênicos, dado que ocorrem em relação temporal estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis e insuportáveis, ou relações interpessoais difíceis. Os sintomas traduzem freqüentemente a idéia que o sujeito se faz de uma doença física. O exame médico e os exames complementares não permitem colocar em evidência um transtorno físico (em particular neurológico) conhecido. Por outro lado, dispõe-se de argumentos para pensar que a perda de uma função é, neste transtorno, a expressão de um conflito ou de uma necessidade psíquica. Os sintomas podem ocorrer em relação temporal estreita com um “stress” psicológico e ocorrer freqüentemente de modo brusco. O transtorno concerne unicamente quer a uma perturbação das funções físicas que estão normalmente sob o controle da vontade, quer a uma perda das sensações. Os transtornos que implicam manifestações dolorosas ou outras sensações físicas complexas que fazem intervir o sistema nervoso autônomo, são classificados entre os transtornos somatoformes (F45.0). Há sempre a possibilidade de ocorrência numa data ulterior de um transtorno físico ou psiquiátrico grave.
Inclui:
histeria
histeria
î
de conversão
reação
ì

psicose histérica
Exclui:
simulador [simulação consciente] (Z76.5)
F44.0 Amnésia dissociativa
A característica essencial é a de uma perda da memória, que diz respeito geralmente a acontecimentos importantes recentes, não devida a transtorno mental orgânico, e muito importante para ser considerado como expressão de esquecimento ou de fadiga. A amnésia diz respeito habitualmente aos eventos traumáticos, tais como acidentes ou lutos imprevistos, e é mais freqüente que seja parcial e seletiva. Uma amnésia completa e generalizada é rara, e diz respeito habitualmente a uma fuga (F44.1); neste caso, deve-se fazer um diagnóstico de fuga. Não se deve fazer este diagnóstico na presença de um transtorno cerebral orgânico, de uma intoxicação, ou de uma fadiga extrema.
Exclui:
amnésia:
·    SOE (R41.3)
·    anterógrada (R41.1)
·    pós-convulsiva dos epilépticos (G40.-)
·    retrógrada (R41.2)
síndrome amnésica orgânica não-alcoólica (F04)
transtorno amnésico induzido pelo álcool ou por outra substância psicoativa (F10-F19 com quarto caractere comum .6)
F44.1 Fuga dissociativa
Uma fuga apresenta todas as características de uma amnésia dissociativa: comporta além disto, um deslocamento motivado maior que o raio de deslocamento habitual cotidiano. Embora exista uma amnésia para o período de fuga, o comportamento do sujeito no curso desta última pode parecer perfeitamente normal para observadores desinformados.
Exclui:
fuga pós-convulsiva na epilepsia (G40.-)
F44.2 Estupor dissociativo
O diagnóstico de estupor dissociativo repousa sobre a presença de uma diminuição importante ou de uma ausência dos movimentos voluntários e da reatividade normal a estímulos externos, tais como luz, ruído, tato, sem que os exames clínicos e os exames complementares mostrem evidências de uma causa física. Além disto, dispõe-se de argumentos em favor de uma origem psicogênica do transtorno, na medida que é possível evidenciar eventos ou problemas estressantes recentes.
Exclui:
estado catatônico orgânico (F06.1)
estupor:
·    SOE (R40.1)
·    catatônico (F20.2)
·    depressivo (F31-F33)
·    maníaco (F30.2)
F44.3 Estados de transe e de possessão
Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente. Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.
Exclui:
esquizofrenia (F20.-)
intoxicação por uma substância psicoativa (F10-F19 com quarto caractere comum .0)
síndrome pós-traumática (F07.2)
transtorno(s):
·    orgânico da personalidade (F07.0)
·    psicóticos agudos e transitórios (F23.-)
F44.4 Transtornos dissociativos do movimento
As variedades mais comuns destes transtornos são a perda da capacidade de mover uma parte ou a totalidade do membro ou dos membros. Pode haver semelhança estreita com quaisquer variedades de ataxia, apraxia, acinesia, afonia, disartria, discinesia, convulsões ou paralisia.
Afonia psicogênica
Disfonia psicogênica
Torcicolo histérico
F44.5 Convulsões dissociativas
Os movimentos observados no curso das convulsões dissociativas podem se assemelhar de perto àquelas observadas no curso das crises epiléticas; mas a mordedura de língua, os ferimentos por queda e a incontinência de urina são raros contudo; além disto, a consciência está preservada ou substituída por um estado de estupor ou transe.
F44.6 Anestesia e perda sensorial dissociativas
Os limites das áreas cutâneas anestesiadas correspondem freqüentemente às concepções pessoais do paciente, mais do que a descrições científicas. Pode haver igualmente uma perda de um tipo de sensibilidade dado, com conservação de outras sensibilidades, não correspondendo a nenhuma lesão neurológica conhecida. A perda de sensibilidade pode se acompanhar de parestesias. As perdas da visão e da audição raramente são totais nos transtornos dissociativos.
