domingo, 22 de janeiro de 2012

FOBIA SOCIAL ou TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL




Na fobia social a pessoa se sente ansiosa em "situações sociais", quando pode estar sendo observada pelos outros. A pessoa fica insegura, temendo pelo seu desempenho e preocupada com o que poderão pensar dela naquele estado. O grau de ansiedade pode ser muito intenso,  podendo chegar a uma crise de pânico.

As situações sociais temidas podem ser variadas, como escrever na frente dos outros, falar em público, comer em lugares públicos, entrar em lugares cheios, ir a uma festa, fazer uma entrevista de emprego, conversar etc.

O Transtorno de Ansiedade Social pode ser classificado em dois subtipos. Um subtipo  denominado generalizado, na qual a pessoa teme quase todas as situações sociais: conversar, namorar, sair em lugares públicos, falar, comer, escrever em público, etc
E um subtipo denominado não generalizado, ou restrito, no qual a pessoa teme uma ou poucas situações sociais específicas.

Durante a situação social a ansiedade tende a persistir levando a pessoa a ter que suportar níveis altos de sofrimento. Quando sai da situação, a ansiedade tende a diminuir significativamente, o que reforça tendências de fuga e evitação de novas situações. A expectativa de viver um evento social pode ativar ansiedade e levar a pessoa a evitar as situações sociais temidas. Este comportamento de evitação tende a ir limitando a vida da pessoa.

A fobia social se diferencia da timidez comum pelo grau de intensidade da ansiedade gerada antes e durante a situação social e pelo grau de prejuízos que traz à vida da pessoa, com comprometimentos que podem alcançar a esfera profissional, escolar e social. Poderia ser chamada de "timidez patológica".

Pelo caráter pouco conhecido do transtorno muitas pessoas só procuram ajuda quando seu quadro está associado a outros problemas. A fobia social tende a abalar a auto-estima da pessoa e pode contribuir para o desenvolvimento de depressão, abuso de álcool e drogas e outros quadros ansiosos.

A Fobia Social é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um transtorno psicológico. As pesquisas indicam que entre 4 e 12% de pessoas vão apresentar transtorno de ansiedade social em algum momento de suas vidas.

SINTOMAS

Numa situação social temida a pessoa com fobia social apresenta sintomas de ansiedade e sintomas situacionais.

Os sintomas de ansiedade podem incluir palpitações, falta de ar, tontura, sensação de desmaio, enrubescimento, suor, etc.

Os sintomas situacionais podem variar como: tremer e não conseguir escrever, gaguejar, travar a garganta e não conseguir engolir, sentir vontade de ir ao banheiro, dar um branco e não lembrar de algo importante, etc. Estas reações produzem forte insegurança, levando a pessoa a duvidar de sua capacidade de conseguir desempenhar aquela função social.

É comum que a pessoa comece a temer antecipadamente sentir-se mal nas situações, o que dispara uma ansiedade antecipatória forte. Há um medo de se sentir embaraçado, inadequado e não se sair bem na situação. A dúvida e a incerteza produzem insegurança e ansiedade. Uma das conseqüências é a pessoa começar a evitar situações em que ela imagina que poderá passar mal, o que vai restringindo sua vida.

Uma das fantasias comuns é que os outros estão percebendo que ela está passando mal, percebendo sintomas como tremor, suor, rubor na face, alteração da voz, etc. Assim a pessoa vai ficando cada vez mais insegura e ansiosa, o que vai aumentando seus sintomas. Mesmo que ninguém esteja objetivamente olhando ou avaliando a pessoa, ela sofre com o pensamento de estar sendo observada, com receio que possam ver como ela está ansiosa, desajeitada, etc.

A análise psicológica costuma demonstrar que a pessoa com fobia social tende a colocar muita importância na opinião dos outros. É como se a pessoa estivesse des-centrada, como se o centro de sua consciência estivesse no olhar do outro e ela se olhasse a partir de fora. Há muita energia psicológica neste olhar de fora. É necessário trazer a pessoa de volta, para o seu centro interno.

TRATAMENTO

O tratamento psicológico da fobia social foca alguns pontos principais:

1 Ensinar a pessoa técnicas de autogerenciamento para aprender a regular o grau de ansiedade na situação. Este aprendizado diminui o impacto das reações de ansiedade, que minam o sentimento de segurança na situação. Desenvolve também o autocentramento, importante para a pessoa se sentir mais segura. Neste processo utilizamos métodos de autogerenciamento como o Método dos Cinco Passos, Técnicas de Relaxamento, trabalhos oculares para desenvolver a atenção, autocentramento e presença, técnicas de controle respiratório etc. Conforme a pessoa vai sendo capaz de regular sua ansiedade, aumenta seu sentimento de confiança. 

2 Identificar e trabalhar com as distorções cognitivas que levam a pessoa a se sentir mais ansiosa. Há uma série de pensamentos que tendem a ficar distorcidos e exagerados, quando a pessoa, por exemplo, sente ser o centro da atenção (quando não é), imagina que estão olhando criticamente para ela (quando não estão), acha que os outros estão percebendo claramente seu estado interno (quando não estão), imagina que a ansiedade destruirá sua performance (quando poderia ter boa performance mesmo estando ansiosa) e prevê consequências catastróficas para a situação, exagerando os riscos de sua ansiedade. Aprender a identificar e avaliar objetivamente estes pensamentos ajuda a pessoa a construir uma perspectiva mais clara da situação, funcionando como um regulador da ansiedade.

3 Perder o medo da reação de ansiedade nas situações sociais. Na situação social, a pessoa teme ficar ansiosa e não saber como lidar com este estado e as consequências que ela imagina que poderiam advir. É importante perder o medo das reações de ansiedade e aprender como é possível ter um bom desempenho social com graus variados de ansiedade. Nesta etapa de utilizamos técnicas de exposição gradual com o auxílio do Role Playing, recriando situações temidas, além de exposição interoceptiva e exposição real.

4 Identificar e trabalhar as influências dos eventos e experiências de vida que podem ter contribuído para o desenvolvimento da fobia social. Como o sofrimento ocorre em situações sociais, seu desenvolvimento sofre direta influência das experiências anteriores de relacionamentos interpessoais e dos eventos que podem ter abalado a segurança da pessoa nos ambientes sociais. É comum, por exemplo, a pessoa se imaginar sendo observada por "alguém crítico”. Este “outro crítico” pode derivar da “projeção”, muitas vezes não consciente, de uma figura crítica da história de vida da pessoa. Pode ocorrer também a projeção de auto-críticas que a própria pessoa se faz e não assume. Durante o tratamento podem emergir memórias de situações sociais constrangedoras que a pessoa não se lembrava mais. Uma análise destes processos permite uma compreensão individualizada do caso e é fundamental para a superação deste estado de ansiedade social intensa.

Para a maioria dos casos de Fobia Social o tratamento psicológico especializado é suficiente, enquanto alguns casos mais severos se beneficiam de um tratamento conjugado de atendimento psicológico e medicação.

Sintetizando, um tratamento psicológico eficaz da fobia social inclui:

(1) aprendizado de autogerenciamento e autocentramento

(2) trabalho com as distorções cognitivas

(3) desensibilização gradual

(4) identificação e elaboração de experiências anteriores relacionadas à ansiedade social