sábado, 24 de março de 2012

O tema obsessão amorosa

Resumo: O tema obsessão amorosa é muito discutido na mídia da atualidade, contudo não é uma novidade, a primeira vez foi divulgada, em 1761, por John D. Moore em seu livro, confundindo amor com obsessão (Confusing Love With Obsession); Através de uma revisão de literatura, e sob uma ótica psicanalítica, este artigo, procurou analisar a obsessão amorosa dentro da psicanálise, destacando seus sintomas, causas e possíveis tratamentos, tendo como publico alvo às mulheres.
Palavras-chave: Obsessão Amorosa. Fases Psicossexuais. Neurose Histérica
Summary: The theme of love addiction is much discussed in the media today, however is not new, the first was published in 1761 by John D. Moore in his book, confusing love with obsession (Confusing Love With Obsession) Through a literature review, and under a psychoanalytic perspective, this article attempts to analyze the love addiction within psychoanalysis, highlighting its symptoms, causes and possible treatments, having as a target audience of women.
Keywords
: Obsession Amorosa. Psychosexual stages. Hysterical neurosis.

INTRODUÇÃO

O conceito de personalidade ainda é algo em construção, embora se tenha várias definições a respeito desta, há quem defina personalidade como a eficiência que um indivíduo tem para produzir reações positivas nas pessoas, outras avaliam personalidade como a impressão que o indivíduo causa nas outras, e há os que defendem que personalidade é o conjunto de características internas que causam um comportamento e que é proveniente de experiências individuais de cada um.
De forma geral, esse artigo veio caracterizar a obsessão amorosa, segundo o viés psicanalítico, em diferentes épocas, há começar por Freud o fundador da psicanálise, até os psicanalistas atuais, mas sempre retomando os conceitos para Freud; para tanto esse artigo foi elaborado com base em pesquisas feitas a partir de documentos já publicados, como artigo, livros, internet, periódicos na Universidade Estadual do Piauí. Com intuito de facilitar tal compreensão sobre o assunto
Esta pesquisa tem um grande interesse social devido à quantidade de casos existentes e a popularização do assunto devido à evidenciação da mídia onde a população tomou consciência de que às vezes, amar exageradamente pode sim ser uma doença e com isto houve um aumento considerável de pessoas procurando ajuda por identificarem-se com as características deste transtorno.
Os benefícios dessa pesquisa são esclarecer a população sobre o conceito de obsessão amorosa, fatores desencadeantes, diferenciar a neurose obsessiva da neurose histérica, quais suas características e as formas de tratamento dentro do contexto psicanalítico.

1. Personalidade

O ser humano desenvolve-se em um meio sócio – cultural, e é nesse meio que ele vai desenvolver sua personalidade. Personalidade essa que no começo da vida do indivíduo será aprendida mais com o passar do tempo ela será moldada pelo próprio sujeito. Teóricos de várias abordagens psicológicas deram suas colaborações para a formação de um conceito para a personalidade, porém ainda não se definiu um conceito exato para a personalidade, já que esta é muito abrangente. Gardner conceitua personalidade como sendo a eficiência em produzir reações positivas em diversas pessoas e em diferentes situações; mais também a impressão que o indivíduo causa em outras pessoas, podendo-se falar em “personalidade agressiva”, “personalidade passiva” e “personalidade tímida”. (HALL E LINDZEY, 2000).
O conceito formulado por Gardner é mais um dos mais populares, devido ao conteúdo, pois consegue conceituar de uma forma simples e ao mesmo tempo totalizadora.
Alport classifica o conceito de personalidade segundo uma concepção biossocial e biofísica: o biossocial corresponde ao conceito de popular, onde a personalidade é entendida em termos de importância social, um exemplo é quando se diz que o indivíduo é caridoso; já a concepção biofísica, a personalidade apresenta um aspecto aparente e pode estar ligada a qualidades específicas do indivíduo, um exemplo é dizer que o sujeito é alegre. (ALPORT, 1966).
Pode-se entender personalidade como sendo um conjunto de características que são constituídas de acordo com o meio social e as experiências de cada um; é o que ordena o comportamento do indivíduo; pode ser definida como um conjunto de características psicológicas que determinam a forma de pensar e agir do indivíduo.
A formação da personalidade é particular de cada um. Ha várias teorias psicológicas que explicam a personalidade, dentre elas estão à psicanálise, a gestalt terapia, o humanismo e o behaviorismo. Para a Freud a personalidade forma-se aos quatro ou cinco anos já para Piaget, ela começa a se formar somente entre os oito e doze anos de idade.

