terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Esquizofrenia e Transtornos Psicóticos II

Esquizofrenia e Transtornos Psicóticos
          DSM.IV

          Estão incluídos nesta parte os seguintes Transtornos Psicóticos - em azul:
Transtorno Esquizofrênico
Transtorno Esquizofreniforme
Transtorno Esquizoafetivo
Transtorno Delirante
Transtorno Psicótico Breve
Transtorno Psicótico Compartilhado
Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral
Transtorno Psicótico Induzido por Substância
Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação
F20.8 - 295.40 Transtorno Esquizofreniforme
     fDSM.IV
Características Diagnósticas
          As características essenciais do Transtorno Esquizofreniforme são idênticas às da Esquizofrenia (Critério A), exceto por duas diferenças: a duração total da doença (incluindo fases prodrômica, ativa e residual) é de pelo menos 1 mês, mas inferior a 6 meses (Critério B), e não é exigido um prejuízo no funcionamento social ou ocupacional durante alguma parte da doença (embora possa ocorrer). A exigência de duração para o Transtorno Esquizofreniforme é intermediária entre a do Transtorno Psicótico Breve (no qual os sintomas duram no mínimo 1 dia, mas menos de 1 mês) e a da Esquizofrenia (na qual os sintomas persistem por pelo menos 6 meses). O diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme é feito sob duas condições: na primeira, o diagnóstico é aplicado, sem qualificação, para um episódio da doença com duração entre um e 6 meses, do qual o indivíduo já se recuperou; no segundo caso, o diagnóstico é aplicado quando uma pessoa que, embora sintomática, apresentou os sintomas por um período inferior aos 6 meses exigidos para o diagnóstico de Esquizofrenia. Neste caso, o diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme deve ser qualificado como "Provisório", uma vez que não existe certeza de que o indivíduo realmente se recuperará da perturbação dentro do período de 6 meses. Se a perturbação persiste além de 6 meses, o diagnóstico deve ser mudado para Esquizofrenia.
Especificadores
          Os seguintes especificadores para o Transtorno Esquizofreniforme podem ser usados para indicar presença ou ausência de aspectos possivelmente associados com um melhor prognóstico:
Com Bons Aspectos Prognósticos. Este especificador é usado se pelo menos dois dos seguintes aspectos estão presentes: aparecimento de sintomas psicóticos proeminentes em quatro semanas após a primeira alteração perceptível no comportamento ou funcionamento habitual, confusão ou perplexidade no pico do episódio psicótico, bom funcionamento social e ocupacional pré-mórbido e ausência de afeto plano ou embotado. Sem Bons Aspectos Prognósticos. Este especificador é usado se dois ou mais dos aspectos acima não estão presentes.
Características e Transtornos Associados
          Diferentemente da Esquizofrenia, não se exige prejuízo no funcionamento social ou ocupacional para fazer um diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme. Entretanto, a maioria dos indivíduos experimenta disfunção em várias áreas do funcionamento diário (por ex., trabalho ou escola, relacionamentos interpessoais e cuidados pessoais).
Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero
          Para uma discussão adicional sobre os fatores da cultura, idade e gênero relevantes para o diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme, ver a seção "Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero" para Esquizofrenia. Existem sugestões de que, nos países em desenvolvimento, a recuperação de Transtornos Psicóticos pode ser mais rápida, o que resultaria em taxas maiores de Transtorno Esquizofreniforme do que de Esquizofrenia.
Prevalência
          Estudos comunitários relataram uma prevalência do Transtorno Esquizofreniforme durante a vida em torno de 0,2%, com uma prevalência anual de 0,1%.
Curso
          Existem poucas informações disponíveis sobre o curso do Transtorno Esquizofreniforme. Aproximadamente um terço dos indivíduos com um diagnóstico inicial de Transtorno Esquizofreniforme (Provisório) recupera-se dentro do período de 6 meses e recebe o diagnóstico final de Transtorno Esquizofreniforme. Os dois terços restantes progridem para um diagnóstico de Esquizofrenia ou Transtorno Esquizoafetivo.
Diagnóstico Diferencial
          Uma vez que os critérios de diagnóstico para Esquizofrenia e Transtorno Esquizofreniforme diferem primariamente em termos de duração da doença, a discussão sobre o diagnóstico diferencial de Esquizofrenia também se aplica ao Transtorno Esquizofreniforme. O Transtorno Esquizofreniforme difere do Transtorno Psicótico Breve, que tem uma duração menor do que 1 mês.
