sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Marcas emocionais

MARCAS EMOCIONAIS
"Antônio  teve várias perdas na vida, muitas decepções e muitos sofrimentos no passado. Tenho cicatrizes na alma e não creio nas pessoas. Isso me traz peso e dor. Como ser feliz com tudo isso? 
Alguns chamam os traumas de cicatrizes. Quando nosso corpo sofre um ferimento, um corte, por exemplo, no rosto, ele forma um tecido mais forte e mais espesso do que a carne. É um recurso da natureza com a finalidade de nos proteger contra novos ferimentos naquele lugar. É a cicatriz. Tendemos a fazer coisa semelhante quando sofremos um ferimento emocional. Quando alguém nos magoa, ou a vida nos impõe algum sofrimento, criamos uma autoproteção, tornando-nos mais calejados, mais duros e indiferentes com relação ao mundo.
Se, de um lado, a cicatriz é uma forma encontrada pela natureza para nos auxiliar, por outro lado, pode se tornar repulsiva, nos envergonhar e prejudicar. Lembro-me perfeitamente do constrangimento de um conhecido, marcado por enormes cicatrizes no rosto após um acidente de carro. E isso o afastou durante muito tempo das pessoas.
No campo emocional o mesmo acontece. Pessoas que foram feridas psicologicamente no passado por alguém, para se protegerem contra novas dores daquela mesma fonte, formam enormes cicatrizes, comumente chamadas de mágoa ou ressentimento. Essa proteção, no entanto, não defende apenas de quem as feriu anteriormente, mas de todas as pessoas. Pessoas muito formais e muito sérias criam uma couraça para não sofrer. È muito comum uma mulher traída e machucada por um homem não querer confiar em nenhum outro homem. Crianças castigadas por pais autoritários ou professores cruéis podem ter problemas e desconfiança com relação a qualquer autoridade.
O leitor acima afirma não crer em ninguém. A visão que muitos homens têm das mulheres reflete alguma rejeição de uma mulher em algum momento de sua vida. As cicatrizes emocionais ou o apego ao passado forma, ainda, uma auto-imagem desfigurada tal qual as marcas do acidente no rosto do meu amigo.
Uma das características de uma pessoa feliz é a auto-imagem positiva que ela faz de si mesmo. A pessoa se vê como alguém de valor que deva ser apreciada pelos outros. Outro nome para isso é auto-estima elevada. Ela se sente identificada com as demais pessoas. As cicatrizes emocionais nos levam a ver o mundo como hostil e a relação com as pessoas, por conseqüência, é baseada no desejo de superá-las, de combatê-las e se proteger contra elas.
Como nos proteger da feridas emocionais? Primeiramente, distinguindo sensibilidade de sensitividade. Há pessoas que em nome de uma extrema sensibilidade se magoam à toa. Pessoas que se ofendem com facilidade são as que menos auto-estima possuem. É impossível viver numa sociedade como a nossa sem sermos criticados, ofendidos, magoados ou humilhados de vez em quando. Nosso egocentrismo e vaidade nos fazem muito preocupados conosco mesmos, a nos levarmos muito a sério e a muitas dores desnecessárias.
Em segundo lugar, aumentando a autoconfiança.Quanto mais dependentes emocionalmente dos outros, mais vulneráveis às feridas emocionais. Todos nós precisamos de amor e afeto. A pessoa confiante em si mesma sente necessidade também de dar amor. Procurar dar afeto, aprovação, compreensão a outras pessoas nos imuniza, de certa forma contra as críticas e ofensas de outros. A postura passiva de ser compreendido nos fragiliza.
Em terceiro lugar, aumentando nossa capacidade de relaxamento corporal. Tenho alguns amigos cirurgiões plásticos. Uma vez perguntei a um deles por que não havia cicatrizes quando o especialista em plástica fazia um corte em alguém. A resposta que ele me deu é que quando cortamos, por exemplo, o rosto e este cicatriza naturalmente, a cicatriz aparece porque há tensão no ferimento e abaixo dele, criando uma lacuna que é preenchida pelo tecido cicatricial. O cirurgião, quando opera, une bem a pele e ainda corta uma pequena quantidade de carne sob a pele, eliminando a tensão. O corte se cura suavemente, sem cicatriz. A reação ao ferimento emocional. A reação ao ferimento emocional é a tensão. "Não importa o que fazem comigo, importa o que eu faço com o que fazem comigo".
O relaxamento físico inspira o relaxamento emocional e nos leva a absorver com mais suavidade os ferimentos. E para as cicatrizes emocionais já existentes? Só existe uma saída. Removê-las através do perdão. A dificuldade do leitor acima de perdoar aqueles que o magoaram no passado, bem como de se perdoar é porque ele tem, embora não o saiba, uma perversa satisfação em acalentar suas mágoas. Enquanto ele condena o passado, as pessoas e a vida, ele se sente superior, especial, importante. A vida hoje é extremamente mais vasta do que todo o seu passado. Fiz um enorme esforço para sentir pena dele, mas graças a Deus, não consegui.