2. Estrutura da personalidade

Segundo Freud, a personalidade é composta por três estruturas, sendo elas: id (isso), ego (eu), superego (super-eu). Cada estrutura possui sua função e juntas integram e contribuem para o perfeito funcionamento do aparelho psíquico, sendo assim, não há uma estrutura mais importante que a outra. (CALVIN, 2000)
O id é o sistema original da personalidade e é formado pelos impulsos herdados desde o nascimento, inclusive os instintos, sendo assim ele não tem noção da realidade objetiva. O id não tolera aumento de energias e por isso é regido pelo princípio do prazer, princípio este, que busca manter um nível de conforto constante e uma baixa energia e entra em ação sempre que o id está em desconforto devido ao aumento de tensão. (HALL & LINDZEY, 2000).
O ego é regido através do Principio da realidade e opera através da função secundária; ele é a parte racional da personalidade, é ele quem controla quais os instintos serão satisfeitos e de que forma serão satisfeitos. Seu papel principal é o de intermediário entre as exigências pulsionais do organismo e as condições do ambiente. Seus objetivos consistem em manter a vida do indivíduo e garantir a reprodução da espécie. (HALL & LINDZEY, 2000).
Para Jung o ego é o centro da consciência; ele fornece um sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes e contrapõem-se a qualquer coisa que ameace essa consistência. Somos levados a crer que o ego é o elemento central de toda psique e chegamos a ignorar sua outra metade, o inconsciente. (NICOLAU, 2007)
O superego funciona como uma “arma moral” da personalidade, nele estão contidos os padrões morais da sociedade, sendo assim, tem como uma de suas principais funções a preocupação em decidir se alguma coisa é certa ou errada, ele luta constantemente contra os desejos impróprios e procura sempre a perfeição.
Hall e Lindzey afirmam em seu livro:
As principais funções do superego são inibir os impulsos do id, particularmente os de natureza sexual e agressiva; e persuadir o ego a substituir os alvos moralistas por alvos realistas; e por fim ele dizia que o superego tinha por função lutar pela perfeição, ele faz do mundo o reflexo de sua imagem. Ao contrário do ego o superego não somente adia a gratificação do instinto, mas ele tenta bloqueá-lo permanentemente. (HALL & LINDZEY, 2000, p.28)

3. Desenvolvimento psicossexual

O desenvolvimento psicossexual do indivíduo é para Freud o padrão de desenvolvimento possui caráter universal e necessário no desenvolvimento da saúde mental.
Segundo Freud, os estágios psicossexuais são divididos em quatro fases: fase oral, fase anal, fase fálica e a fase genital; os três primeiros estágios psicossexuais acontecem nos primeiros cinco anos de vida, depois acontece o chamado período de latência, onde há uma estabilidade (onde nada acontece) após esse período, na adolescência, começa outra fase, a genital, e essa percorre por toda a vida adulta. (HALL & LINDZEY, 2000)
Na fase oral, que ocorre em crianças recém-nascidas, todo prazer da criança encontra-se na cavidade oral, a priori para satisfazer a fome, mas depois o sugar torna-se uma satisfação sexual, um exemplo disso é quando a criança chupa chupeta, ela não satisfaz a fome, ela satisfaz o impulso sexual. (FREUD, 1905)
Para Gardner (2000) a fase oral é a fase onde comer é a principal fonte de prazer produzido pela boca, pois comer envolve estimulação tátil dos lábios e da cavidade oral, e quando ocorre o aparecimento dos dentes a boca é usada para comer e mastigar. E estes são os protótipos de muitos traços de caráter que podem aparecer mais tarde.
A segunda fase é a anal, que ocorre dos três aos quatro anos de idade, nessa fase o prazer sexual é levado para a região do ânus. Freud ainda subdividiu em duas fases; a primeira que é de expulsão, aonde o prazer vem da expulsão dos excrementos, e a segunda que é a de retenção, onde o prazer advém do acúmulo de fezes. (FREUD, 1905)
Para Hall e Lindzey (2000), quando a mãe é muito rigorosa e repressiva nos seus métodos, a criança pode reter as fezes e constipar-se. Em casos mais graves onde essa mãe tem esse comportamento com freqüência a constipação se generaliza provocando outras formas de conduta, a criança pode adquirir um caráter retentivo. Ela pode tornar-se obstinada e avarenta.
A terceira fase é a fálica, que vai dos três aos cinco anos de idade, nessa fase o prazer vem dos órgãos genitais; o menino possui a satisfação de possuir o pênis e por este a angustia da castração e a menina sofre pela inveja do pênis. (FREUD, 1905)
Para Hall e Lindzey (2000), na fase fálica ao mesmo tempo em que ocorre o desenvolvimento das sensações sexuais ocorre o aumento da agressividade associada ao funcionamento dos órgãos genitais, nessa fase que ocorre o prazer da masturbação, e um investimento sexual nos pais, o que resulta no complexo de Édipo.
Depois de passarem os três primeiros estágios, a criança passa pelo período de latência onde há uma luta constante contra a masturbação e as fantasias ligadas a esta, pois estas dão um sentimento de culpa. (HALL & LINDZEY, 2000)
A quarta fase é a chamada fase genital, que ocorre após o período de latência, nessa fase o adolescente começa a voltar a ter as fantasias sexuais e junto com ele o temor a castração. Nas meninas isso se torna ainda pior com achegada da menarca. A principal função biológica dessa fase é a reprodução. (HALL &LINDZEY, 2000)
Para Hall e Lindzey (2000), é na fase genital que vai se manifestar a atração sexual, a socialização, a atividade de grupo, o interesse profissional, a preparação para o casamento e a preocupação em constituir família; o objetivo desta fase é proporcionar estabilidade e segurança psicológica para o indivíduo.