Critérios Diagnósticos para F20.8 - 295.40 Transtorno Esquizofreniforme
A. Satisfaz os critérios A, D e E para Esquizofrenia.
B. Um episódio do transtorno (incluindo as fases prodrômica, ativa e residual) dura no mínimo 1 mês, mas menos de 6 meses (quando o diagnóstico deve ser feito sem aguardar a recuperação, este deve ser qualificado como "Provisório").
Especificar se:
Sem Bons Aspectos Prognósticos
Com Bons Aspectos Prognósticos: evidenciados por dois ou mais dos seguintes critérios:
(1) início dos sintomas psicóticos proeminentes dentro de quatro semanas após a primeira alteração perceptível no comportamento ou funcionamento habitual
(2) confusão ou perplexidade no auge do episódio psicótico
(3) bom funcionamento social e ocupacional pré-mórbido
(4) ausência de afeto plano ou embotado

F25.x - 295.70 - Transtorno Esquizoafetivo
     DSM.IV

Características e Aspectos Associados
          A característica essencial do Transtorno Esquizoafetivo é um período ininterrupto de doença durante o qual, em algum momento, existe um Episódio Depressivo Maior, Maníaco ou Misto, concomitante com sintomas que satisfazem o Critério A para Esquizofrenia (Critério A). Além disso, durante o mesmo período de doença, ocorreram delírios ou alucinações por pelo menos duas semanas na ausência de sintomas proeminentes de humor (Critério B). Finalmente, os sintomas de humor estão presentes por uma porção substancial da duração total da doença (Critério C). Os sintomas não devem decorrer dos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., cocaína) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo ou epilepsia do lobo temporal) (Critério D). A fim de satisfazerem os critérios para Transtorno Esquizoafetivo, as características essenciais devem ocorrer dentro de um único período ininterrupto de doença. A expressão "período de doença", tal como utilizada aqui, refere-se a um período de tempo durante o qual o indivíduo continua apresentando sintomas ativos ou residuais de doença psicótica. Para alguns indivíduos, este período de doença pode durar anos ou mesmo décadas. Um período de doença é considerado findo quando o indivíduo se recuperou completamente por um intervalo significativo de tempo e não mais apresenta quaisquer sintomas significativos do transtorno. A fase da doença com sintomas psicóticos ou de humor concomitantes caracteriza-se por satisfazer todos os critérios, tanto para a fase ativa da Esquizofrenia (a saber, Critério A) quanto para Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco ou Episódio Misto. A duração do Episódio Depressivo Maior deve ser de no mínimo 2 semanas; a duração do episódio maníaco ou misto deve ser de pelo menos 1 semana. Como os sintomas psicóticos devem ter uma duração total de pelo menos 1 mês para satisfazerem o Critério A para Esquizofrenia, a duração mínima de um Episódio Esquizoafetivo também é de 1 mês. Uma característica essencial de um Episódio Depressivo Maior é a presença de humor deprimido ou interesse ou prazer acentuadamente diminuídos. Como a perda de interesse ou prazer também é comum nos Transtornos Psicóticos não-afetivos, a fim de satisfazer o Critério A para Transtorno Esquizoafetivo, o Episódio Depressivo Maior deve incluir humor deprimido global (isto é, não basta a presença de interesse ou prazer acentuadamente diminuídos). A fase da doença apenas com sintomas psicóticos é caracterizada por delírios ou alucinações que duram pelo menos 2 semanas. Embora alguns sintomas de humor possam estar presentes durante esta fase, eles não predominam. Esta determinação pode ser difícil e exigir uma observação longitudinal, além de múltiplas fontes de informações. Os sintomas do Transtorno Esquizoafetivo podem ocorrer em uma variedade de padrões temporais. O seguinte é um padrão típico: um indivíduo pode ter alucinações auditivas e delírios persecutórios pronunciados por 2 meses antes do aparecimento de um Episódio Depressivo Maior proeminente. Os sintomas psicóticos e o Episódio Depressivo Maior plenos estão presentes, então, por 3 meses. Depois, a pessoa recupera-se completamente do Episódio Depressivo Maior, mas os sintomas psicóticos persistem por mais 1 mês antes de também