Surdez psicogênica
F44.7 Transtorno dissociativo misto [de conversão]
Combinação de transtornos descritos em F44.0-F44.6
F44.8 Outros transtornos dissociativos [de conversão]
Confusão psicogênica
Estado crepuscular psicogênico
Personalidade múltipla
Síndrome de Ganser
F44.9 Transtorno dissociativo [de conversão] não especificado
F45 Transtornos somatoformes
A característica essencial diz respeito à presença repetida de sintomas físicos associados à busca persistente de assistência médica, apesar que os médicos nada encontram de anormal e afirmam que os sintomas não têm nenhuma base orgânica. Se quaisquer transtornos físicos estão presentes, eles não explicam nem a natureza e a extensão dos sintomas, nem o sofrimento e as preocupações do sujeito.
Exclui:
arrancar-se os cabelos (F98.4)
disfunção sexual não devida a doença ou a transtorno orgânico (F52.-)
dislalia (F80.8)
fatores psicológicos ou comportamentais associados a doenças ou transtornos classificados em outra parte (F54)
lalação (F80.0)
roer unhas (F98.8)
síndrome de Gilles de la Tourette (F95.2)
sucção do polegar (F98.8)
tiques (na infância e na adolescência) (F95.-)
transtornos dissociativos (F44.-)
tricotilomania (F63.3)
F45.0 Transtorno de somatização
Transtorno caracterizado essencialmente pela presença de sintomas físicos, múltiplos, recorrentes e variáveis no tempo, persistindo ao menos por dois anos. A maioria dos pacientes teve uma longa e complicada história de contato tanto com a assistência médica primária quanto especializada durante as quais muitas investigações negativas ou cirurgias exploratórias sem resultado podem ter sido realizadas. Os sintomas podem estar referidos a qualquer parte ou sistema do corpo. O curso da doença é crônico e flutuante, e freqüentemente se associa a uma alteração do comportamento social, interpessoal e familiar. Quando o transtorno tem uma duração mais breve (menos de dois anos) ou quando ele se caracteriza por sintomas menos evidentes, deve-se fazer o diagnóstico de transtorno somatoforme indiferenciado (F45.1).
Transtorno de Briquet
Transtorno psicossomático múltiplo
Exclui:
simulador [simulação consciente] (Z76.5)
F45.1 Transtorno somatoforme indiferenciado
Quando as queixas somatoformes são múltiplas, variáveis no tempo e persistentes, mas que não correspondem ao quadro clínico completo e típico de um transtorno de somatização, o diagnóstico de transtorno somatoforme indiferenciado deve ser considerado.
Transtorno psicossomático indiferenciado
F45.2 Transtorno hipocondríaco
A característica essencial deste transtorno é uma preocupação persistente com a presença eventual de um ou de vários transtornos somáticos graves e progressivos. Os pacientes manifestam queixas somáticas persistentes ou uma preocupação duradoura com a sua aparência física. Sensações e sinais físicos normais ou triviais são freqüentemente interpretados pelo sujeito como anormais ou perturbadores. A atenção do sujeito se concentra em geral em um ou dois órgãos ou sistemas. Existem freqüentemente depressão e ansiedade importantes, e que podem justificar um diagnóstico suplementar.
Dismorfofobia (corporal) (não-delirante)
Hipocondria
Neurose hipocondríaca
Nosofobia
Exclui:
dismorfofobia delirante (F22.8)
idéias delirantes persistentes sobre o funcionamento ou a forma do corpo (F22.-)
F45.3 Transtorno neurovegetativo somatoforme
O paciente atribui seus sintomas a um transtorno somático de um sistema ou de órgão inervado e controlado, em grande parte ou inteiramente, pelo sistema neurovegetativo: sistema cardiovascular, gastrointestinal, respiratório e urogenital. Os sintomas são habitualmente de dois tipos, sendo que nenhum dos dois indica transtorno somático do órgão ou do sistema referido. O primeiro tipo consiste de queixas a respeito de um hiperfuncionamento neurovegetativo, por exemplo palpitações, transpiração, ondas de calor ou de frio, tremores, assim como por expressão de medo e perturbação com a possibilidade de uma doença física. O segundo tipo consiste de queixas subjetivas inespecíficas e variáveis, por exemplo dores e sofrimentos, e sensações de queimação, peso, aperto e inchaço ou distensão, atribuídos pelo paciente a um órgão ou sistema específico.