4. Obsessão amorosa na psicanálise

A obsessão amorosa é um tipo de neurose histérica, também conhecida, como uma psiconeurose de defesa onde a pessoa afetada é totalmente dependente emocionalmente não de um parceiro, mas da relação obsessiva em si. O obsessivo amoroso, enxerga na pessoa amada um ideal de relacionamento que só existe para ele. Devido a isso, podemos pensar que a obsessão amorosa é diferente do amor em si. (LUCHESI, 2007).
Para Zimerman (1999) no início Sigmund Freud dividiu os transtornos emocionais, que ele então chamava de psiconeuroses, em três categorias psicopatológicas: as neuroses atuais, as neuroses narcisistas e as neuroses transferenciais, onde se enquadra a histeria; segundo ele:
A histeria é uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional e que tem seu início à partir de lembranças reprimidas que tem uma forte intensidade emocional, sendo que a lembrança desse trauma e sua catarse era o caminho para a cura. (ZIMERMAN, 1999, p.207-208)
Green (1974) destaca o aspecto defensivo da histeria, ele considera que esse caráter exibicionista e histriônico, comum do histérico, sobre tudo o protege contra seus núcleos depressivos, ou seja, por trás “dos escândalos” o histérico possui baixa auto-estima, é extremamente frágil e instável.
Uma característica da neurose histérica é o não controle do ego. A neurose histérica ocorre com mais freqüência nas mulheres, já que estas apresentam uma maior complicação no desenvolvimento sexual devido ao sentimento de inveja do pênis. O indivíduo histérico se fixou na fase fálica, mas com alguns componentes da fase oral.
Para Freud (1906) citado por Zimerman (1999), a histeria pode ser de dois tipos: conversiva – há sintomas físicos – e dissociativa – o estímulo é sentido de forma tão intensa que quebra a desfuncionalidade da mente, levando a pessoa a atos descoordenados da realidade. Percebe-se que a obsessão em si é uma doença que surge de uma de uma fixação da fase fálica, mas que o ambiente em que esta pessoa cresceu influencia muito.
Freitas (2008) diz:
As obsessões estão relacionadas à ansiedade criada em resposta a uma situação muito estressante, esmagadora e dolorosa. Uma frustração amorosa, uma família desestruturada, escola ou ambiente de trabalho nocivo ou ameaçador podem causar um excesso de ansiedade ou a pessoa pode ficar comprometida emocionalmente e tentar buscar uma saída para fugir desta realidade.
Devido às necessidades básicas de amor, assistência e aceitação que foram negados, a pessoa viaja para o mundo das obsessões para evitar a sensação de ansiedade e privação. A necessidade obsessiva cria mecanismos e estratégias para seduzir o outro, originando uma atração fatal que busca a possessão como forma de incluir o outro em sua própria vida, tentando o máximo de controle, pois a falta deste irá provoca intensa dor. (FREITAS, 2008)
O obsessivo amoroso tem uma preferência em ser amado ao invés de amar; torna-se uma pessoa altruísta, inconscientemente procura um parceiro pouco disponível e está disposto a mudá-lo através do seu amor. O obsessivo amoroso é dependente do parceiro e da dor emocional que esse amor lhe proporciona; ele enxerga um relacionamento ideal que só existe para ele. A pessoa que sofre de obsessão amorosa possui uma idéia fixa de poder e domínio sobre a outra pessoa, além de ter uma forte tendência a se fingir de vítima, necessitando assim de dó e de atenção. (MELO, 2008)
De acordo com a enciclopédia:
A palavra histeria é usada desde a antiguidade, por Hipócrates, e era usada para designar transtornos nervosos em mulheres que não haviam tido filhos. Em manuscritos egípcios muitos séculos antes de Hipócrates também apareceu uma doença identificável com o mesmo nome. No século XIX Charcot distinguiu a histeria da epilepsia, foi em aulas com Freud que ele percebeu que a histeria não era um fingimento e não se apresentava somente em mulheres, já Janet concebia a histeria como se tratando de uma diminuição da tensão psíquica que pode ser provocada por choques emocionais e recordações traumáticas. (WIKIPÉDIA, 1999).