desaparecerem. Durante este período de doença, os sintomas do indivíduo satisfazem concomitantemente os critérios para Episódio Depressivo Maior e o Critério A para Esquizofrenia e, durante este mesmo período de doença, as alucinações auditivas e os delírios estiveram presentes tanto antes quanto após a fase depressiva. O período total de doença durou cerca de 6 meses, com a presença de sintomas psicóticos isolados durante os 2 meses iniciais, sintomas depressivos e psicóticos durante os 3 meses seguintes e apenas sintomas psicóticos durante o último mês. Neste caso, a duração do Episódio Depressivo não foi breve, relativamente à duração total da perturbação psicótica, de modo que a apresentação se qualifica para um diagnóstico de Transtorno Esquizoafetivo. O Critério C para Transtorno Esquizoafetivo especifica que os sintomas de humor que satisfazem aos critérios para um episódio de humor devem estar presentes por uma porção substancial de todo o período de doença. Se os sintomas de humor estão presentes apenas por um período relativamente breve, o diagnóstico é de Esquizofrenia, e não Transtorno Esquizoafetivo. Ao avaliar este critério, o clínico deve determinar a proporção de tempo durante o período contínuo da doença psicótica (isto é, sintomas ativos e residuais) no qual ocorreram sintomas significativos de humor acompanhando os sintomas psicóticos. A operacionalização do que queremos dizer com "uma porção substancial de tempo" requer julgamento clínico. Por exemplo, um indivíduo com uma história de 4 anos de sintomas ativos e residuais de Esquizofrenia desenvolve um Episódio Depressivo Maior sobreposto que dura cinco semanas, durante as quais persistem os sintomas psicóticos. Esta apresentação não satisfaria o critério para "uma porção substancial da duração total", uma vez que os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor ocorreram apenas durante 5 semanas de um total de 4 anos da perturbação. O diagnóstico, neste exemplo, continua sendo de Esquizofrenia, com o diagnóstico adicional de Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação para indicar o Episódio Depressivo Maior sobreposto.
Subtipos
          Dois subtipos de Transtorno Esquizoafetivo podem ser anotados com base no componente de humor do transtorno:
F25.0 - Tipo Bipolar. Este subtipo aplica-se se um Episódio Maníaco ou Episódio Misto faz parte da apresentação. Episódios Depressivos Maiores também podem ocorrer.
F25.1 - Tipo Depressivo. Este subtipo aplica-se quando apenas Episódios Depressivos Maiores fazem parte da apresentação.
Características e Transtornos Associados
          Pode haver um fraco funcionamento ocupacional, uma faixa restrita de contato social, dificuldades com os cuidados pessoais e um aumento no risco de suicídio em associação com o Transtorno Esquizoafetivo. Os sintomas residuais e negativos geralmente são menos severos e menos crônicos do que aqueles vistos na Esquizofrenia. Os indivíduos com Transtorno Esquizoafetivo podem estar em maior risco para o desenvolvimento posterior de episódios de um Transtorno do Humor puro (por ex., Transtorno Depressivo Maior ou Transtorno Bipolar) ou de Esquizofrenia ou Transtorno Esquizofreniforme. Pode haver transtornos associados Relacionados ao Álcool ou Relacionados a Outras Substâncias. Evidências clínicas limitadas sugerem que o Transtorno Esquizoafetivo pode ser precedido por Transtorno da Personalidade Esquizóide, Esquizotípica, Borderline ou Paranóide.
Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero
          Para uma discussão adicional de fatores de cultura, idade e gênero relevantes à avaliação dos sintomas psicóticos, consultar o texto para Esquizofrenia, e para uma discussão dos fatores relevantes ao diagnóstico de Transtornos do Humor,. O Transtorno Esquizoafetivo, Tipo Bipolar, pode ser mais comum em adultos jovens, enquanto o Transtorno Esquizoafetivo, Tipo Depressivo, pode ser mais comum em adultos mais velhos. Comparado com a Esquizofrenia, o Transtorno Esquizoafetivo provavelmente ocorre com maior freqüência em mulheres.
Prevalência
          Não há informações detalhadas disponíveis, mas o Transtorno Esquizoafetivo parece ser menos comum que a Esquizofrenia.