Astenia neurocirculatória
Formas psicogênicas (de um) (de uma):
·    aerofagia
·    cólon irritável
·    diarréia
·    dispepsia
·    disúria
·    flatulência
·    hiperventilação
·    piloroespasmo
·    polaciúria
·    soluço
·    tosse
Neurose:
·    cardíaca
·    gástrica
Síndrome de Da Costa
Exclui:
fatores psicológicos e comportamentais associados a transtornos físicos classificados em outra parte (F54)
F45.4 Transtorno doloroso somatoforme persistente
A queixa predominante é uma dor persistente, intensa e angustiante, dor esta não explicável inteiramente por um processo fisiológico ou um transtorno físico, e ocorrendo num contexto de conflitos emocionais e de problemas psicossociais suficientemente importantes para permitir a conclusão de que os mesmos sejam a causa essencial do transtorno. O resultado é em geral uma maior atenção em suporte e assistência quer pessoal, quer médica. Uma dor considerada como psicogênica mas ocorrendo no curso de um transtorno depressivo ou de uma esquizofrenia não deve ser aqui classificada.
Cefaléia psicogênica
Dor(es):
·    psicogênicas da coluna vertebral
·    somatoforme
Psicalgia
Exclui:
cefaléias tensionais (G44.2)
dor:
·    SOE (R52.9)
·    aguda (R52.0)
·    crônica (R52.2)
·    irredutível (R52.1)
·    lombar SOE (M54.9)
F45.8 Outros transtornos somatoformes
Todos os outros transtornos das sensações, das funções e do comportamento, não devidos a um transtorno físico que não estão sob a influência do sistema neurovegetativo, que se relacionam a sistemas ou a partes do corpo específicos, e que ocorrem em relação temporal estreita com eventos ou problemas estressantes.
Disfagia psicogênica, incluindo “bolo histérico”
Dismenorréia psicogênica
Prurido psicogênico
Ranger de dentes
Torcicolo psicogênico
F45.9 Transtorno somatoforme não especificado
Transtorno psicossomático SOE
F48 Outros transtornos neuróticos
F48.0 Neurastenia
Existem variações culturais consideráveis para a apresentação deste transtorno, sendo que dois tipos principais ocorrem, com considerável superposição. No primeiro tipo, a característica essencial é a de uma queixa relacionada com a existência de uma maior fatigabilidade que ocorre após esforços mentais freqüentemente associada a uma certa diminuição do desempenho profissional e da capacidade de fazer face às tarefas cotidianas. A fatigabilidade mental é descrita tipicamente como uma intrusão desagradável de associações ou de lembranças que distraem, dificuldade de concentração e pensamento geralmente ineficiente. No segundo tipo, a ênfase se dá mais em sensações de fraqueza corporal ou física e um sentimento de esgotamento após esforços mínimos, acompanhados de um sentimento de dores musculares e incapacidade para relaxar. Em ambos os tipos há habitualmente vários outras sensações físicas desagradáveis, tais como vertigens, cefaléias tensionais e uma impressão de instabilidade global. São comuns, além disto, inquietudes com relação a uma degradação da saúde mental e física, irritabilidade, anedonia, depressão e ansiedade menores e variáveis. O sono freqüentemente está perturbado nas suas fases inicial e média mas a hipersonia pode também ser proeminente.
Síndrome de fadiga
Usar código adicional, se necessário, para identificar a doença física antecedente.
Exclui:
astenia SOE (R53)
estafa (Z73.0)
mal estar e fadiga (R53)
psicastenia (F48.8)
síndrome da fadiga pós-viral (G93.3)
F48.1 Síndrome de despersonalização-desrealização
Trata-se de um transtorno raro no qual o paciente se queixa espontaneamente de uma alteração qualitativa de sua atividade mental, de seu corpo e de seu ambiente, estes últimos percebidos como irreais, longínquos ou “robotizados”. Dentre os vários fenômenos que caracterizam esta síndrome, os pacientes queixam-se mais freqüentemente de perda das emoções e de uma sensação de estranheza ou desligamento com relação aos seus pensamentos, seu corpo ou com o mundo real. A despeito da natureza dramática deste tipo de experiência, o sujeito se dá conta da ausência de alterações reais. As faculdades sensoriais são normais e as capacidades de expressão emocional intactos. Sintomas de despersonalização-desrealização podem ocorrer no contexto de um transtorno esquizofrênico, depressivo, fóbico ou obsessivo-compulsivo identificável. Neste caso, reter-se-á como diagnóstico aquele do transtorno principal.
F48.8 Outros transtornos neuróticos especificados
Neurose (de):
·    profissional (incluindo cãibra dos escritores)
·    psicastênica
Psicastenia
Síncope psicogênica
Síndrome de Dhat
F48.9 Transtorno neurótico não especificado
Neurose SOE


cred.:http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/webhelp/f40_f48.htm