Na histeria, as idéias reprimidas ficam inalteradas no inconsciente, mas mesmo assim provocam influência na personalidade do indivíduo. O complexo de Édipo juntamente com os impulsos provenientes da fixação da fase anal será a base para os sintomas da neurose obsessiva. O comportamento do neurótico obsessivo é contraditório, devido à mistura do complexo de Édipo com os impulsos anais tornando-os ora bondosos, ora cruéis. (ZIMERMAN, 1999)
Freud afirma que nas Neuroses Obsessivas, através dos sintomas, o Eu obtém uma satisfação narcísica. Os sintomas do neurótico obsessivo bajulam seu amor próprio, fazendo sentir-se melhor que outras pessoas, por se considerar mais limpo ou especialmente consciencioso. Tudo isto resulta no ganho proveniente da doença que se segue a uma neurose. Freud completa “A formação de sintomas assinala um triunfo que se consegue combinar a proibição com a satisfação... a fim de alcançar essa finalidade muitas vezes faz uso das trilhas associativas mais engenhosas” (FREUD, 1926, p.93-122).
Nas neuroses ocorre à fuga da realidade onde há uma idealização do objeto, por isso, o neurótico obsessivo se parece mais com o psicótico do que o histérico. Apesar da idealização, no fundo o individuo tem a consciência do que é verdadeiro e do que é falso
Para Zetzel (1968) existem quatro tipos de histerias: as “verdadeiras” ou “boas” histéricas, que atingem a condição de casar ter filhos com bom desempenho profissional e que se beneficiam com a psicanálise; outras também “verdadeiras” com casamentos complicados, geralmente com natureza sadomasoquística, que não conseguem manter por muito tempo um satisfatório compromisso com a análise; aquelas pacientes que manifestam sintomas histéricos, que lhes confere uma fachada de pessoas histéricas, mas que, na verdade, encobre uma subjacente condição bastante depressiva, sendo que essas pessoas não se completam em nenhuma área da vida; e as “pseudo-histerias” presentes em personalidades muito mais primitivas, sendo que a sua extrema instabilidade emocional justifica a antiga denominação “psicose histérica”.
O tratamento clínico para obsessão amorosa, num viés psicanalítico, vai depender do analista; Pois cada terapeuta tem sua forma de tratar desse transtorno, uns com a hipnose, outros com terapia.
Segundo Zimerman (1999, p. 213-214) diz que:
A atividade interpretativa do analista deve ficar centrada nos seguintes aspectos: usar a técnica de “confrontação”, levando o paciente a confrontar se há similaridade de como ele se vê o de como os outros os vêem; utilizar a técnica de uma imaginária “dramatização verbal”, onde a paciente troca de lugar, papel e função com outras pessoas do seu convívio; trabalhar com as funções conscientes do ego, ou seja,como ele percebe, pensa, discrimina e comunica seus sentimentos de amor e ódio.
Diante de todos os conceitos, eles trazem à tona a aprendizagem sobre o “Normal” e o patológico, tendo em vista o modelo que foi recebido da sociedade, da cultura, das instituições em que o indivíduo está inserido, porém o indivíduo tem a chance de refletir e tirar suas próprias conclusões a respeito da obsessão amorosa em si.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta pesquisa observa-se que a obsessão amorosa classifica-se como uma neurose histérica do tipo dissociativa e ocorre, por natureza, em maior freqüência nas mulheres sendo que as mulheres que cresceram em um ambiente disfuncional são mais propensas a desenvolver a obsessão.
As principais características, da obsessão amorosa, entre outras são: o sentimento de posse em relação ao outro, a idealização de um relacionamento que só existe para ele e a procura inconsciente de um parceiro emocionalmente indisponível. Por ser um tipo de histeria, a pessoa tenderá a sempre assumir o papel da vítima, o que implica a necessidade de receber a dó e complacência das outras pessoas
Conforme aprendemos com Freud, somos necessariamente seres sexuais, comandados por nossas pulsões sexuais; transferindo e liberando nossa libido, e variando inclusive nosso objeto de interesse ao longo da vida, estando ele dentro do “normal”, ou não.
Cabe então ao próprio indivíduo, dentro da sua sociedade, relacionar e discernir o normal do patológico, buscando ajuda profissional se necessário.