Curso
          A idade típica de início do Transtorno Esquizoafetivo provavelmente se situa nos primeiros anos da idade adulta, embora possa ocorrer desde qualquer momento da adolescência até uma idade mais avançada. O prognóstico para o Transtorno Esquizoafetivo é um pouco melhor que o prognóstico para a Esquizofrenia, mas consideravelmente pior do que para Transtornos do Humor. Uma disfunção ocupacional e social significativa não é incomum. O resultado do Transtorno Esquizoafetivo, Tipo Bipolar, pode ser melhor do que o do Transtorno Esquizoafetivo, Tipo Depressivo.
Padrão Familial
          Existem evidências substanciais de um risco aumentado para Esquizofrenia em parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Esquizoafetivo. A maioria dos estudos também mostra que os parentes de indivíduos com Transtorno Esquizoafetivo estão em maior risco para Transtornos do Humor.
Diagnóstico Diferencial
          Condições médicas gerais e uso de substâncias podem apresentar uma combinação de sintomas psicóticos e de humor. Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral, delirium ou demência são diagnosticados quando existem evidências, a partir da história, exame físico ou testes laboratoriais, indicando que os sintomas são a conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral específica. Transtorno Psicótico Induzido por Substância e Delirium Induzido por Substância são diferenciados do Transtorno Esquizoafetivo pelo fato de que uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento ou exposição a uma toxina) presumivelmente está etiologicamente relacionada com os sintomas. A distinção entre Transtorno Esquizoafetivo, Esquizofrenia e Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos freqüentemente é difícil. No Transtorno Esquizoafetivo, deve haver um episódio de humor concomitante com os sintomas da fase ativa da Esquizofrenia, os sintomas de humor devem estar presentes por uma porção substancial da duração total da perturbação e os delírios ou alucinações devem estar presentes por pelo menos 2 semanas, na ausência de sintomas proeminentes de humor. Em comparação, os sintomas de humor na Esquizofrenia têm uma duração breve em relação à duração total da perturbação, ocorrem apenas durante as fases prodrômica ou residual ou não satisfazem todos os critérios para um episódio de humor. Se os sintomas psicóticos ocorrem exclusivamente durante períodos de perturbação do humor, o diagnóstico é Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos. No Transtorno Esquizoafetivo, os sintomas não devem ser atribuídos a um episódio de humor se forem claramente decorrentes de sintomas de Esquizofrenia (por ex., dificuldade para dormir em razão de alucinações auditivas perturbadoras, perda de peso porque o alimento é considerado envenenado, dificuldade para concentrar-se em vista da desorganização psicótica). A perda de interesse ou prazer é comum em transtornos psicóticos não-afetivos; portanto, a fim de satisfazer o Critério A para Transtorno Esquizoafetivo, o Episódio Depressivo Maior deve incluir um humor globalmente deprimido. Uma vez que a proporção relativa de sintomas de humor para sintomas psicóticos pode mudar durante o curso da perturbação, o diagnóstico apropriado para um episódio individual da doença pode mudar, de Transtorno Esquizoafetivo para Esquizofrenia (por ex., um diagnóstico de Transtorno Esquizoafetivo para um Episódio Depressivo Maior severo e proeminente com duração de 3 meses, ocorrendo durante os primeiros 6 meses de uma doença psicótica crônica, seria mudado para Esquizofrenia se os sintomas psicóticos ativos ou residuais proeminentes persistissem por vários anos sem a recorrência de outro episódio de humor). O diagnóstico também pode mudar para episódios diferentes da doença separados por um período de recuperação. Por exemplo, um indivíduo pode ter um episódio de [284]sintomas psicóticos que satisfazem o Critério A para Esquizofrenia durante um Episódio Depressivo Maior, recuperar-se completamente deste episódio e, mais tarde, desenvolver 6 semanas de delírios e alucinações sem sintomas proeminentes de humor. O diagnóstico, neste caso, não é Transtorno Esquizoafetivo, porque o período de delírios e alucinações não foi contínuo ao período inicial da perturbação. Ao invés disso, os diagnósticos apropriados são, para o primeiro episódio, Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos, Em Remissão Completa, e Transtorno Esquizofreniforme (Provisório) para o episódio atual. Perturbações do humor, especialmente depressão, em geral se desenvolvem durante o curso de um Transtorno Delirante. Entretanto, essas apresentações não satisfazem os critérios para Transtorno Esquizoafetivo, porque os sintomas psicóticos no Transtorno Delirante são restritos a delírios não-bizarros e, portanto, não satisfazem o Critério A para Transtorno Esquizoafetivo. Quando existem informações insuficientes envolvendo a relação entre os sintomas psicóticos e de humor, Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação pode ser o diagnóstico mais apropriado.
Critérios Diagnósticos para F25.x - 295.70 Transtorno Esquizoafetivo
A. Um período de doença ininterrupto durante o qual, em algum momento, existe um Episódio Depressivo Maior, um Episódio Maníaco ou um Episódio Misto, concomitante com sintomas que satisfazem o Critério A para Esquizofrenia.
Nota: O Episódio Depressivo Maior deve incluir o Critério A1: humor deprimido.
B. Durante o mesmo período de doença, ocorreram delírios ou alucinações por pelo menos 2 semanas, na ausência de sintomas proeminentes de humor.
C. Os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes por uma porção substancial da duração total dos períodos ativo e residual da doença.
D. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou a uma condição médica geral.
Especificar tipo:
Tipo Bipolar: se a perturbação inclui um Episódio Maníaco ou Misto (ou um Episódio Maníaco ou Misto e Episódios Depressivos Maiores). Tipo Depressivo: se a perturbação apenas inclui Episódios Depressivos Maiores.

F22.0 - 297.1 - Transtorno Delirante
     DSM.IV

Características Diagnósticas
          A característica essencial do Transtorno Delirante é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês (Critério A). Um diagnóstico de Transtorno Delirante não é dado se o indivíduo já apresentou um quadro sintomático que satisfazia o Critério A para Esquizofrenia (Critério B). Alucinações auditivas ou visuais, se presentes, não são proeminentes. Alucinações táteis ou olfativas podem estar presentes (e ser proeminentes), se relacionadas ao tema do delírio (por ex., sensação de estar infestado com insetos, associada com delírios de infestação, ou a percepção de emitir odor fétido por um orifício corporal, associada com delírios de referência). Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro (Critério C). Se episódios de humor ocorrem concomitantemente com os delírios, sua duração total é relativamente breve, comparada com a duração total dos períodos delirantes (Critério D). Os delírios não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., cocaína) ou uma condição médica geral (por ex., doença de Alzheimer, lúpus eritematoso sistêmico) (Critério E). Embora seja especialmente importante determinar se os delírios são bizarros para a distinção entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia, este caráter bizarro pode ser difícil de julgar, especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros quando claramente implausíveis, incompreensíveis e não extraídos de experiências comuns da vida (por ex., a crença de um indivíduo de que um estranho retirou seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra pessoa sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos). Em comparação, os delírios não-bizarros envolvem situações que poderiam concebivelmente ocorrer (por ex., ser seguido, envenenado, infectado, amado à distância ou traído pelo cônjuge ou parceiro romântico). O funcionamento psicossocial é variável. Alguns indivíduos podem parecer relativamente intactos em seus papéis interpessoais e ocupacionais. Em outros, o prejuízo pode ser substancial e incluir baixo ou nenhum funcionamento ocupacional e isolamento social. Quando um fraco funcionamento psicossocial está presente no Transtorno Delirante, ele decorre diretamente das próprias crenças delirantes. Por exemplo, um indivíduo convencido de que será assassinado por "criminosos da Máfia" pode abandonar seu emprego e se recusar a sair de casa, exceto tarde da noite e apenas usando roupas diferentes de seus trajes habituais. Todo este comportamento é uma tentativa compreensível de evitar ser identificado e morto por seus supostos assassinos. Em comparação, o fraco funcionamento na Esquizofrenia pode ser devido a sintomas tanto positivos quanto negativos (particularmente avolição). Similarmente, uma característica comum em indivíduos com Transtorno Delirante é a aparente normalidade de seu comportamento e aparência quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou postas em prática. Em geral, o funcionamentos social e conjugal estão mais propensos a sofrer prejuízos do que os funcionamentos intelectual e ocupacional.
Subtipos
          O tipo de Transtorno Delirante pode ser especificado com base no tema delirante predominante:
Tipo Erotomaníaco. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a ser amado por outra pessoa. O delírio freqüentemente envolve um amor romântico e união espiritual idealizada, ao invés de atração sexual. A pessoa sobre a qual esta convicção é mantida geralmente detém uma posição social superior (por ex., uma pessoa famosa ou um superior no trabalho), mas pode ser um completo estranho. Os esforços para contatar o objeto do delírio (por telefonemas, cartas, presentes, visitas ou até mesmo vigilância) são comuns, embora ocasionalmente a pessoa mantenha seu delírio em segredo. A maioria dos indivíduos com este subtipo em amostras clínicas consiste de mulheres; a maior parte dos indivíduos com este subtipo em amostras forenses são homens. Algumas das pessoas com o Tipo Erotomaníaco, particularmente os homens, entram em conflito com a lei em seus esforços no sentido de alcançar o objeto de seu delírio ou em tentativas desencaminhadas de "salvá-lo" de algum perigo imaginário.
Tipo Grandioso. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (irreconhecido) ou conhecimento ou de ser o autor de alguma descoberta importante. Com menor freqüência, o indivíduo pode ter o delírio de possuir um relacionamento especial com uma pessoa importante (por ex., de servir de consultor para o Presidente) ou de ser uma pessoa importante (sendo que neste caso a pessoa real pode ser considerada uma impostora). Os delírios grandiosos podem ter um conteúdo religioso (por ex., a pessoa acredita ter uma mensagem especial oferecida por uma divindade).
Tipo Ciumento. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. Esta crença é injustificada e está baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (por ex., roupas em desalinho ou manchas nos lençóis), que são colecionadas e usadas para justificar o delírio. O indivíduo com o delírio geralmente confronta seu cônjuge ou parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginada (por ex., restringindo a autonomia do cônjuge ou parceiro, seguindo-o em segredo, investigando o amante imaginário ou agredindo o parceiro).
Tipo Persecutório. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas, estar sendo alvo de comentários maliciosos, de assédio ou obstruído em sua busca de objetivos de longo prazo. Pequenos deslizes podem ser exagerados e se tornar o foco de um sistema delirante. O foco do delírio freqüentemente se concentra em alguma injustiça que deve ser remediada pela ação legal ("paranóia querelante"), podendo a pessoa afetada envolver-se em repetidas tentativas de obter satisfação, apelando aos tribunais e outras agências governamentais. Os indivíduos com delírios persecutórios com freqüência sentem ressentimento e raiva, podendo recorrer à violência contra aqueles que supostamente os estão prejudicando.
Tipo Somático. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Os delírios somáticos podem ocorrer de diversas formas. Os mais comuns envolvem a convicção de estar emitindo odor fétido através da pele, boca, reto ou vagina, de estar infestado com insetos sobre ou sob a pele, de abrigar um parasito interno; de que certas partes do corpo são (contrariamente a todas as evidências) malformadas ou feias, ou de que certas partes do corpo (por ex., o intestino grosso) não estão funcionando.
Tipo Misto. Este subtipo aplica-se quando não há predomínio de qualquer tema delirante.
Tipo Inespecificado. Este subtipo aplica-se quando a crença dominante no delírio não pode ser claramente determinada ou não está descrita entre os tipos específicos (por ex., delírios de referência sem um componente persecutório ou grandioso proeminente).
Características e Transtornos Associados
          Problemas sociais, conjugais ou profissionais podem resultar das crenças delirantes do Transtorno Delirante. Idéias de referência (por ex., de que eventos aleatórios têm uma importância especial) são comuns em indivíduos com este transtorno. A interpretação desses eventos geralmente é consistente com o conteúdo de suas crenças delirantes. Muitos indivíduos com Transtorno Delirante desenvolvem um humor irritável ou disfórico, que habitualmente pode ser compreendido com uma reação às suas crenças delirantes. Especialmente com os Tipos Persecutório e Ciumento, podem ocorrer acentuada raiva e comportamento violento. O indivíduo pode envolver-se em um comportamento litigioso, ocasionalmente levando a centenas de cartas de protesto a órgãos governamentais ou legais e muitas aparições em tribunais. Dificuldades legais podem ocorrer no Transtorno Delirante, Tipo Ciumento e Tipo Erotomaníaco. Os indivíduos com Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem submeter-se a exames e procedimentos médicos desnecessários. Deficiência auditiva, severos estressores psicossociais (por ex., imigração) e baixa situação sócio-econômica podem predispor um indivíduo ao desenvolvimento de Transtorno Delirante. A ocorrência de Episódios Depressivos Maiores provavelmente é maior em indivíduos com Transtorno Delirante do que na população geral. Tipicamente, a depressão é relativamente leve e começa após o início das crenças delirantes proeminentes. O Transtorno Delirante pode estar associado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Dismórfico Corporal e Transtornos da Personalidade Paranóide, Esquizóide ou Esquiva.
Características Específicas à Cultura e ao Gênero
          A bagagem cultural e religiosa de um indivíduo deve ser levada em conta na avaliação da possível presença de Transtorno Delirante. Algumas culturas têm crenças amplamente mantidas e culturalmente aceitas, que poderiam ser consideradas delirantes em outros contextos. O conteúdo dos delírios também varia entre diferentes culturas e subculturas. O Transtorno Delirante, Tipo Ciumento, provavelmente é mais comum em homens do que em mulheres, mas não parece haver uma grande diferença entre os gêneros na freqüência do Transtorno Delirante em geral.
Prevalência
          O Transtorno Delirante é relativamente incomum nos contextos clínicos, e a maioria dos estudos sugere que o transtorno responde por 1-2% das baixas nos sistemas de internação em saúde mental. Ainda há informações precisas insuficientes sobre a prevalência deste transtorno na população, mas a melhor estimativa situa-se em torno de 0,03%. Em vista de sua idade de aparecimento geralmente tardia, o risco de morbidade durante a vida pode estar entre 0,05 e 0,1%.
Curso
          O início do Transtorno Delirante em geral se situa na fase intermediária ou tardia da idade adulta, mas pode ocorrer antes. O Tipo Persecutório é o subtipo mais comum. O curso é bastante variável. Especialmente no caso do Tipo Persecutório, o transtorno pode ser crônico, embora freqüentemente ocorram períodos de preocupação maior ou menor com as crenças delirantes. Em outros casos, períodos de remissão completa podem ser seguidos por recaídas. Em outros casos, ainda, o transtorno apresenta remissão em alguns meses, sem recaída subseqüente. Algumas evidências sugerem que o Tipo Ciumento pode ter um prognóstico melhor do que o Tipo Persecutório.
Padrão Familial
          Alguns estudos constataram que o Transtorno Delirante é mais comum entre parentes de indivíduos com Esquizofrenia do que seria esperado do mero acaso, enquanto outros estudos não encontraram qualquer relação entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia. Existem algumas evidências de que o Transtorno da Personalidade Esquiva e o Transtorno da Personalidade Paranóide podem ser especialmente comuns entre parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Delirante.
Diagnóstico Diferencial
          O diagnóstico de Transtorno Delirante é feito apenas quando o delírio não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. Um delirium, uma demência e um Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral podem apresentar sintomas que lembram o Transtorno Delirante. Por exemplo, delírios simples de perseguição (por ex., "alguém entra em meu quarto à noite e rouba minhas roupas") na fase inicial da Demência do Tipo Alzheimer seriam diagnosticados como Demência [288]do Tipo Alzheimer, Com Delírios. Um Transtorno Psicótico Induzido por Substância, especialmente devido a estimulantes como anfetamina e cocaína, pode ter sintomatologia idêntica ao Transtorno Delirante, mas geralmente pode ser diferenciado pela relação cronológica entre o uso da substância e o início ou a remissão das crenças delirantes. O Transtorno Delirante pode ser diferenciado da Esquizofrenia e do Transtorno Esquizofreniforme pela ausência de outros sintomas característicos da fase ativa da Esquizofrenia (por ex., alucinações auditivas ou visuais proeminentes, delírios bizarros, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Comparado com a Esquizofrenia, o Transtorno Delirante em geral produz menos prejuízo nos funcionamentos ocupacional e social. Pode ser difícil distinguir entre Transtornos do Humor com Aspectos Psicóticos e Transtorno Delirante, uma vez que os aspectos psicóticos associados com os Transtornos do Humor geralmente envolvem delírios não-bizarros sem alucinações proeminentes. A distinção depende do relacionamento temporal entre a perturbação de humor e os delírios e da gravidade dos sintomas de humor. Se os delírios ocorrem exclusivamente durante episódios de humor, o diagnóstico é de Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos. Embora os sintomas depressivos sejam comuns no Transtorno Delirante, eles geralmente são leves e apresentam remissão, ao passo que os sintomas delirantes persistem, e não indicam um diagnóstico separado de Transtorno do Humor. Ocasionalmente, sintomas de humor que satisfazem todos os critérios para um episódio de humor são sobrepostos à perturbação delirante. Se os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes por uma porção substancial da perturbação delirante (isto é, o equivalente delirante do Transtorno Esquizoafetivo), então se aplica um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação, acompanhado por Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação ou Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação. Os indivíduos com Transtorno Psicótico Compartilhado podem apresentar sintomas similares àqueles vistos no Transtorno Delirante, mas a perturbação tem etiologia e curso característicos. No Transtorno Psicótico Compartilhado, os delírios surgem no contexto de um estreito relacionamento com outra pessoa, sua forma é idêntica aos delírios da outra pessoa, e diminuem ou desaparecem quando o indivíduo com Transtorno Psicótico Compartilhado é separado do indivíduo com o Transtorno Psicótico primário. O Transtorno Psicótico Breve é diferenciado do Transtorno Delirante pelo fato de os sintomas delirantes, no Transtorno Psicótico Breve, durarem menos de 1 mês. Um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação pode ser feito quando não há informações suficientes disponíveis para selecionar entre Transtorno Delirante e outros Transtornos Psicóticos, ou para determinar se os sintomas apresentados são induzidos por uma substância ou resultam de uma condição médica geral. Pode ser difícil diferenciar a Hipocondria (especialmente Com Insight Pobre) do Transtorno Delirante. Na Hipocondria, os temores de ter uma doença grave ou a preocupação acerca de ter uma doença séria são mantidos com uma intensidade que não chega a ser delirante (isto é, o indivíduo consegue admitir a possibilidade de que a doença temida não está presente). O Transtorno Dismórfico Corporal envolve uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência. Muitos indivíduos com este transtorno mantêm crenças com uma intensidade que não chega a ser delirante e reconhecem que sua impressão sobre a própria aparência é distorcida. Uma parcela significativa dos indivíduos cujos sintomas satisfazem os critérios para Transtorno Dismórfico Corporal, entretanto, mantém suas crenças com intensidade delirante. Quando os critérios para ambos os transtornos são satisfeitos, tanto Transtorno Dismórfico Corporal quanto Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem ser diagnosticados. Os limites entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (especialmente Com Insight Pobre) e Transtorno Delirante às vezes podem não ser claros. A capacidade dos indivíduos com Transtorno Obsessivo-Compulsivo de reconhecer que as obsessões e compulsões são excessivas ou irracionais ocorre em uma linha contínua. Em alguns indivíduos, o teste de realidade pode ter-se perdido, podendo a obsessão alcançar proporções delirantes (por ex., a crença de ter causado a morte de alguém por tê-la desejado). Se as obsessões progridem para crenças delirantes persistentes que representam um papel importante no quadro clínico, pode-se aplicar um diagnóstico adicional de Transtorno Delirante. Em comparação com o Transtorno Delirante, não existem crenças delirantes definidas ou persistentes no Transtorno da Personalidade Paranóide. Sempre que uma pessoa com um Transtorno Delirante tem um Transtorno da Personalidade preexistente, o Transtorno da Personalidade deve ser anotado no Eixo II, seguido pela expressão "Pré-mórbido", entre parênteses.
Critérios Diagnósticos para F22.0 - 297.1 Transtorno Delirante
A. Delírios não-bizarros (isto é, envolvendo situações que ocorrem na vida real, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância, traído por cônjuge ou parceiro romântico ou ter uma doença) com duração mínima de 1 mês.
B. O critério A para Esquizofrenia jamais foi satisfeito.
Nota: alucinações táteis e olfativas podem estar presentes no Transtorno Delirante, se relacionadas ao tema dos delírios.
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.
D. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.
Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s): Tipo Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo. Tipo Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa. Tipo Ciumento: delírios de que o parceiro sexual do indivíduo é infiel. Tipo Persecutório: delírios de que o indivíduo (ou alguém chegado a ele) está sendo, de algum modo, maldosamente tratado. Tipo Somático: delírios de que a pessoa tem algum defeito físico ou condição médica geral.